No último fim de semana, de 19 a 21 de maio, os alunos da Universidade do Estado da Bahia – Campus III, Juazeiro, participaram do 10º Curso de Comunicação e Educação para a Convivência com o Semiárido, no Centro de Formação Dom José Rodrigues. O curso foi realização do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA) em parceria com o Núcleo de Pesquisa e Extensão do Departamento de Ciências Humanas III e o projeto de extensão da universidade Agência Multiciência.
No primeiro dia de participação, sexta-feira à noite, foi exibido o filme Uma História de Amor e Fúria, de Luiz Bolognesi (2013), que conta a história de um guerreiro indígena imortal que vive há 600 anos, desde o passado do Brasil até o futuro do país, lutando para acabar com as repressões da história brasileira e achar a alma perdida de sua amada. O filme contém ideias revolucionárias e populares explícitas e uma animação que mostra beleza e ruínas, requerendo conhecimento e interpretação histórica. E é nesse ponto que as discussões do curso estimularam uma discussão política, histórica e social do semiárido.
O curso demonstrou que o afeto é um pilar para a luta popular, além disso o conhecimento se torna base para ampliar e melhorar a organização do povo, das ideias e do combate dos estereótipos da região, assim como levantar sempre a bandeira da resistência e da convivência com o semiárido. Partilha afetiva com as comunidades, conhecimento e a resistência são alguns dos principais pilares das discussões do curso.
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"Para Além do Barreiro". Foto: Laise Ribeiro |
“Viver sem conhecer o passado é viver no escuro”
O filme retrata que manter a memória do passado é essencial para o hoje, o IRPAA faz o mesmo. A partir de uma contextualização diferente do filme, usando como fator principal o semiárido, o curso traz o questionamento da falsa ideia da impossibilidade da vida nessa região. A resistência e adaptação para convivência no semiárido refletindo o avanço do agronegócio, explica o consciente antifascista e de pertencimento a terra dos povos desse espaço. O Estado é um “parceiro” contestável, disponibiliza a terra para uso, vivência e trabalho, mas impõem condições e prazos inconstitucionais de declaração de origem e identificação. As lutas das pessoas do semiárido é constante e atrelada ao afeto, seja a terra, aos familiares ou a justiça.
“No Semiárido não falta água, falta justiça”
As terras condenadas como inúteis pela mídia hegemônica, são o mesmo terreno criado para uma imagem de salvação pelo grande investimento de expansão do comércio de frutas entupidas de agrotóxicos e do famoso “agro é pop”. Na década de 1970, o bispo de Juazeiro, Dom José Rodrigues transmitia em seus discursos os ideais de valor e vida no semiárido. A frase do bispo “No Semiárido não falta água, falta justiça” permanece até hoje como símbolo da educação popular e durante as reflexões na convivência com esse espaço.
Esse aspecto é reafirmado a todo o momento, usando as realidades e enquadramentos negativos da região como crítica e disseminando um retrato positivo da convivência com o local. A educação e comunicação atreladas aos aspectos pessoais e de contribuição com a valorização do semiárido é uma ação carregada de força política popular. A força política e afetuosa transmitida no curso certamente tocou cada um que participou dessa ação.
Gratidão
Essa foi a palavra mais usada na avaliação em conjunto das experiências do curso. Existe a desconstrução e construção da imagem do semiárido. O IRPAA usa o afeto, a história, a política e, principalmente, a participação dos alunos para a reformular a visão de cada um presente naquele espaço. O semiárido, com um ponto de vista rodeado somente de desafios e limites, agora também tem possibilidades, diversidade, potencialidade, valor e mais gente grato e afetuoso com essa terra.