23 junho 2023

Entre ecos juninos e lembranças

Sempre nessa época do ano, quando sinto aquele frio característico do inverno sertanejo me vêm à mente indagações que andam sempre acompanhadas de uma saudade incurável. Vejo agora as bandeirolas balançando ao vento na varanda de casa e consigo lembrar do tempo em que, nessa época de junho, era só colocar o meu vestido de chita, fazer trancinhas no cabelo e colorir a face que seria a garantia de uma noite perfeita. Na ingenuidade da mente infantil, tudo é simples -incluindo a felicidade- e um caldinho de macaxeira poderia ser suficiente para resolver todos os problemas do dia.

Painel Temático Xilogravura. Foto: Luana Menezes

Agora, muito afundada em meus devaneios -já não consigo mais parar-, sinto o aroma do milho verde vindo da cozinha. Tudo nessa época do ano contribui para a nostalgia e para a saudade, e nessa enxurrada de pensamentos que acontece anualmente, quase como um evento, percebo que nunca há espaço em minha mente reservado para os momentos em família. Acho que a lembrança das brincadeiras em volta da fogueira e os bons momentos têm um protagonismo que acabam ofuscando todo o resto… Mas uma figura vem à minha mente. Lembro-me do meu avô. Homem simples, nos gostos e no jeito de ser. Sabia apreciar as pequenas coisas da vida, assim como uma criança, e acredito ter aprendido um pouco disso com ele. Pelo menos, espero que sim. 

Vovô nunca foi um homem de muitas vaidades ou de se comunicar com palavras. Ele era talvez a única pessoa do mundo que agia muito mais do que prometia, e hoje percebo isso com saudosismo. Lembro-me de um dia de São João em que ele quis me ensinar a dançar. Por causa da terna infância, eu não tinha coordenação suficiente para acompanhar os passos, então sempre pisava nos pés dele, o que resultava em uma encenação catastrófica para aqueles que viam de fora, mas, mesmo desajeitada, descoordenada e estranha, era uma dança bonita e acima de tudo, sincera. Principalmente para mim, que me diverti tanto que até esqueci de sentir vergonha por dançar desengonçadamente na vista de todos a noite toda. Esses laços formam conexões que jamais se desgastam, e para mim, a parte mais bonita da vida. 

Agora sinto vir da cozinha um cheiro de mungunzá, e junto do cheiro, sinto também o gosto que me faz salivar. Mas não é o gosto da sobremesa que está cozinhando, sinto um sabor diferente, de muitos anos passados, de quando meu avô ainda era vivo e ajudava vovó na cozinha. Ele não sabia cozinhar, mas era bom tê-lo perto e a presença dele parecia até algum tempero especial, feito para dar mais sabor à comida. É um gosto de alegria, é um gosto de festa junina.

Por Maria Eduarda Monet, estudante de Jornalismo e colaborada da Agência MultiCiência