Em 18 de outubro de 1958, no Laboratório Nacional de Brookhaven, o físico norte-americano William Higinbotham criou o que viria a ser o primeiro jogo eletrônico denominado “Tennis For Two” (Tênis Para Dois), que simulava uma versão simples sobre o Tênis de Mesa.
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Tennis For Two foi o primeiro jogo eletrônico |
Com o decorrer do tempo, avanço da tecnologia, aprimoramento da inteligência artificial, métodos cinematográficos adotados e captura de movimentos impactaram a indústria dos jogos. O que antes era uma forma de entretenimento, com o intuito de fazer com que o jogador conseguisse o maior número de pontos, passou a ser uma ferramenta educativa e instrumento pedagógico.
Os desenvolvedores de games querem passar uma mensagem. Assim como em filmes, existem jogos baseados na mitologias de outros países, sobre outras épocas, culturas, livros, etnias, contextos sociopolíticos onde o receptor pode não ter vivenciado.
"O computador é um meio expressivo, então você pode criar jogos e demonstrar um ponto de vista seu. A gente tem vários exemplos de sucesso. Um deles é o America's Army, que é o jogo criado pra estimular jovens norte-americanos a se alistar no exército. É um jogo gratuito e ele serve para passar uma mensagem", diz o professor e pesquisador na área de Games, Luiz Adolfo Andrade.
Um exemplo brasileiro de jogo educativo é o Árida: Backland’s Awakening, desenvolvido pelo estúdio Aoca Game Lab, localizado em Salvador (BA). O game se desenvolve no cenário social de 1896, no sertão baiano, na pele da protagonista Cícera, para reproduzir episódio da Guerra de Canudos, que foi um conflito armado onde envolveu o Exército Brasileiro e que levou ao extermínio, em 1897, os membros da comunidade sócio-religiosa liderada por Antônio Conselheiro, em Canudos, no interior do estado da Bahia.
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O jogo Árida: Backland’s Awakening faz o jogador vivenciar o tempo da Guerra de Canudos |
“A Guerra de Canudos eu entendo como um episódio ímpar na nossa história, já foi tema de muitos outros trabalhos culturais, filmes, documentários, livros, trabalhos acadêmicos e faltava um jogo sobre isso. Era uma lacuna de conteúdo, de mercado, mas, ao mesmo tempo, havia o desejo de contar essa história através de uma mídia capaz de alcançar outros territórios que são os games”, afirma Filipe Pereira.
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Filipe Pereira é diretor do jogo Árida: Backland’s Awakening. |
No artigo “As mulheres sertanejas do século XIX e sua representação no game Árida: Backland’s Awakening”, o pesquisador Luiz Adolfo Andrade junto das alunas da UNEB Cristiane Crispim Bezerra, Ebbe Humberta Fernandes Lima e Patricia da Silva Barbosa analisa as personagens femininas construídas a partir da perspectiva e a vivência de uma mulher em um sistema patriarcado.
"Sobre o jogo Árida, a gente fez um artigo com três alunas do programa de mestrado com o intuito de analisar, pra uma disciplina do mestrado do PPGESA, o papel da mulher no jogo", afirma o professor Adolfo.
O jogo já está sendo até levado para dentro das salas de aulas visando provocar debates como na Escola Estadual Anísio Teixeira, em Salvador. “Já tem muitos relatos de escolas e professores que utilizam muito e não apenas na história, mas em outras disciplinas, como geografia, ciências sociais, letras também”, complementa Filipe.
Jogos nas Escolas
Todas as quartas, na IFBA de Juazeiro, acontece um projeto de extensão chamado de “Games na Escola” onde o intuito é de criar uma ponte entre o mundo dos jogos com o setor da educação. O evento é coordenado pelo professor João Batista Rodrigues da Silva.
Segundo o professor, a ideia se originou de atividades interdisciplinares virtuais entre a língua portuguesa e matemática durante o período da pandemia, e depois passou a ser presencial. “Essa dinâmica visou o protagonismo dos bolsistas e voluntários para discutir o game a ser abordado nos encontros que ocorre semanalmente. Além divisão das tarefas no dia do encontro. Assim, percebe-se que esses estudantes, protagonistas do projeto, desenvolveram habilidades ligadas a liderança, estratégias, resolução de problemas, trabalho em grupo, mobilização de conteúdos a serem explorados pelo game”, declara o professor.
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Sobre o jogo Árida, a gente fez um artigo com três alunas do programa de mestrado com o intuito de analisar, pra uma disciplina do mestrado do PPGESA, o papel da mulher no jogo |
Ao fazer a referência sobre o mundo dos video games com a esfera educacional, pode traçar um paralelo com o jogo chamado Divercult. O instrumento foi desenvolvido pelo professor Luiz Adolfo em junção com o apoio da UNEB e CAPS, e aborda temas pertinentes aos direitos humanos e sobre a inclusão. “É uma ferramenta pra ajudar docentes de direitos humanos. Então, a gente fez setenta por cento do conteúdo original e trinta por cento que o usuário, de cada canto do Brasil, pode editar de acordo com a cultura da sua região. Porque aí a gente trata de vultos, acessibilidade ”, diz Adolfo.
Matéria de Tulio de Oliveira, bolsista do MultiCiência