Não é massa mesmo!

. 05 janeiro 2011

Aproveitando as férias na capital baiana, não poderia deixar de fazer uma coisa. Não, não era ir ao Bonfim, Pelourinho, Farol da Barra ou outro ponto turístico de Salvador. Minha maior curiosidade era conhecer o Massa! Para os que nunca ouviram falar, Massa! é o jornal impresso lançado pelo Grupo A Tarde. Eles dizem que o novo veículo é feito do seu jeito, mas que jeito é esse?

A convite de familiares, resolvi passar o dia de Natal na Ilha de Itaparica. E, dentro do Ferry Boat, vi uma vendedora gritando: “ Olha o Massa!, é só cinquenta centavos!”. Não perdi tempo e comprei o meu exemplar. Para começar, me assutei logo com a principal manchete: “Gringos se dão mal”. Depois desse golpe, pensei: A coisa vai ser pior do que imaginava. E foi!

O Massa surgiu com a proposta de conter o crescimento do principal concorrente do A Tarde na Bahia, o jornal Correio, que, para superar o rival, passou por reformulação no layout, linha editorial e no preço. O Correio começou a priorizar notícias policiais, esportes ( lê-se futebol) e sobre a vida dos famosos. Não deu outra, virou líder de vendas! E é claro que o A Tarde não deixaria barato. Assim, nasceu o Massa!.

Com textos que usam as gírias do “povão”, o Massa! busca parecer mais com o seu público. Na capa do jornal, sempre tem uma mulher semi-nua e as manchetes não dispensam os tons apelativos, isso tudo sem falar da cor vermelha... Mas a pergunta a ser feita aos idealizadores do veículo é se, para ser popular, é mesmo necessário só noticiar violência, futilidades e futebol? Será que os moradores das periferias não têm o direito de saber sobre a política? Ter dicas sobre um bom filme, saber mais sobre literatura?

De olho nas classes C,D e E, Massa! e Correio levam para o impresso todo o sensacionalismo visto na Tv em programas como o “Balanço Geral”, apresentado por Raimundo Varela e o “Que Venha o Povo”, liderado por Casemiro Neto. Esses programas fazem sucesso por um simples motivo: é onde essa população têm a aportunidade de se ver na mídia, porém, ela sempre é mostrada como o traficante que foi preso, a mulher que precisa de cesta básica para sustentar os cinco filhos abandonados pelo pai, as adolescentes fascinadas pelas bandas de pagode que as homenageiam chamando de cachorra.

A verdade é que, para conseguir vender mais, os principais jornais de Salvador abriram mão do jornalismo. Um dizendo que mostra o que a Bahia quer saber e o outro afirmando que é feito do seu jeito.

O nome Massa, com certeza, não é em alusão à gíria. Na Bahia, uma coisa massa é aquilo bem feito, admirado por muitos e que vale a pena conferir. O massa do A Tarde deve ter relação com o dicionário, que denomina massa como igual a aglomeração. Nesse sentido, ela engloba a população mais carente de educação e dinheiro, que passará a ter acesso a um impresso, em virtude do seu baixíssimo preço, e começará a ter a ilusão de que agora é culta, pois lê jornal. Isso seria ótimo e verdadeiro se a qualidade do produto fosse massa, assim como na gíria.

Por Emerson Rocha

Foto: Divulgação