Dois Crimes

. 04 junho 2010
A Agência MultiCiência, a partir deste post, publicará toda sexta-feira criações literárias produzidas pelos alunos de Comunicação Social Jornalismo em Multimeios. Na estréia, Dois Crimes, do graduando Laércio Lucas. Quem quiser enviar contos, poesias, crônicas, reportagens literárias, basta nos enviar e-mail para agenciamulticiencia@gmail.com. Dois Crimes Seis tiros à queima-roupa. Sangue e cerveja misturados na mesa do boteco de Zé Manin. Gritaria e um corre-corre desesperado das mulheres. Um homem careca, baixinho, sem camisa, fugia em direção ao matagal atrás dos casebres. Falava cobras e lagartos enquanto “passava sebo nas canelas”: - Toma fila da puta, fi d’uma égua!!, dizia entre palavrões, que soavam como resmungo. No boteco de Zé Manin, juntou gente, ninguém entendeu o acontecido. A Polícia demorou a chegar. Aureliano dos Santos, 56 anos, homem trabalhador, acostumado à labuta na roça, fora morar na cidade grande. Não conseguiu outra ocupação que trabalhar nas grandes colheitas de uva. Casado e pai de Marina, de seis anos, e Malena de 13. Gerusa, sua mulher, sofria com os males de uma doença que enfraquecia os ossos. Mesmo assim era dedicada aos trabalhos domésticos e na educação das filhas. Era oito anos mais nova que o marido. __ Mamãe, posso ir brincá na rua? __ Cuidado. Não fale cum estranhos. Não confie in’ninguém, alertava a preocupada Gerusa. Malena começara a sentir os hormônios fervilhando. Namoricos à vista. Pai ciumento. __ Oxe! Tá pensano o quê? Marmanjo aqui na minha porta? Dexe de furmigage! Um dia Malena pensou em fugir de casa. Queria viver uma paixão arrebatadora com Haroldo, de 18 anos. Fizeram planos de fugir de madrugada. Aureliano os pegou de conversinha num beco quando estava voltando do trabalho à noitinha. Ficou calado, matutando o tempo todo. Gerusa o chamou pra jantar. __ Lano, já botei o di’cumê. __ Já vô, respondeu ainda pensando no que estavam fazendo num beco, a sua filha e aquele cara. Não tocou na comida, entrou no quarto e saiu. A Polícia concluiu o inquérito. O jovem morto no boteco de Zé Manin era Haroldo. Estava levando o copo à boca quando foi atingido mortalmente pelos balaços desferidos por Aureliano que, segundo testemunhas, não contou duas conversas, chegou logo atirando. Aureliano não fugiu por muito tempo. Foi pego algumas horas depois dentro do matagal tentando se esconder dos cães farejadores. Durante o interrogatório na delegacia, Aureliano disse que “aquele cara buliu com a minha filha ” e teve o que mereceu. Malena também foi interrogada. Chorava copiosamente. Ao delegado, disse que Haroldo fora morto por ciúmes do pai, um ciúme que não era de pai. Por Laércio Lucas