Semana de Integração: palestrantes discutem formas de combater o assédio no ambiente universitário

No Dia Internacional da Mulher, data em que busca-se destacar a importância de lutar pela garantia dos direitos das mulheres, celebrar conquistas e lutar contra todo tipo de violência, o Centro Acadêmico Glória Maria (Cacos) do curso de Jornalismo em Multimeios promoveu na Semana de Integração do Departamento de Ciências Humanas mesa-redonda para discutir a temática do assédio na universidade. As discussões foram centradas em como identificar os tipos de assédio,formas de combater, conhecer canais de denúncia e buscar ajuda, além de entender os impactos na comunidade LGBTQIAPN+, não somente mulheres cis hetero. 

Representantes de órgãos públicos municipais, do ambiente acadêmico e pesquisadores(as) discutiram os impactos do assédio em suas diversas formas, destacando questões relacionadas à saúde mental, contexto histórico de opressões patriarcais, interseccionalidades, ações jurídicas de denúncia e processos diante de situações de assédio. Foi discutida ainda sobre a assistência oferecida pelo poder público de Juazeiro e Petrolina, como as ações do Conselho Municipal de Defesa dos direitos das pessoas LGBTQIAPN+ e da Delegacia da Mulher. 


FOTO: Aylla Bomfim


Milenna Silva, estudante de Ciências Sociais (Univasf) e poetisa, abordou o contexto histórico relacionado ao assedio ao período da colonização, regime de escravidão e construção da nacionalidade brasileira, apontando que as mulheres negras foram e são quem mais sofrem com as opressões, de diversas formas. Segundo Milena, o regime escravocrata e seus impactos fizeram com que a mulher negra fosse vista como a última “classe” na hierarquia social, abaixo até mesmo dos homens negros, e isso se mantém atualmente, através das estruturas sociais. Para ela, isso tem justificado a cultura da violência contra a mulher, sobretudo a cultura do estupro e do assédio. Questões relacionadas à criação masculina, levando os homens a adotarem condutas e práticas de dominação em relação às mulheres e seus corpos, também ajudam a explicar a reiteração de práticas de assédio.

Autora do livro “Racismo de memória “, do projeto Tessituras Literárias, Milena considera que é necessário que, para além da prevenção e do combate, a universidade lute para a decolonização do saber, rompendo as estruturas machistas e atuando nos imaginários sociais, por meio da criação de novas epistemologias de conhecimento e leitura de pesquisadoras antirracistas e feministas, como Rita Segatto e Angela Davis.

“É necessário, para além do combate e denúncia ao assédio, entender aparelhos que nos oprimem, como surgiram e se mantêm, e ir nas raízes dos problemas. Devemos construir nossas epistemologias de ruptura, e romper a lógica. Isso parte também da presença de homens em espaços como este”, explica.


Da esquerda para direita, Milenna Silva e Rayanne Moraes. FOTO: Ana Clara Silva


Legislação 

Rayanne Moraes, advogada especialista em advocacia feminista e direitos das mulheres, abordou assuntos jurídicos referentes ao assédio, de aspectos que às vezes não se tem conhecimento, e os casos acabam sendo negligenciados e não são levados para a esfera jurídica. Rayanne diferenciou os tipos de assédio, destacando o moral do sexual, o qual pode evoluir para outros mais graves, como o estupro. 

Ela conta que é muito importante a construção de provas, que se dá através da gravação de vídeos, de fotos, mensagens, bilhetes, laudos médicos e psicológicos. “Infelizmente, somente a palavra da vítima não é validada como prova, por isso a importância de indícios que houve o assédio. Essa é uma das muitas questões que a Justiça brasileira precisa melhorar”, esclarece Rayanne. 

Quanto às providências a serem tomadas em caso de assédio, ela aborda a possibilidade da vítima procurar o Ministério Público, destacando que não há a necessidade de advogado para isso. Recomendou ainda a leitura de informativos como a “Cartilha sobre Assédio Sexual no Trabalho: perguntas e respostas”, organizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que objetiva orientar mulheres cis e não cis a combater e denunciar o assédio sexual nos espaços de trabalho. 

Rayanne apontou, ainda, a importância da criação de instrumentos preventivos e combativos, e de resistir. “É preciso pensar em instrumentos para mudar as coisas, bem como ocupar os espaços e pressionar, buscando a segurança das mulheres, a nossa segurança”, alerta. 

Assédio contra a população LGBTQIAPN+ 

O representante do Conselho Municipal para a população LGBTQIAPN+, que integra a Secretaria de Desenvolvimento Social, Mulher e Diversidade, Andrey Anthonny, trouxe esclarecimento sobre a política de assistência oferecida pelo órgão à população, chamadas minorias como as mulheres e pessoas LGBTQIAPN+, as quais mais são vítimas de assédio. 

Ele destaca que a Secretaria desenvolve ações em parceria com programas sociais, como o Bolsa Família, com universidades,atuando com as pessoas que enquadram como baixa renda, “a fim de garantir direitos que historicamente foram e são negados”. 

Apontou a importância de alguns serviços que a Secretaria oferece, como o Ambulatório Trans, que resolve trâmites necessários e encaminha para o processo de transexualização, além do atendimento psicossocial gratuito. Ele entende que o Conselho busca ser uma rede de proteção às mulheres (cis e trans) e LGBTQIAPN+, porém não atua juridiciamente, mas com encaminhamentos dos casos para atender os direitos. 

Para que o assédio não continue sendo realidade, ele diz que a prevenção é o melhor caminho, mas que uma vez acontecendo, se deve denunciar. “Não se pode deixar passar, porque a civilidade inclui o respeito. É preciso que todos/as/es sejam civilizados e respeitem uns aos outros. A melhor política que podemos fazer é a prevenção, em todos os níveis. A denúncia se faz quando a prevenção deu “errado”.

Morgana Oliveira. FOTO: Juliana Pereira



Psicóloga clínica, travesti, pesquisadora em Saúde Mental Morgana Oliveira, diz que é importante pensar as questões que envolvem o assédio às pessoas LGBTQIAPN + sobretudo, também como herança do patriarcado que fundou a sociedade brasileira, e não somente a opressão com as mulheres. “Desde muito bom cedo, os homens são ensinados a serem abusivos, compulsivos sexuais, são ensinados a querer o sexo a qualquer custo. Por isso, eles precisam ser reeducados”, afirma. 

Ela aponta que a LGBTfobia parte de complexidades e marcadores sociais diversos, e que a hipersexualização a que corpos trans são expostos e muitas vezes se colocam, por questões de sobrevivência, serve à estrutura que os desumaniza, excluindo suas identidades e fazendo com que os assédios sejam uma prática sigilosa. “A pessoa às vezes nem se dá conta de que foi assediada”. 

A psicóloga, que pesquisa saúde mental, políticas públicas e marcadores sociais (identidade de gênero, raça, classe e outros), alerta para a necessidade de se respeitar os limites, mesmo que a pessoa esteja em situações complicadas. “Por mais vulnerabilidade social que a pessoa esteja, os limites devem ser impostos e não ultrapassados”. 

Para saber mais sobre as instituições que recebem denúncias e acolhem pessoas, seguem informações.

CEPPSI - Centro de Práticas e Estudos em Psicologia, da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) que oferece atendimento psicológico gratuito, em Petrolina. Link: https://portais.univasf.edu.br/ceppsi 

Ouvidoria da Uneb - atendimento é de segunda à sexta, das 08h às 17h. Contato: (71) 3117-2438 Link: https://ouvidoria.uneb.br/index.php/estrutura-administrativa/ 

Conselho Municipal de Promoção dos Direitos da População LGBTQIAPN+ de Juazeiro, BA - funciona na Secretaria de Desenvolvimento Social Mulher e Diversidade, das 8h às 14h. Contato: 74 3612-3050

Por Ana Beatriz Menezes, estudante de Jornalismo em Multimeios. 

Representantes do território Sertão São Francisco discutem políticas públicas de Ciência, Tecnologia e Inovação em Juazeiro

Representantes dos setores da sociedade civil organizada, empresarial, poder público e universidades participaram da V Conferência Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação – Etapa Macroterritorial, realizada na Universidade do Estado da Bahia, em Juazeiro, e organizada pela SECTI. A finalidade foi formular propostas para definir os rumos da ciência, tecnologia e inovação do estado, orientar a Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação – ENCTI 2025-2035, que será elaborada por todos os segmentos do país de 4 a 6 de  junho.


Foto: Ana Clara Silva



Cerca de 80 participantes se reuniram para discutir reformular os documentos elaborados na 4ª CECTI, ocorrida em 2019, divididos nos eixos: recuperação, expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação; reindustrialização em novas bases e apoio à inovação nas empresas; ciência, tecnologia e inovação para programas e projetos estratégicos nacionais; e ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento social. Na etapa macroterritorial, foram escolhidos os representantes de cada eixo para contribuírem à conferência estadual, a ser realizada em Salvador, em 4 a 5 abril.

 

Além disso, foi apresentado o programa Bahia + Inovadora, criado pela SECTI e vinculado a Fundação de Amparo À Pesquisa Da Bahia (Fapesb), que busca estabelecer fomento financeiro ao interior do estado, para que as ações voltadas às CT&I ́s sejam criadas.

 

“O Bahia + Inovadora é um conjunto de iniciativas que se baseia em dois pilares: a descentralização dos investimentos públicos em CTI, e o desenvolvimento social, econômico e sustentável, em regiões como no Recôncavo, Sertão São Francisco, Chapada Diamantina, por meio de parques tecnológicos, centros de inovação, Instituto de ciências e os espaços colaborar”, destaca Sócrates Santana, coordenado de Assuntos Estratégicos da SECTI.



Foto: Ana Clara Silva



O coordenador destaca que, para que haja o fortalecimento do ecossistema de inovação, é preciso que o programa de conectividade do estado seja acessível para todos. “O Bahia + Inovadora busca agir nas bases, como através do programa de conectividade, que concede internet gratuita a todas as cidades, e também às universidades públicas e escolas da educação básica”, pontua.

Quanto à formação para utilizar essas tecnologias e buscar um sistema de CTI’s mais estruturado e com profissionais aptos a atuar no segmento, Sócrates reforçou a importância da formação, por meio de cursos de capacitação em tecnologia, Inteligência artificial, economia circular e verde.  Os cursos, disponíveis no site da SECTI, podem ser feitos por todo o público, não restrito somente aos estudantes, professores e pesquisadores.

Para o professor da Uneb, Josemar Martins, coordenador do eixo recuperação, expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, é necessário refletir sobre as implicações e problemas à efetivação das propostas de CTI’s, que vão desde combater as desigualdades sociais, não permitindo que todos acessem e aprendam, à falta de internet de qualidade, equipamentos e softwares necessários. 


Foto: Levi Varjão



O professor destaca que é preciso pensar o alcance e impacto da sociedade 5.0, se de fato o país se encontra nesse estado, quando direitos básicos muitas vezes não são garantidos.

Ele alerta ainda que as tecnologias devem surgir e serem usadas para atividades concretas, que de fato facilitem a vida – os problemas diários –, e não somente sejam sobre uso de telas.

As Conferências Macroterritoriais da Bahia seguem, nos territórios de identidade, até o dia 5 de abril, quando acontecerá a estadual, em Salvador. As regionais ocorrem em abril e a nacional em junho, entre os dias 4,5 e 6, em Brasília. Saiba mais: http://www.secti.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=137

 As pessoas interessadas na temática também podem participar conferências livres, de forma online, sobre temas gerais que englobam as tecnologias e seus usos, as quais ocorrem de 13 de março a 16 de abril. Para mais informações, acesse: http://www.secti.ba.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=137.

Para saber mais das Conferências Regional e Nacional, sigam as redes sociais @sectibahia

Reportagem por Ana Beatriz Menezes, estudante de Jornalismo em Multimeios.


Jovens e a prática da leitura na escola

O estudante da Rede Pública, Daniel Costa, amante da leitura, iniciou seu hábito por estímulo dos professores de literatura. O acesso à biblioteca permitiu que ele se tornasse um leitor assíduo e expandisse seus conhecimentos. “ O ambiente escolar afetou minha vida de leitor significantemente, pois foram importantes no meu crescimento educacional”, afirma. 

Assim como o jovem, outras pessoas têm se interessado pela leitura através do incentivo da escola em implantar bibliotecas e práticas de leituras. Isso acontece porque a Política Nacional de Leitura e Escrita, instituída pela Lei 13.696/18, concede o acesso aos livros, às leituras, à literatura e às bibliotecas em ambiente escolar. Para que o hábito da leitura seja sistemático na juventude, a estrutura de locais e escolas que compactuam com tais práticas é importante.

                                                   

       O estudante Daniel Costa Rodrigues é um frequentador assíduo da biblioteca


Segundo a Mestra em literatura, Celma Vieira, o planejar sistematicamente das atividades literárias, o uso de  livro, as trocas de ideias com os alunos é um meio para ampliar as possibilidades deles lerem.“O processo de gosto pela leitura e letramento literário deve ser sistemático”, diz ela.

Além disso, a pesquisadora, compartilha suas práticas em sala de aula incentivando os alunos a viajarem no mundo encantado da leitura e a utilizar e se apropriar dos meios digitais para somar ao conhecimento literário dentro da escola. “Na atividade do terceiro bimestre, usei Podcasts com os contos de Machado de Assis, eles ficaram impressionados com Assis e assistiram na televisão em sala de aula seus produtos, o que reverbera no avanço na educação”, relata.

 

 

A professora Celma Vieira dos Santos estimula a leitura por podcasts nas aulas. Foto: Ewerton Ramos.


Para a pós graduanda em Comunicação e Marketing, Kemylly Maryana, a leitura sempre foi um momento de refúgio e de autoconhecimento.  A mesma utiliza as plataformas digitais para se beneficiar do mundo da leitura desenvolvendo habilidades para seu trabalho. “ A leitura me proporciona ideias para minha escrita, poesias e experiências extraordinárias para narrar e colocar meus sentimentos para fora. O Kindle e o aplicativo Wattpad tem me ajudado bastante na leitura, sendo de fácil acesso e têm bastante livros disponíveis, desde clássicos à fanfic.”

 

Kemylly Lopes faz leituras mediadas pelas tecnologias


Já para o jovem Tiago Nunes, formado em Ciências da Computação, o hábito da leitura chegou tardiamente em sua vida, sobretudo devido à falta de encorajamento da escola. No entanto, mesmo adquirindo esse interesse tardiamente para se aventurar no mundo da leitura, ele afirma a importância em sua vida pessoal e o quanto é mais enriquecedor em termos de aprendizado. "Percebo o quanto a leitura me ajudou a me desenvolver intelectualmente e profissionalmente, além de abrir portas para novos conhecimentos", fala o jovem.


 Tiago Nunes avalia que a leitura o ajuda no crescimento profissional


 O mundo da leitura na juventude proporciona uma viagem para vivenciar aventuras divertidas, emocionantes e tristes, como também levá-los a lugares diferentes através da imaginação, que pode ajudar no crescimento intelectual. É importante o investimento em bibliotecas nas escolas e mais práticas em sala de aula incentivando sistematicamente os alunos a serem leitores assíduos.

O uso das tecnologias, como de kindle e podcasts para propagar e encorajar jovens para esse universo crítico, pensante e emotivo da leitura através das plataformas digitais é interessante. Sobretudo, se apropriando desse avanço tecnológico nessa geração para incluir e tornar os jovens leitores assíduos.

Por Vanessa Taratá, estudante de Jornalismo em Multimeios.


O Protagonismo Jovem na cena Hip-Hop do Vale do São Francisco

A batalha de rima é uma modalidade importante da cultura Hip hop, comum em metrópoles, como as cidades de São Paulo e o Rio de Janeiro, de onde saem Mc’s famosos e premiados. Elas são responsáveis por descobrir talentos musicais, como o rapper Leandro Roque de Oliveira, um “filho” das batalhas de rima, que, diante de sua invencibilidade, se consagrou nesse meio, onde adotou o nome de EMICIDA. O artista é hoje considerado um dos rappers mais influentes do país e um dos maiores MCs de batalha do Brasil, tornando-se influência para vários jovens que sonham em ser MC’s. 

Através da música “rinha”, o rapper Emicida coloca para fora o sentimento vivenciado pelos Mc’s de batalha ao descrever o que acontece nesses espaços, a emoção dos artistas ao ouvir o beat do DJ e a vibração da plateia. “Sente o grave batendo com o coração, família, levanta a mão pra honrar o compromisso, como eu vou dizer que o hip-hop morreu, vendo isso”

É assim que os  MC’s se sentem e consideram a batalha de rima um espaço sagrado e até preferem pisar neste solo descalços, como uma espécie de reverência. 

No Nordeste, também há espaço e talento para essa manifestação cultural. Na cidade de Juazeiro, no Vale do São Francisco, nasce a Batalha da Lagoa, que vem se expandindo e completou recentemente um ano de sua criação, reunindo no mês de setembro MCs famosos da cidade de São Paulo, como também o vencedor do duelo de MCs nacional, em 2019, o nordestino de Juazeiro do Norte, MCharles.


A BATALHA DA LAGOA

Iariel Gomes, organizador da Batalha Da Lagoa, conta que a iniciativa de criar a batalha surgiu após perceber que havia uma pausa nas batalhas de rima na cidade. A Batalha da Lagoa ganha esse nome porque as batalhas aconteciam no parque Lagoa de Calú, conhecido e frequentado na cidade de Juazeiro, no Norte da Bahia.

Após um ano de fundação, Iariel percebeu mudanças na cena do hip-hop do vale do São Francisco, como principal, o surgimento de outras batalhas na cidade, acredita que mais de cinco batalhas estejam acontecendo no vale do São Francisco.

Além disso, ele enxerga na iniciativa uma oportunidade de encaminhar jovens através da arte, tanto os Mc’s,  quanto o público que frequenta os duelos. 

O produtor aponta questões relacionadas ao acolhimento entre esses jovens. “É uma irmandade, uma família”. Ele vem percebendo a cada edição um aprimoramento no talento desses Mc’s que são jovens e adolescentes empenhados, artistas que aguardam um futuro retorno financeiro desse movimento.

Nessa caminhada  de descoberta de talentos por meio da arte da cultura hip-hop também há dificuldades, principalmente para a manutenção do projeto e formação de público. Sem apoio financeiro, patrocínio ou apoio de órgãos do poder público, Iariel conta que esse trabalho é realizado com recursos próprios.


TALENTOS EM ASCENSÃO 

Com o advento das tecnologias e das plataformas digitais, as batalhas se tornam cada vez mais acessadas nas redes sociais, tornando os MCs astros que acumulam seguidores e visualizações, além da oportunidade de receber premiações nas competições através de patrocínios de empresas.

Osama MC é um rapper de 21 anos que conheceu as batalhas de rima através de Emicida e enxergou nele uma inspiração. Natural de Senhor do Bonfim e residente de Juazeiro (Bahia), começou sua trajetória em 2016,  rimando em grupos de WhatsApp e em sua cidade natal, lá foi ganhando notoriedade e começou a ir duelar em outras cidades.


Foto: Laíse Ribeiro.

Nessa caminhada, o artista aponta que também encontra dificuldades e as principais são a falta de apoio financeiro e a discriminação, ainda recorrente no segmento artístico.

O rapper acredita que esse movimento é muito importante para a cultura local e ainda para o protagonismo dos jovens da cidade, pois valoriza a cultura e possibilita novas vivências para esses jovens e crianças.

Talento em ascensão, Vitu Mc acumula títulos e vitórias em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e alguns outros estados. Começou a batalhar em 2016, em Vitória de Santo Antão, município pernambucano e sua cidade natal, lugar que ainda não vivenciava a cultura hip-hop através das batalhas. Em 2018, após vários duelos, Vitú começa a viajar para duelar na capital, Recife e lá se torna vencedor estadual nesse mesmo ano.

O artista encontra referenciais de talento e inspiração em Rapadura e Don L,  nordestinos que ganharam sucesso e notoriedade através da rima e que representam o Nordeste quando se trata desse movimento cultural. Como um jovem nordestino, ele acredita que apesar das dificuldades enfrentadas, é possível fazer hip-hop no Nordeste.

Vitú aposta no poder da movimentação cultural que está acontecendo na cidade através da Batalha Da Lagoa, com a vinda de artistas de outros estados que dão visibilidade a cena do Vale do São Francisco. A partir desse pensamento, o artista aponta que esse movimento deve receber uma maior visibilidade e atenção, principalmente do poder público, “porque isso só fortalece e aumenta o patrimônio cultural da cidade”.


“Uma roda de gente e uma caixinha de som”. É assim que Moab, jovem de 18 anos e público assíduo da Batalha da Lagoa relembra como aconteciam os primeiros duelos. O jovem percebe mudanças nesse cenário, pois agora já é possível a presença de artistas de outros estados do Brasil. Considera importante essa arte e seu desenvolvimento na cidade, principalmente para os jovens e crianças que se inspiram nos Mc’s e que sonham em ser futuros artistas, tendo agora um espaço para isso em sua cidade.



Foto: Produção da Batalha da Lagoa.

"Um sonho, uma cultura, um ideal, um amor

Um sonho, uma conquista, eu peço nesse louvor"

Assim como neste verso de "rinha", música que descreve esse movimento, talvez essa seja a prece de todos os mc's que saem para batalhar em busca de se sentir pertencentes, jovens com sede e fome de vencer, que encontram nesse espaço de duelo sua fonte de conhecimento, vivência e protagonismo.


Por Laíse Ribeiro, estudante de Jornalismo em Multimeios.


Aventura Jovem às Margens do Velho Chico

Foto: Micaelly Nery


Às margens do Velho Chico, a juventude aproveita o calor do sol para se divertir. Na orla, é possível visualizar jovens de diversas faixas etárias desenvolvendo atividade esportiva, caminhada, natação, ciclismo ou apenas sentados para conversar e aproveitar o pôr do sol.  

Nesse ambiente, o passeio de caiaque se torna uma das maneiras que os jovens podem mergulhar em uma jornada de diversão e exercício. Nesse cenário a Arca Sport, empresa que atua há quatro anos no vale, oferece uma ampla gama de atividades de aventura, com o caiaque sendo uma das mais populares entre os jovens que habitam na região. Para muitos, as remadas passam de apenas um esporte de aventura e se tornam uma forma revigorante de exercício e diversão para a juventude.

“É uma sensação de prazer e liberdade. Navegar tão próximo às margens traz uma sensação incrível, que apenas participando para sentir.” afirma Diana Honorato, jovem entusiasta de caiaque. 

A atividade ao ar livre se torna atração a todos que estão por perto, sendo um evento que integra família, amigos e até casais. “Quando você chega e vê aquele pessoal com aquela liberdade remando nas margens do rio, podendo ir para o outro lado, a cidade vizinha, é algo contagiante, pois quem está de longe também sente vontade, principalmente os jovens” acrescenta Diana.

Os participantes desfrutam de uma proximidade com a flora e fauna do Rio São Francisco que poucas outras atividades oferecem. Isso é uma oportunidade para os jovens aprenderem sobre a importância da conservação e a necessidade de proteger  a biodiversidade, trazendo também a oportunidade emocionante de se conectar com a natureza, e, claro, se divertir. 

É uma jornada que envolve corpo e alma, alimentando a paixão pela aventura, mantendo a juventude ativa e promovendo a conservação do ambiente. “Além da atividade excelente, nós podemos aproveitar a maravilha do Rio São Francisco”, diz Sonia Carvalho, participante da atividade do remo.

Saúde

No entanto, o incrível passeio vai além da diversão, o pequeno ato de remar pode auxiliar na saúde física de quem a prática.  “O caiaque também tem seus benefícios na questão física como um bom trabalho na musculatura, principalmente do tronco”, relata Edvania Ribeiro, profissional de Educação Física.

Por esse motivo jovens sentem vontade de participar e dessa forma alguns começam a aderir a prática de alguns esportes que contribuem também para manter o corpo ativo e aumenta o convívio com o rio.

Além do passeio de caiaque no rio, a Arca Sport também oferece outras atividades que promovem a diversão da juventude às margens do velho Chico; como o rapel, pêndulo, tirolesa, locação de jet, locação de bicicleta e entre outras opções. Por aqui, não tem como sair triste, de final de semana aos feriados, os jovens se reúnem para aproveitar a beleza presente no São Francisco.


Foto: Micaelly Nery.


Por Micaelly Nery, estudante de Jornalismo em Multimeios.



Produção Cultural no Vale do São Francisco busca acolher Jovens LGBTQIAPN+

Visibilidade, vulnerabilidade e representatividade. Esses termos estão, cada vez mais, presentes na comunidade LGBTQIAPN+, buscando a valorização de identidade e a segurança dos direitos do público. Jovens LGBTQIAPN+ e aliados à causa buscam realizar o acolhimento dessas pessoas em situação de vulnerabilidade, utilizando do segmento cultural através da produção de eventos que tragam representatividade e proteção, principalmente combatendo a violência física.

De acordo com a Associação Internacional de Gays e Lésbicas (ILGA), o Brasil é o segundo país do mundo com mais direitos LGBTQIAPN+. Porém, é líder em taxa de mortalidade de pessoas LGBTQIAPN+, sendo o Nordeste a região com maior número de casos com 43,3%, segundo levantamento do Grupo Gay da Bahia, realizado em 2022 ao analisar notícias publicadas pelos meios de comunicação. A cultura do ódio é preocupante em diversos níveis. Conforme o relatório, a comunidade precisa ser abraçada para se sentir visível e pertencente à sociedade.

O produtor cultural Pedro Lacerda se entende como uma pessoa não-binária e queer. Formado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e desde 2013 atua na área de cultura no Sesc-Petrolina. O início na produção cultural foi incentivado e influenciado pelo cotidiano vivido dentro da instituição com a interação e trabalhos realizados junto aos artistas e profissionais de fotografia, até assumir a posição de coordenação de produção em alguns eventos.

Pedro Lacerda, produtor cultural.



No Vale do São Francisco, a produção cultural é um mercado que se popularizou recentemente com uma estruturação precária e influenciado pelas leis de incentivo emergencial - surgidas no período de pandemia do Covid-19 -, como os Editais disponibilizados pelo governo. Essa atitude facilitou o processo de produção e muitas pessoas se viram pertencentes a esse local de produzir, trazendo à tona o sentimento de visibilidade e representatividade. O Sesc tem muita importância neste tópico, pois é um espaço voltado à cultura, arte, produção e educação. A instituição “tem seu local de abraçar e as pessoas se sentirem confortáveis e em segurança naquele local. É um local de transformação!”, afirmou Pedro.

Em questão de produção e promoção de eventos que acolham esse público, Pedro ressalta que é feita, principalmente, por meio das redes sociais, mas que também os meios de comunicação tradicionais, como TV e Rádio, são bastante acessíveis na divulgação. Porém, feito de forma online traz mais segurança ao tentar alcançar todo tipo de público, sendo uma ação que auxilia na visibilidade e inclusão da comunidade na sociedade.

Pedro Lacerda explica que a produção cultural e a arte têm um poder transformador, ao mostrar para os jovens que é possível ser vulnerável e alcançar a visibilidade e poder representar, mas também, sentir a representatividade. “A minha imagem, a minha escrevivência e meu caminhar no mundo alcança o outro e o seu desejo pela liberdade de ser.”, afirma.

Produção Cultural na Região Norte
 
Em Rondônia, Rafaela Correia iniciou na produção cultural com a criação de uma festa, P.tzao. Porém, ela ainda não se entendia como produtora, por não ter se profissionalizado na área, estava se aventurando. “A proposta inicial da P.tzao era ser uma festa acessível, open bar, para a galera jovem que sentia falta de mais espaços para festejar”, explica Rafaela.

Rafaela Correia, produtora cultural.



A produtora relatou que a maior dificuldade ao iniciar o projeto foi a falta de conhecimento sobre produção na cidade, além da falta de apoio de outras organizações que realizam o trabalho no ramo, principalmente voltadas à comunidade LGBTQIAPN+. A receptividade do público fez com que ela não desistisse. 

Inicialmente, em 2017, a média de público do evento era de 400 pessoas e cada vez crescia mais. “Eu caí de paraquedas e as pessoas me apoiaram”, ressaltou. Rafaela explica que por ser um empreendimento independente, o desafio é a movimentação da renda, pois além da produção, existe a contratação de diversos serviços para a realização da festa, como a distribuição de bebidas.

Ao falar da realização de eventos para a comunidade, Rafaela relata que, na cidade,a produção está se fortalecendo, porém o acesso e o fomento é dificultado, afetando a demanda. Porém, o alcance é impulsionado com a divulgação pelas redes sociais.

Em questão dos Editais promovidos pelas Secretarias de Cultura, ela conta que sua experiência se iniciou pouco antes da pandemia de Covid-19, participando e propondo projetos. Da mesma forma que Pedro Lacerda, a produtora explica que as leis emergenciais incentivaram muitas pessoas e facilitaram o acesso à área. Rafaela explica que as políticas de fomento não são totalmente acessíveis, sendo assim, a comunidade ainda não compreende muito bem o processo burocrático, fazendo com que continuem produzindo de forma independente ou com patrocínio privado.

Rafaela Correia acredita que ações culturais voltadas à comunidade LGBTQIAPN+ tem diversos impactos, atingindo tanto o público, quanto quem produz. “Um dos impactos é a representatividade nesses espaços, traz acolhimento e referências.”, afirma. Realizações como essa dão abertura para que a demanda de trabalho de produção tenha uma facilidade de ser cumprida. “Até mesmo uma pessoa de fora da comunidade ter acesso, é entender que já é uma forma de combater um preconceito estrutural inserido na sociedade”, finaliza.


Por Aylla Bomfim, estudante de Jornalismo em Multimeios.