O Fim da Repetência nas Escolas

. 10 março 2011
No terceiro ano do Ensino Médio, quem deseja seguir uma carreira acadêmica se questiona: qual profissão quero exercer? O que eu quero me oferece dinheiro, sonho ou me faz viver financeiramente bem? Enfim, quem eu quero ser por toda vida, médico, advogado, professor?

Foi nessa época que decidi: serei professora. Isso porque a situação das escolas brasileiras, as públicas, ainda não estava tão grave. Nesse tempo, alunos não ‘preparados’ ainda eram reprovados. E o Ministério da Educação (MEC) ainda não recomendava às escolas de Ensino Fundamental brasileiras a não reprovarem seus alunos. Juro, acreditava que o Brasil era o país do futuro e que a Educação melhoraria. E ainda que o docente poderia mudar a configuração das escolas públicas do Brasil e que ele seria capaz de despertar o interesse dos alunos. Não precisa me dizer: eu sei, esqueci-me do sistema. Professores seguem escolas que, por sua vez, seguem sistemas.

E sabe qual a nova do sistema educacional brasileiro? Descobri ao folhear uma revista. Entre as páginas, uma manchete me chamou à atenção: “O fim da repetência”. No primeiro momento, imaginei: encontraram a solução para qualidade da educação brasileira. Entretanto, não precisei ler muito para perceber que na verdade, mais uma vez, encontraram uma forma de maquiar a imagem de uma educação de qualidade.

A notícia informava que, baseado em países que não reprovam alunos nas escolas particulares e públicas, como o Japão e França, o MEC resolveu criar uma diretriz que pretende abolir a repetência de alunos até o terceiro ano do Ensino Fundamental. Apesar de não ser instituída, ou seja, as escolas escolherão se adotam ou não essa diretriz, é no mínimo preocupante. Como é possível um Ministério de Educação criar uma diretriz tendo como espelho países como França e Japão?

É simples a resposta, é porque nesses dois países a taxa de repetência é nula. No caso do Japão, os índices de analfabetismo são inferiores a 1% e um terço dos alunos que terminam o segundo grau ingressa no ensino superior. E o Brasil? O Brasil é o país do futuro. E por isso, ainda é o país que mais reprova no mundo com vergonhosas taxas de 11%.

Enquanto isso, há ainda pessoas que creem que a reprovação é um erro. Justificam essa ideia defendendo que reprovando alunos as escolas colaboram para que eles percam a autoestima. Junte-se a isso, os gastos que chegam atingir 10 bilhões de reais por ano para o governo, comforme dados da revista Nova Escola. O engraçado é que os alunos não podem perder a autoestima, já os professores. Estes aí, em sua maioria, já desconhecem o que significa autoestima.

Então, como avaliar essa nova diretriz? Será que com o fim da reprovação os alunos se tornarão mais motivados? E para onde irão os 10 bilhões de reais gastos anualmente, serão redirecionados para educação, ou para valorização dos docentes? E os alunos que deveriam ser reprovados conseguirão acompanhar os ‘coleguinhas’ nos anos (séries) posteriores? Eles serão realmente alfabetizados?

A única certeza que tenho é que o fim da repetência tirará do Brasil os índices negativos na educação. Não teremos mais o título mundial de maior taxa de reprovação. Posso até imaginar os holofotes, a mídia, a nova diretriz, todos trabalhando para burlar os dados reais e a verdadeira situação da escola pública brasileira. E nas manchetes o orgulho de ser brasileiro: “No Brasil, a taxa de repetência é nula”.

por Michelle Laudílio, graduanda em Jornalismo em Multimeios.