08 junho 2023

Feira da economia solidária de Jaguarari valoriza produção orgânica

A economia solidária é uma alternativa inovadora na geração de trabalho e na inclusão social, na forma de uma corrente do bem que integra quem produz, quem vende, quem troca e quem compra. A prática econômica se norteia pelos princípios da autogestão, democracia, solidariedade, cooperação, respeito à natureza, comércio justo e consumo solidário, como recomenda o Centro Público da Economia Solidária do Vale São Francisco (CESOL-SFF). 

O segmento estimula a economia popular com ações voltadas ao incentivo e valorização de feiras e exposições, nas quais são comercializados os produtos. Durante o ano de 2019, conforme dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), as feiras e exposições beneficiaram cerca de 1.362 pessoas e 230 famílias, pertencentes a aproximadamente 218 empreendimentos, entre micros e pequenos produtores, formalizados ou não.

O grupo Mulheres em Ação, do distrito de Gameleira, localizado a 12 km da cidade de Jaguarari, foi um dos empreendimentos expostos na 2ª feira da Economia Solidária de Jaguarari, que aconteceu nos dias 19, 20 e 21 de maio, no município do norte da Bahia.  Há 19 anos, o grupo produz doces, geléias e demais produtos alimentícios derivados de frutas nativas, como o umbu, a acerola, a jaca, o maracujá, o tamarindo, movimenta a economia local e gera renda. 

A fundadora e coordenadora do grupo, Irene Dias Lopes, de 65 anos, destaca a importância que a economia solidária possui, ainda mais em comunidades pequenas, nas quais existem muitas pessoas necessitadas. Ela diz que o projeto começou dentro de um programa da Associação Parceira das Crianças (APAC), que prestava reforço escolar às crianças de baixa renda. Ela percebeu a necessidade de realizar ações que beneficiassem não somente as crianças, mas todas as famílias, para que houvesse geração de renda às mulheres, principalmente. 

“ Eram crianças muito carentes, as mães também: não tinham trabalho, não tinham nada, então a gente pensou em estender às famílias; apesar de que muitas não quiseram, porque queriam imediatismo e o grupo não tem aquele dinheiro imediato. Você tem que vender pra comprar os insumos e ter um lucro pouco, mas que já ajuda”, conta. 

Irene Dias e Valenita Lima expõem produtos na feira

Além disso, Lopes destaca que as feiras da economia solidária para os pequenos produtores possibilitam à questão da visibilidade e possibilidade da criação do chamado network.

“É importante porque nos ajuda, não só na venda, mas na divulgação também. As pessoas perguntam, olham e a gente ganha visibilidade. Assim vamos conhecendo outras entidades e formando uma rede de contatos, além do fato de que podemos entrar em projetos e saber de entidades que podem nos beneficiar”.

A Cooperativa Mista de Agricultores e Cafeicultores da Serra dos Morgados, também de Jaguarari, estava presente no evento, expondo o Café da Serra, produto orgânico produzido na Serra dos Morgados, distante 9 km da sede do município. A produção que começou nas roças de famílias da localidade, hoje é vendida para fora do município e para outros estados, tornando a cidade de Jaguarari uma referência na exploração da agricultura orgânica. Os produtores usam as riquezas naturais para proporcionar o bem comum, sem causar degradação ao meio ambiente, o que é um dos objetivos da economia solidária: a sustentabilidade. 

Josemar Bonfim Silva, de 34 anos, é tesoureiro da cooperativa e um dos produtores do café. Ele reconhece a importância de se constituir uma cooperativa, pois, na sua visão, permite a organização e formalização legal, bem como possibilita melhora na qualidade dos produtos, e, consequentemente, uma competição mais “acirrada” com grandes produtores de café.

Josemar exibe a produção de café orgânico

Para o cooperado e morador da Serra dos Morgados, a economia solidária mudou a sua vida, não somente no aspecto do trabalho e comércio, mas também como pessoa. A cooperativa é um sonho realizado, pois permite que ele use os bens que a natureza proporciona e possa gerar renda no território em que vive. Com isso, não precisa deixar a família para tentar a vida em grandes centros urbanos. “A economia solidária nos proporciona sonhar mais do que a gente já sonhava. A gente não achava que ia tão longe, e com a economia solidária, com a organização que a cooperativa nos dá, podemos alçar novos voos, e competir com grandes produtoras”. 

A meta dos produtores do Café da Serra é se assemelhar, no que diz respeito à qualidade, ao café produzido na cidade de Piatã, na Chapada Diamantina, na Fazenda Tijuco, considerado o melhor café do Brasil pela quarta vez, na safra de 2022, pelo prêmio Cup of Excellence 2022. “Nossa meta é chegar no patamar do café de Piatã, que é daqui da Bahia, e crescer cada vez mais. Eles são um exemplo a ser seguido”, afirma.

Estímulo à economia solidária

A feira também contou com a presença de lideranças e representantes de entidades ligadas ao crédito e microcrédito rural e de pequenas empresas. José Paulo Crisóstomo Ferreira, de 63 anos, é coordenador do programa de microcrédito e finanças solidárias do Governo do Estado da Bahia, formado por bancos comunitários, fundos rotativos e cooperativas de crédito na área da economia solidária. 

Segundo José Paulo, o trabalho do órgão consiste em promover apoio financeiro aos empreendimentos de economia solidária, em ligação com o CrediBahia, programa de microcrédito do Governo do Estado da Bahia, que conta com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (Sebrae) e tem parceria com os municípios. 

José Paulo considera que a economia solidária diminui o êxodo rural e valoriza as potencialidades da produção local, relacionadas aos pequenos produtores e menos favorecidos, bem como é a principal forma de gerar emprego e renda em cidades de pequeno porte, como Jaguarari. 

“Nós entendemos que a economia solidária é hoje o maior instrumento que nós temos para poder gerar oportunidades de emprego, de renda, porque não há como superarmos as dificuldades de forma individualizada. Então, quando as pessoas se juntam elas conseguem superá-las, não somente superá-las, mas ir além, promovendo o desenvolvimento”, conclui. 

As feiras e exposições da economia solidária estimulam a produção local e são também também um espaço de valorização e pertencimento da comunidade, que expõe a produção produzida com respeito ao uso dos recursos naturais.

Por Ana Beatriz Menezes, estudante de Jornalismo em Multimeios, enviada para Agência MultiCiência. Email para contato:  beatrizmennezes30@gmail.com
Edição final: Equipe Agência MultiCiência