Nova barragem ameaça o povo Tumbalalá com impactos ambientais

Multiciência 05 julho 2022

A promessa de uma nova barragem no povoado Pedra Branca, localizada no município de Curaçá-BA, assusta os povos indígenas.  O projeto prevê a construção sobre o território próximo à aldeia Tumbalalá. A comunidade está preocupada com o agravamento dos impactos ambientais e culturais que o novo equipamento pode trazer, já que ainda sofrem com as consequências geradas pela transposição do Rio São Francisco e pela barragem de Sobradinho. 

A proposta lançada pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco-CHESF em 2010 é uma realidade que outras comunidades ribeirinhas como Riacho Seco e Pedra Branca também sofrem. Se construídas, essas barragens atingirão comunidades dos municípios de Curaçá, Abaré e Juazeiro, na região da Bahia, e Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande, Orocó e Cabrobó, na região do Pernambuco.

Na tentativa de acalmar as comunidades, a CHESF realizou oficinas no intuito de convencer as comunidades sobre a importância das barragens e negociar as condições de saída das famílias de algumas terras. No entanto, o processo da hidrelétrica de Pedra Branca está suspenso temporariamente devido ao processo de demarcação do território indígena Tumbalalá.

Segundo Gabriel Marinheiro, jornalista e liderança dos jovens indígenas Tumbalalá, os impactos das transposições dentro das aldeias tanto Truká como Tumbalalá afetam os rituais tradicionais. “As cachoeiras são morada dos encantos e quando essas cachoeiras secam os encantos vão embora causando um impacto nos rituais indígenas, fora o desmatamento que é feito para realizar esses empreendimentos do governo”, pontuou.

Além disso, a comunidade relata que, devido à transposição e a barragem, a sobrevivência da aldeia é comprometida.  “A gente tira nosso sustento do que a natureza nos dá, estamos sofrendo muito com isso, antes tinha muitas espécies de peixe, e agora são raras, muita gente que plantava nas vazantes hoje não consegue mais, estão se acabando tudo”, conta Josenor Manoel Tumbalalá. 

A busca pela demarcação territorial

Tumbalalá é um dos povos originários do Sertão do São Francisco, marcados pela ação das missões religiosas nos séculos XVI e XVII. A terra indígena Tumbalalá tem várias aldeias e os povos distribuídos nas localidades de Pambu, Missão Velha, Porto da Vila, Salgado, São Miguel, Cajueiro, Jatobá, Pedra Branca, Projeto Pedra Branca, São Miguel, Maria Preta, Ibó, Ibozinho, e outros.

Por essa abrangência, consideram todas as margens do rio São Francisco fundamentais para manutenção da cultura Tumbalalá. “O rio é nosso tesouro e traz nossas tradições que são os encantados das águas e das matas. Aqui fazemos tudo com permissão da natureza, até os dias de pescar. Tem que escutar a natureza”, argumentou Maria Angélica, integrante da aldeia. 

A demarcação de uma terra indígena tem por objetivo garantir o direito indígena ao território e morada dos ancestrais. Ela deve estabelecer a real extensão da posse indígena, assegurando a proteção dos limites demarcados e impedindo a ocupação por terceiros.

A luta pela demarcação indígena, decreto nº 1775/96 que está em processo de aprovação pelo senado, alimenta a esperança e mobiliza a comunidade a continuar lutando pelo seu espaço, garantindo a não inserção de uma hidrelétrica na localidade.

O indígena Josenor Manoel, da aldeia Tumbalalá, defende que o reconhecimento das terras indígenas será importante para estabelecer os limites territoriais, além de pautar questões como a falta de políticas públicas nas localidades indígenas.

Quem são os Tumbalalá?



Os Tumbalalá são um povo indígena originário do antigo aldeamento do Pambu, no sertão da Bahia, localizado na divisa com os municípios de Curaçá e Abaré, às margens do rio São Francisco.

Histórias do processo de colonização são contadas de pais para filhos, como a de Maria Angélica, de 93 anos, sobre a sua tataravó ser “pega no mato”, expressão usada para as mulheres indígenas que eram pegas à força por homens brancos. 

Essas histórias reforçam a identidade do Pambu ser território indígena, que foi ocupado por homens brancos. O primeiro aldeamento dos Tumbalalá desenvolveu-se no Pambu, com registros comprovando sua existência desde 1.600. O nome Tumbalalá foi dado e descoberto através de muitos rituais e trabalhos para se confirmar o nome Tumbalalá, concedido pelos encantados de luz, no qual os povos indígenas não podem revelar o segredo.

Conheça sua história dos povos indígenas, acesse o link do livro online Índios na visão dos índios, editado por Sebastián Gerlie: www.thydewa.org/downloads/tumbalala.pdf

Reportagem de George Diaurum para a disciplina Redação Jornalística, sob a supervisão de Andrea Meireles Lima e Andrea Santos.