Os lápis de cor e as pinturas de maquiagem ajudaram Alzyr Anttônio Sá Brasileiro a colorir sua infância e posteriormente, sua caminhada ao longo dos anos. Alzyr é petrolinense e feito em cores, seja pelo seu corpo artisticamente tatuado, seja pela sua militância na causa LGBTQIA+. Passeando por cenários profissionais como o teatro, maquiagem, moda, fotografia e assistência social, mostra o quão sua trajetória é plural e multicor.
- Eu sempre me vi uma criança diferente das outras, tive
dificuldade de me comunicar porque eu me sentia o avesso delas... Tenho
lembranças de coisas e dúvidas que passei, de violações e violências que
sofri.
Assim Alzyr relembra o momento cinza da sua vida no recorte da infância no colégio, no qual a violência e o bullying eram frequentes na sua rotina colegial. Porém a fase de tristeza não resultou em frustrações e traumas, pelo contrário, a criança colorida foi transformada em alguém que luta por uma causa individual e também coletiva.
Alzyr tem verdadeiro fascínio pelas cores e a caixa de lápis
de cor ofereceu à sua imaginação múltiplas funções. O teatro, o rádio e
estilismo de moda são as cores primárias em sua carreira profissional, seguidas
da maquiagem, fotografia e o serviço social. Na vida adulta esse leque - ou por
que não dizer paleta de cores - faz com que Alzyr seja um arco-íris de tão
plural e rica que é sua jornada
Fugindo de todos os “padrões” estabelecidos por uma sociedade
conservadora do sertão pernambucano, a binariedade de gênero não se encaixava
em seu corpo colorido. Essa dúvida só conseguiu ser explanada em 2018, quando
Alzyr se reconhece como não-binare, alguém que não tem o masculino e feminino
como identidade. Indagado por qual artigo deve ser chamado Alzyr sorrindo
responde:
- Pra mim tanto faz me chamar de ele, ela, elo, amor,
amora... Tanto faz.
Sentindo a necessidade de lutar por ser alguém diferente e
fazer com que sua voz fosse ouvida, a militância foi algo que fluiu de forma
natural como defesa diante das violências na escola e dos preconceitos
enfrentados ao longo da vida. Motivado por isso e também por injustiças
relacionadas a comunidade LGBTQIA+ se viu no dever de ajudar essa população que
é tão marginalizada socialmente.
- Quando eu vi que eu era uma criança diferente e que eu
sofria aquelas violações e não baixava minha cabeça diante delas... A partir
daí comecei com a militância
Em busca de trazer ações que pudesse visibilizar a população
LGBTQIA+ de Petrolina-PE e região, Alzyr integra o Projeto Somos em 2000, que
formava militantes no Brasil do movimento LGBT, e posteriormente, fundaria na
cidade o movimento Amor Igual. Após diluição do grupo, formaria a Associação
Movimento da Parada LGBTQIA+ de Petrolina que atuou até novembro de 2019.
Vendo a necessidade de assistir a população LGBT tendo em
vista o seu grande crescimento nos últimos 20 anos, e como suporte para a
comunidade se fez fundamental a criação do Movimento Cores, em defesa da
cidadania e do orgulho LGBTQIA+. Na presidência Alzyr idealizou a Casa Cores,
um lugar que terá a finalidade de acolher as pessoas vítimas da LGBTfobia,
oferecendo serviços gratuitos no seguimento jurídico, psicológico, e também
oferecer um espaço cultural.
Assim Alzyr segue colorindo
e deixando rastros de alegria por onde passa. A paixão pelas cores e por ser
multicor faz dele ou dela alguém admirável, seja por sua história de vida ou
pelo que desenvolve politicamente, aliás, Alzyr nos ensina que o existir, o
vestir e o se comportar é político. Cuidar do outro é colorir, é
politizar.
- As cores me seguem e eu
sigo elas, porque minha vida é colorir.
Quem desejar contribuir com
a aquarela que será a Casa Cores, pode doar qualquer valor ou material de
construção através do Pix; CNJP: 36.331.582/0001-36 ou entrando em contato pelo
Instagram @corespnz. A contribuição é parte do movimento, colorindo e fazendo a
diferença na vida das pessoas.
Perfil Jornalístico escrito por Cássio Costa para Agência Multiciência.