Claúdio Lolly Damasceno, para sempre um artista juazeirense

. 07 julho 2010
Um ano no após a morte de Cláudio Damasceno, o estudante de Jornalismo em Multimeios, Jadnaelson Souza, conta um pouco da trajetória do artista


A morte é a única certeza que temos, mas existem pessoas que conseguem fazer esta convicção ser um pouco relativa, pelo menos na lembrança. Este era o caso de Cláudio José Nunes Damasceno, filho de família humilde, que nasceu no dia 16 de maio de 1972 em Itamotinga, distrito de Juazeiro-Ba, e se tornou conhecido em toda região pelo seu trabalho artístico no teatro e na televisão, principalmente com Lolly, seu personagem de maior sucesso.

A história de Cláudio com o teatro começou por acaso. Segundo Devilles, diretor de teatro e responsável pelo lançamento do ator nos palcos, o comediante foi descoberto em uma festa de amigos em que fazia a animação. “Era uma coisa de fundo de quintal mesmo, não tinha nenhum comprometimento com a arte”, conta. Mas, mesmo sendo algo amador, o artista chamou tanto a atenção do diretor de teatro que foi convidado a integrar a Companhia de teatro 1º Ato, dirigida por Devilles. Quando perguntado pelo novo amigo se aceitava montar um trabalho nos palcos, ele respondeu, feliz, mas descompromissado: “É não tô fazendo nada, vamos lá”.


Aceito o convite, Devilles começou a trabalhar o projeto de lançar Cláudio Damasceno como ator profissional o que aconteceu em 1996 com o espetáculo a “A Escrachada”. Mas antes disso, fez uma pequena aparição na peça teatral da Companhia 1º Ato, “As Bedeuqebas” que estava em cartaz, para se familiarizar com o palco.

O teatro era sua grande paixão, mas seu talento não se restringiu a esta arte. Cláudio ficou muito conhecido com a personagem Lolly (em alusão ao nome da cadela de uma amiga sua), tanto que muitas vezes era confundido com o papel. Mas Lolly não nasceu no teatro como muitos pensam, é originário de outra atividade que Cláudio desenvolveu com maestria: a apresentação de programas em rádio FM, meio que exerceu atividade até a morte.

Apesar de trabalhar com humor e seu principal personagem ser bem espalhafatoso, no convívio com os amigos, fora do palco e do personagem, Cláudio se mostrava uma pessoa muito séria e profissional. Não admitia atrasos em ensaios ou em espetáculos. “No trabalho ele era muito cauteloso. Não faltava, era extremamente pontual e não admitia que ninguém faltasse; com ele não tinha brincadeira. A brincadeira era no palco”, conta Marcos Velasch, diretor de teatro, ator e amigo do comediante. Esse profissionalismo proporcionou a Cláudio a confiança do público e outras oportunidades de trabalho como a apresentação de eventos como o Bahia Recall.

A figura excêntrica e língua afiada de Lolly, sempre presentes nas tardes de sábado do rádio na região, renderam a Cláudio um convite, feito por Sibelle Fonseca, para desenvolver um trabalho no programa da TV São Francisco, chamado ‘Tema’. “Convidei para fazer o programa comigo e ele topou na hora.”, confidencia Sibelle que diz também que Cláudio, nesta época, já se mostrava à vontade com a parafernália de TV.

Sempre criativo, com intimidade com as câmeras, o trabalho televisivo o levou a ser convidado por Jota Menezes para representar a região no quadro. No quadro Brasil Total, exibido pela Rede Globo no Fantástico, Cláudio fez três participações. A primeira e a segunda (caprinocultura e vinicultura no Vale do São Francisco), no ano de 2003, foram produzidas pela equipe da TV São Francisco auxiliada pela Globo - Rio, mas a última foi produzida diretamente pela TV Bahia - Salvador. Assim, atingiu o ápice de sua carreira que se prolongou até a sua morte. Essa expansão surpreendeu a todos, mas apesar de ter se envolvido em outras atividades sua força e alma de artista pertenciam ao teatro. “Cláudio ficou maior que as nossas expectativas, ganhou as ruas, ganhou o mundo com Lolly, mas Cláudio Damasceno era do teatro.”, confessa o amigo Devilles.

Além de muito presente no contexto artístico-cultural do Vale do São Francisco, Cláudio era uma pessoa que mostrava a sua militância cidadã em movimentos sociais; foi diretor de eventos da Associação de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais (GLBT) da região e, de acordo com Marcos Velasch, tinha profundo envolvimento com a causa tanto que o grupo nasceu com muita influência dele. O comediante era também cobrador ferrenho de melhores condições estruturais no Centro de Cultura João Gilberto para atender ao público e aos artistas, além de ser síndico do prédio onde morava.

Com uma trajetória de vida marcada por projetos e em plena atividade com o espetáculo “Se Meu Ponto G Falasse”, o dia 7 de julho de 2009 não seria um dia feliz para ele nem para os amigos. Logo pela manhã, o comediante levantou com certa indisposição, mas nada que atrapalhasse sua rotina; à tarde, foi internado às pressas e minutos depois saiu de cena, sem aplausos, sem público, sem riso. Cláudio Damasceno estava morto. Com três paradas cardíacas e uma parada respiratória, um dos maiores artistas de Juazeiro deixava pai, mãe, seis irmãos, muitos amigos e admiradores órfãos de sua alegria, de sua irreverência, de sua graça.


por Jadnaelson Silva para Agência Multiciência