Sala Azul pode ser porta de acessibilidade audiovisual para pessoas com Transtorno do Espectro Autista

MultiCiência 22 maio 2023
Ir ao cinema, comer uma pipoca e aproveitar aquele filme que acabou de ser lançado é o lazer perfeito para muita gente. Mas o que fazer se um barulho, uma iluminação forte, ou um desconforto o atingem e te impedem de aproveitar o seu momento de paz?

             Salas de cinema devem garantir acessibilidade
         Imagem criada com Dall.E

Crianças neurodivergentes, que podem ter um desenvolvimento diferente do esperado pelo padrão normatizado pela sociedade, podem manifestar desconforto em algumas salas de cinema, resultando na restrição de consumo audiovisual devido a não preparação das empresas para receber esse público diverso. Para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), podem ocorrer situações de incômodo ao ir ao cinema, pois, como o espectro não possui padrão comportamental, algumas pessoas podem ser sensíveis a luz, som, temperaturas e texturas. 

A psicóloga Ketlen Xavier esclarece sobre algumas dificuldades 
                               
   

Para a psicóloga e assistente terapêutica de crianças com TEA e outros transtornos, Ketlen Xavier, “a caracterização como espectro acontece porque os indivíduos podem apresentar diferentes sinais e diferentes necessidades de suporte. No desenvolvimento humano, nós temos uma idade média onde os indivíduos alcançam habilidades, no caso de pessoas com transtorno alguns atrasos podem acontecer como por exemplo, dificuldade em rastrear objetos, baixa resposta ao nome, baixo contato visual com adultos e pares, algumas dificuldades motoras e sensoriais também podem ser observadas já nos primeiros anos de vida," declara Ketlen Xavier

Acessibilidade ao audiovisual em Petrolina e Juazeiro

A cidade baiana e pernambucana contam com poucos recursos para criadores de audiovisual, esse seria um dos fatores importantes para a falta de acessibilidade nas produções independentes. Segundo o artista visual e professor de produções audiovisuais, Fernando Pereira, “a produção audiovisual é muito cara, e quanto você adiciona a língua de sinais há um aumento nos custos. Então, acessibilidade é fundamental, primordial, tem que ser feita, mas ela tem custo e isso se torna mais um fator para produções que não têm recurso nenhum”  

Fernando Pereira aponta os custos como fator limitante
                                   

Já no caso das empresas exibidoras de audiovisual, em 2022, a Lei 3091/22 obriga as redes de cinema a ofertar no mínimo uma sala adaptada por mês a pessoas com TEA. São as chamadas "Salas Azuis". Atualmente, as sessões azuis contam com luzes acesas, sons mais amenos, possibilidade de crianças circularem pelo espaço e não possuem trailers antes do filme. Em exibição são sempre animações dubladas com classificação livre.

A rede Cinemark presente em Juazeiro (BA) promove essas sessões mensais desde o ano de 2017 pelo Brasil, já na cidade baiana o projeto só começou no dia 4 de agosto de 2019, três anos após a chegada da empresa na cidade. As sessões acontecem apenas uma vez por mês, como previstas em lei. Já a rede Orient Cinemas dispõe de sessões azuis apenas nos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba e Distrito Federal. Não há indicação de quando as sessões terão exibição em Petrolina(PE). A reportagem entrou em contato com a Orient Petrolina, no entanto, não recebemos retorno.

A psicóloga Ketlen esclarece que é importante que haja mais de uma sessão mensal, além de pensar e atender aos mais diversos tipos de espectros, com pausa entre os filmes e salas próximas para que as pessoas possam se acalmar em casos de crises. Ela afirma também que a inclusão é pensada nesses espaços de forma coletiva, sem criar uma sessão exclusiva para pessoas com transtorno, sendo necessário investir em divulgação e pesquisar sobre o assunto e qual é demanda de cada cidade. 
 
“Acessibilidade é uma constante. Aqui, na região, há a Associação de Amigos dos Autistas do Vale do São Francisco (AAMAVASF ) que é uma associação de pessoas com TEA, pais, familiares e profissionais também, então os cinemas precisam se conectar com essas pessoas que já fazem ativismo e pesquisem sobre o seu público,” enfatiza Ketlen Xavier, 

O mundo do audiovisual propõe uma porta para novas experiências, vivências e imaginação. Apresenta aos pequenos, novas palavras, histórias e ensinamentos. Quem nunca tentou pensar em música da Xuxa para lembrar do resultado da mistura das cores primárias? Garantir acessibilidade nas salas de cinema e proporcionar lazer são essenciais para atender os direitos básicos a todos, melhorando o acesso à cultura nas duas cidades vizinhas.

Reportagem Especial de Amanda Costa Rodrigues para Agência MultiCiência.