Internet, sites, aplicativos e smartphones se tornaram objetos fundamentais no cotidiano da maioria das pessoas e, no campo da comunicação, avançam cada vez mais, alterando o trabalho jornalístico. Na verdade, as tecnologias de informação, como máquina de escrever, impressões de fotografias, computadores etc sempre fizeram parte do cotidiano do jornalismo, porém, as redes sociais, o uso excessivo das plataformas digitais e agora a Inteligência Artificial – IA se tornaram pauta pelas questões que podem afetar a saúde mental dos usuários, independente da idade e objetivo da sua utilização, disseminando possíveis conflitos éticos sobre o uso delas no jornalismo.
Para entender melhor essa situação, o MultiCiência entrevistou o jornalista e pesquisador nas áreas de comunicação, saúde e tecnologias, Paulo Faltay, um dos convidados da mesa de abertura do Intercom Nordeste 2024, que ocorreu nos dias 08, 09 e 10/05/2024, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Multi: As
inteligências artificiais já participam de nosso cotidiano, facilitando tarefas
e organizando sistemas ou ideias. Como e até onde essa tecnologia pode
influenciar nas redações e no trabalho do jornalista?
Paulo
Faltay: Já existem recursos que facilitam e tornam quase automáticas as nossas
tarefas no dia a dia, como o corretor dos teclados de celulares e aplicativos
de digitação, sistema de recomendações e a verificação de dados e checagem de
fatos. As tecnologias já fazem parte do jornalismo. Mas também precisamos
pensar como os jornalistas utilizam elas, pode ser uma tradução, transcrição de
áudio, elas podem ser usadas para otimizar o seu trabalho. As tecnologias vão
influenciar na pré-produção, no produto final e também na pós-produção.
Multi: Nós percebemos no dia a dia que ao acessar
algum site ou falar que temos interesse em algo, somos bombardeados com
matérias e anúncios sobre aquilo. Como os algoritmos podem influenciar, não
somente uma escolha de consumo de um produto, como também a nossa visão
política?
Paulo
Faltay: Os sistemas de conteúdo e recomendação funcionam como uma espécie de
bolha ou câmera de eco, ela calcula as suas atividades na internet, os seus
likes, comentários, compartilhamentos e produtos que consome, criando um
perfil. Não é uma rede humana que te
influencia, como família, amigos e outras pessoas que você pode conhecer.
Então, elas te fazem acreditar que você tem uma liberdade, mas elas te
“prendem” em assuntos e coisas que você já sabe ou estão diretamente ligadas
com os conteúdos que você já está acostumado. O sistema segue mais na linha do
não mostrar, ou seja, ele esconde outros assuntos para o usuário.
Multi: Em
pesquisas recentes, foi apresentado que o uso da internet, de aplicativos e o
excesso de informação fazem mal para a nossa saúde mental. É possível reverter
esse quadro e tornar o mundo digital menos agressivo? Como?
Paulo
Faltay: Eu não gosto de pensar nesse campo da saúde mental e das redes sociais
como se existisse uma diferença entre tecnologia e uma pessoa individual, elas
estão relacionadas, existe uma relação humana e tecnologia. E nesse processo,
ocorre uma disputa, uma competitividade além do normal para entrar dentro de
nichos e mercados que são baseados em curtidas, comentários e visualizações.
Nesse caso, é necessário repensar o mercado e a construção e o desenvolvimento
dos algoritmos, mas isso também precisa ser feito a partir de uma mudança de
comportamento do usuário comum das plataformas digitais. Esse processo está
diretamente ligado com a comunicação. Somos nós, jornalistas, que também
precisamos trazer informações, educar e repensar como devemos usar a nossa
credibilidade para tentar reverter essa situação.
Multi: E por
fim, o que deve mudar na mente dos futuros profissionais de comunicação?
Paulo Faltay: O grande jornalismo e a comunicação sempre estiveram no caminho para alcançar um grande público e vender, no entanto, é preciso saber quais são os valores e as virtudes de uma comunicação e da comunicação digital. Não podemos pensar somente nos parâmetros das plataformas, temos que usar de estratégias e desses valores e virtudes do jornalismo para mudar esse panorama, seja nas pesquisas como também nas redações, matérias e reportagens.
Por João Pedro Tínel, estudante do curso de Jornalismo em Multimeios e colaborador do MultiCiência.