O estudo “PAI” demonstra impactos da urbanização na saúde indígena nordestina

MultiCiência 20 junho 2023
Estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) e Universidade do Estado da Bahia (UNEB) aborda os impactos do processo de urbanização na saúde das comunidades indígenas.

O PAI (Projeto de Aterosclerose em Indígenas) é o primeiro estudo que investiga doenças cardiovasculares em um grande número de indígenas e não-indígenas no Nordeste do Brasil. O projeto visa relacionar o índice de enfermidades no sistema circulatório de acordo com o nível de urbanização em comunidades nativas localizadas na bacia do Rio São Francisco.

Foto de Anne Vilela sobre a comunidade indígena Fulni-ô 

O estudo Urbanization and cardiovascular health among Indigenous groups in Brazil | Communications Medicine (nature.com) foi publicado na Revista Nature, de autoria de 10 pesquisadores, coordenados pelos professores Anderson da Costa Armstrong (UNIVASF) e Juracy Marques dos Santos (UNEB).

No total, 999 pessoas participaram do estudo. Os nativos Fulni-ô, localizados em Águas Belas (PE) foram convidados para representar a comunidade com menor grau de urbanização. Eles são a única etnia indígena do Nordeste que se comunica inteiramente com seu idioma tradicional (Yata) no dia-a-dia, divergindo da comunidade Truká (Ilha da Assunção, PE), que normalmente se comunica com português brasileiro em sua rotina.

Foto de Anne Vilela sobre a comunidade indígena Fulni-ô 

Os Truká foram chamados para representar a comunidade com grau intermediário de urbanização. Por fim, o último conjunto de participantes representa o grupo de controle, que é composto por moradores dos bairros Angarí e Centro (maior grau de urbanização), localizados na cidade de Juazeiro (BA).

Os pesquisadores constataram que residentes de áreas com maior urbanização correm risco superior de desenvoltura de doenças cardiovasculares. Os dados assinalam que viver em cidades ou proximidades pode ter impacto negativo nos aspectos estudados. 

Foto de Analice Paron sobre a comunidade indígena Fulni-ô 

O estudo identificou que o número de indígenas com hipertensão e obesidade é alto, sendo as mulheres indígenas com índices de sobrepeso maior que o dos homens. Essas alterações podem ser explicadas por mudanças nutricionais acometidas pela onda de urbanização crescente nas comunidades.

Em relação aos números de pessoas com hipertensão, o povo Truká atingiu resultados não muito diferentes do conjunto dos não indígenas, porém o segundo grupo tem como diferencial uma assistência médica maior e mais acessível, sendo essa uma divergência de peso para com todos os grupos indígenas.

Os pesquisadores concluem que “se por um lado a exposição a riscos cardiovasculares é mais intensa em áreas urbanizadas, por outro lado estar nesses ambientes garante maior acesso à serviços de saúde. Assim, o maior contato dos indígenas em pólos urbanos permite um diagnóstico precoce de doenças”

Para além das interpretações sobre o resultado do projeto, pode-se também refletir a respeito da influência do homem branco e suas características etnocidas em comunidades indígenas. A justaposição de costumes tão distintos (sendo um com características de devastação) não poderia ter um resultado diferente do que se vê desde os tempos de colonização até hoje, ou seja, o assassinato lento da cultura mais vulnerável.
 
Para saber mais sobre o estudo, clique no link:

Pela estudante de Jornalismo em Multimeios, Maria Eduarda Moret.