São João de Petrolina perde caráter popular

MultiCiência 20 julho 2023

Foto Anderson Nery

Uma das festas mais populares no vale do São Francisco, o São João de Petrolina, antes conhecido por São João do Vale, aconteceu entre os dias 16 e 25 de junho, no pátio Ana das Carrancas. Em dez dias de festa, recebeu mais de 800 mil pessoas e trouxe cerca de 40 atrações musicais se apresentaram no pátio de eventos, entre elas: João Gomes, Léo Santana, Alok, Iguinho e Lulinha, Henrique & Juliano, Jorge & Mateus, Dorgival Dantas, Gustavo Lima, Nattan, Bruno & Marrone e Bell Marques.

Organizado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turístico (SEDETUR), Petrolina tem   consolidado uma agenda de música e cantores que atraem ao público, principalmente os turistas. O foco maior da festa foi movimentar a economia local, recepcionar o público com uma megaestrutura de palco, salão de imprensa , camarotes e dispositivos eletrônicos para divulgar as atrações. Além de cantores que compõem a grade do evento, participaram do evento os ex BBBs e a atriz Fabiana Karla.

No entanto, assim como em outras regiões do Brasil, as festas juninas estão sofrendo um tipo de gourmetização, ou seja, algo como sofisticação e incremento. E assim, o forró pé de serra está perdendo espaço para o sertanejo e outros estilos musicais como o eletrônico e axé. “Estão substituindo o forró aos poucos, isso é inegável. As atrações não têm mais essa pegada tradicional ligada ao São João”, comentou a internauta Jady Barbosa.

A festa tradicional de São João, contada pelos ancestrais nordestinos e postas nas músicas do Rei do Baião, Luiz Gonzaga,  costumava reunir a família para celebrar a abundância da colheita, dançar forró e “ajuntar" pessoas em torno de uma fogueira para comer milho e brincar com as crianças. Isso, já não é uma prática tão valorizada. Agora, as comemorações do São João estão inseridas num processo de elitização e com isso a festa junina de Petrolina vem sendo criticada em função dos altos preços cobrados nos serviços. “Essa festa é dividida por camada social, a gente sabe que tem camarotes que são um absurdo de caro e inclusive não só isso, as bebidas e comidas também”, afirma Barbosa.

Os valores dos produtos vendidos dentro da festa são uma das principais queixas relatadas pelo público. No Pátio Ana das Carrancas, um litro de uísque vendido em média no mercado por R$170,00, custava R$340,00 durante o evento. O litro de uma cachaça comum ultrapassou os R$100, e o refrigerante em lata chegou a custar mais de R$6 a unidade

Este ano, quem decidiu sair de casa para experimentar as comidas, petiscos e bebidas no pátio de eventos se surpreenderam. "Todo ano esses preços aumentam um pouco, mas esse foi um desastre. Pra gente que é trabalhador rural e tira uma folguinha para curtir, meu sentimento é que essa festa não é mais pra gente”, disse o trabalhador rural, Hiago Pereira.

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), considera-se preço abusivo, quando o fornecedor de produtos ou serviços exige do consumidor uma vantagem excessiva. Os organizadores do evento não se preocuparam com esse "comercio" de altos custos, assim como no quesito acessibilidade ao público. O local tinha pouca visão, estava situado do lado do palco o que tornou uma dificuldade para as pessoas verem ou acompanharem os artistas. Ainda assim,  a festa de Petrolina se intitula nas redes sociais como o melhor São João do Brasil. Mas,  a festa ainda é do povo?

Com o desaparecimento aos poucos das festas dos bairros nesse período junino, a cidade vizinha, Juazeiro, acaba não tendo outras oportunidades de entretenimento para a população. Boa parte dos apaixonados por uma festa popular vem para Petrolina e se junta com o público da cidade para aumentar o número de pessoas que participam da festa, mesmo que o custo não seja acessível para a maioria da população.

Os camarotes também enfatizam o distanciamento das classes sociais. Quem tem melhor poder aquisitivo ocupa esses espaços. Os privilegiados financeiramente estão mais próximos dos cantores. As demais pessoas ficam mesmo na pista maior e se aglomeram diante do palco ainda que esteja longe. Ou seja, o público que curte a festa na muvuca não tem as mesmas oportunidades e esses acabam sendo mais explorados, visto que são pessoas com uma condição financeira menor.

Com tradicional festejo,  o São João deveria carregar a essência da cultura nordestino, não só com uma programação intensa de shows com atrações de forró, quadrilhas juninas, barracas de comidas típicas, mas também com preços justos que atendam ao público e que a festa seja do povo e feita para o povo.


Por Lívia Bernardo, Roseane Pereira, Micaelly Nery, Vanessa Taratá

Notícia desenvolvida na disciplina Redação Jornalística I, ministrada por Teresa Leonel