O sol ainda não havia acordado de todo. Eram quase seis horas da manhã na praia do Rio Vermelho, em Salvador, capital da Bahia, em 30 de janeiro de 2009. Dezenas de pescadores conversam e ajustam os últimos detalhes para cair no mar em busca de peixe, de dinheiro, de vida... e na esperança que Iemanjá, rainha do mar, os abençoe.
“Chega de sombra, João”, grita Seu Marinheiro, um dos mais velhos integrantes da colônia de pescadores do Rio Vermelho, pedindo proteção aos seus santos. José Pereira, como é conhecido no cartório, conta que desde já “bem menino” ajudava o pai nos preparativos que precedem a pescaria. “Era um divertimento pra mim ver meu pai, que Deus o tenha, fazer a arrumação da rede e do balde e das facas antes de ganhar esse marzão do tamanho do mundo”. Seu Marinheiro ganhara de um soldado da marinha uma boina branca. “Botava meu chapeuzinho todo santo dia, até quando comecei a navegar. Mas, certa fez, o danado caiu de minha cabeça bem na hora que labutava na rede numa certeira”, explica Marinheiro.
Tudo pronto, é hora de entrar no mar. Seu Marinheiro vai à frente, gosta de impor o respeito. As primeiras jangadas sobem nas ondinas. Uma após outra, são quase cinqüenta ao todo, vão formado uma espécie de muro composto por homes, madeira e velas. Os pescadores soltam gritos, dão risadas. Todos se agitam, quem vai, e aquelas que ficam. Quem dá adeus da terra guarda no peito uma esperança enorme. “Oxalá eles consigam trazer Iemanjá, trazer fartura pra gente”, diz a prece de Natalícia de Jesus, acariciando a barriga de sete meses. Esposa de pescador, de Jesus, espera para o filho um futuro diferente. “Queria mesmo é que meu filho estudasse, formasse bem. A vida do mar é dura demais, muito trabalhosa. Mas, se for destino dele ser do mar, feito o pai, deixa não Deus”, desabafa a dona-de-casa.
Os pescadores de Salvador são ligados ao sincretismo religioso. No dia dois de fevereiro, tradicionalmente acontece a festa de louvação a Iemanjá. Milhares de pessoas vão ao Rio Vermelho carregados de oferendas para Janaina, como também é conhecida a rainha das águas. Para os pescadores, fica a esperança mítica de se casarem com sua rainha, se casar com o mar.
Três dias depois de terem começado a navegar, os pescadores do Rio Vermelho voltam para casa. É dia dois de fevereiro. A praia ferve. Turistas, devotos, baianas tipicamente vestidas, os adoradores das águas estão em êxtase. Vários barcos são lançados ao mar com imagens de Iemanjá juntamente com flores, perfumes, espelhos e pente pra enfeitar sua Mãe. Os pescadores vêm trazendo no peito saudade, cansaço, fé e se emocionam quando se deparam com a praia coberta de branco.
Ao chegarem, ao verem suas mulheres, seus filhos, os companheiros, não resistem mais. Os olhos nadam em gotas de mar. É festa, fartura , é vida, é o mar... fé-fé xorodô.
Crônica baseada na música Arrastão feita por João Paulo Marques, conhecido como João de Valente, Graduando em Jornalismo em Multimeios.
“Chega de sombra, João”, grita Seu Marinheiro, um dos mais velhos integrantes da colônia de pescadores do Rio Vermelho, pedindo proteção aos seus santos. José Pereira, como é conhecido no cartório, conta que desde já “bem menino” ajudava o pai nos preparativos que precedem a pescaria. “Era um divertimento pra mim ver meu pai, que Deus o tenha, fazer a arrumação da rede e do balde e das facas antes de ganhar esse marzão do tamanho do mundo”. Seu Marinheiro ganhara de um soldado da marinha uma boina branca. “Botava meu chapeuzinho todo santo dia, até quando comecei a navegar. Mas, certa fez, o danado caiu de minha cabeça bem na hora que labutava na rede numa certeira”, explica Marinheiro.
Tudo pronto, é hora de entrar no mar. Seu Marinheiro vai à frente, gosta de impor o respeito. As primeiras jangadas sobem nas ondinas. Uma após outra, são quase cinqüenta ao todo, vão formado uma espécie de muro composto por homes, madeira e velas. Os pescadores soltam gritos, dão risadas. Todos se agitam, quem vai, e aquelas que ficam. Quem dá adeus da terra guarda no peito uma esperança enorme. “Oxalá eles consigam trazer Iemanjá, trazer fartura pra gente”, diz a prece de Natalícia de Jesus, acariciando a barriga de sete meses. Esposa de pescador, de Jesus, espera para o filho um futuro diferente. “Queria mesmo é que meu filho estudasse, formasse bem. A vida do mar é dura demais, muito trabalhosa. Mas, se for destino dele ser do mar, feito o pai, deixa não Deus”, desabafa a dona-de-casa.
Os pescadores de Salvador são ligados ao sincretismo religioso. No dia dois de fevereiro, tradicionalmente acontece a festa de louvação a Iemanjá. Milhares de pessoas vão ao Rio Vermelho carregados de oferendas para Janaina, como também é conhecida a rainha das águas. Para os pescadores, fica a esperança mítica de se casarem com sua rainha, se casar com o mar.
Três dias depois de terem começado a navegar, os pescadores do Rio Vermelho voltam para casa. É dia dois de fevereiro. A praia ferve. Turistas, devotos, baianas tipicamente vestidas, os adoradores das águas estão em êxtase. Vários barcos são lançados ao mar com imagens de Iemanjá juntamente com flores, perfumes, espelhos e pente pra enfeitar sua Mãe. Os pescadores vêm trazendo no peito saudade, cansaço, fé e se emocionam quando se deparam com a praia coberta de branco.
Ao chegarem, ao verem suas mulheres, seus filhos, os companheiros, não resistem mais. Os olhos nadam em gotas de mar. É festa, fartura , é vida, é o mar... fé-fé xorodô.
Crônica baseada na música Arrastão feita por João Paulo Marques, conhecido como João de Valente, Graduando em Jornalismo em Multimeios.