Do candeeiro à tecnologia da irrigação, na trajetória do produtor rural Valdemiro Rodrigues

                                                                                   Foto: arquivo pessoal

No coração do Sertão da Bahia, há um povoado chamado Itamotinga, área rural de Juazeiro. Lá está o mundo todo de Valdemiro Rodrigues Gonçalves. Foi lá que ele nasceu e carrega no rosto o amor e as marcas deixadas pelo sol da Caatinga.  “Didi”, como é conhecido na região, é daqueles produtores rurais que aprendeu com a vida sobre cada palmo de chão, faça sol ou chuva. Nas mãos, a história de quem construiu tudo com esforço e paixão pela agricultura. Aos 63 anos de idade, ele se orgulha de sua história desde que veio ao mundo quando nem havia energia elétrica na casa da família.

“Nasci com parteira, sob a luz de candeeiro”, conta ele que foi criado na roça e desde pequeno ajudava os pais a plantar feijão, mandioca e produzir farinha para o sustento da família. Só na vida adulta foi que teve privilégio do acesso à luz  elétrica. Os estudos foram feitos com dificuldades e alguns atrasos diante das dificuldades financeiras da família.

Após um intervalo de oito anos fora da escola, Didi concluiu a 8ª série do antigo ginasial em 1988. Em 1991, aos 30 anos, formou-se técnico em agropecuária pela Escola Agrotécnica de Juazeiro. Graças ao diploma, lhe surgiram oportunidades de trabalho em diversas empresas. Há pouco mais de 20 anos, deu início a um sonho: a criação do projeto da Agropecuária Santa Isabel, a 5 quilômetros da zona urbana. Tudo começou com quatro hectares irrigados e hoje somam mais de dez.

Sua produção só tem crescido com uma variedade na fruticultura incluindo manga, melancia, melão e, principalmente, uva, como carro-chefe. “A agricultura é minha paixão. Cada dia gosto mais e procuro me aperfeiçoar para atender o mercado”, afirma. A Fazenda Santa Isabel há anos vem agregando inovação tecnológica. O sistema de irrigação é automatizado e funciona durante a madrugada, aproveitando a tarifa reduzida de energia, com economia de até 70% na conta.

                                                                             Foto: arquivo pessoal                                                                          
                               
“Antes, eram quatro homens por hectare. Hoje, com dois, a gente faz tudo”, ressalta. De acordo com Didi, a adoção da fertirrigação - técnica que aplica fertilizantes via água de irrigação - otimizou ainda mais o cultivo, aliando sustentabilidade e produtividade. Apesar dos avanços, o produtor que se identifica como micro empresário observa que competir como pequeno produtor em um cenário dominado por grandes empresas e produtores estrangeiros não é tarefa fácil.

Hoje a propriedade ocupa 30 hectares, sendo 6 de reserva legal e 21 agricultáveis, com 10 hectares de uva e 7 voltados ao cultivo de manga, além de   melancia, melão e feijão. A produção de uva de mesa está concentrada principalmente no Vale do São Francisco, com uma área cultivada superior a 12 mil hectare. Valdemiro adianta que está se voltando para  a produção de uva de mesa, cultivada especificamente para consumo in natura, ou seja, para ser consumida fresca, ao contrário das uvas destinadas à produção de vinho ou sucos.

Os desafios enfrentados na agricultura são muitos. Há cinco anos, ele perdeu 6 hectares de goiaba com mais de quatro mil pés e  expectativa de colher seis caixas de frutas por planta. “Foi um investimento de R$ 150 mil. Entraram vermes microscópicos chamados nematoides, que se disseminaram no pomar. Perdi tudo o que previa faturar, não faturei”, lamentou ele que de certa forma já deu a volta por cima e aposta em parcerias com empresas maiores que já atuam no mercado internacional.

Educação e agroturismo

Além de agricultor, Didi também vem se tornando um exímio educador informal. Desde 2010, quando começou a receber visitas escolares, sua propriedade já foi destino de mais de 400 ônibus, reunindo cerca de 1.200 estudantes de quase todos os estados do Brasil. Tudo começou quando Valdemiro recebeu uma ligação de um amigo sugerindo que ele recebesse uma turma da Escola Agrotécnica do IFPE (Campus Barreiros) em sua agropecuária.

Desde então, a parceria se consolidou e, ao longo de 30 anos, dezenas de alunos, visitaram a propriedade para aprender sobre manejo na fruticultura e irrigação. "A partir dessa visita, o boato correu sobre os resultados e começou a despertar interesses de outras instituições", lembra Valdemiro.

Diversas caravanas da maioria dos estados do país reunindo turistas, empresários, produtores e representantes de várias instituições já circularam pela fazenda sob a coordenação de Valdemiro e sua equipe.  Ele também faz o aparato da comunicação empresarial ao produzir conteúdos sobre as visitas e outras atividades para o Instagram. "Para conquistar o turista, é preciso ter o produto e a história. Muitos que vêm visitar me acharam pelas redes sociais socias", observa

                                                                                Foto: arquivo pessoal

Para Valdemiro, cada visita é uma oportunidade de troca e de possíveis negócios, ao tempo que ajuda produtores de outras regiões a conhecerem nossa complexidade agrícola. “O que eu não souber responder, gravo e depois procuro. Hoje, o celular virou minha biblioteca”, conta.  O nome da fazenda é uma homenagem à mãe: “Isabel era uma santa, a melhor do mundo”, diz, emocionado. Na Santa Isabel, Didi transformou a roça em espaço de aprendizado, acolhimento e troca de saberes.

                                                                                    Foto: arquivo pessoal

Nas postagens de sua rede de comunicação, ele registra os momentos com fotos e vídeos no campo. Também reflete sobre os desafios da agricultura familiar no Vale do São Francisco, uma das regiões mais produtivas do Brasil. Em meio a tecnologias de ponta e concentração de renda, Didi acredita no caminho oposto: o da partilha. “Tem que ter coragem, visão e amor pelo que faz. Aqui é plantar no sol, colher na chuva e aprender o tempo todo”.

Reportagem  produzida na disciplina  de Redação I, sob orientação do professor Emanuel Andrade.

Por Amy Ferreira e Júlia Araújo, estudantes de Jornalismo em Multimeios.




Ciência e inovação tecnológica para soluções sustentáveis na agricultura familiar é o foco do Semiárido Show de 2025

Estrutura da edição passada. 
Crédito: ASCOM Embrapa Semiárido 
Com o foco na inovação tecnológica, a 11ª edição do Semiárido Show busca soluções sustentáveis para o desenvolvimento do semiárido, destacando o protagonismo da agricultura familiar no Vale do São Francisco. O evento traz como tema "Ciência e Inovação para a inclusão socioprodutiva” e acontece de 26 a 29 de agosto, na sede da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em Petrolina -PE.

A temática está alinhada com a 30ª Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), marcada para novembro, em Belém-PA, que promete reunir milhares de pessoas de aproximadamente 200 países para avaliar, discutir e aprovar metas para o combate aos efeitos da crise climática no mundo. Para Lúcia Kiill, chefe-geral da Embrapa Semiárido, a edição de 2025 do Semiárido Show promete ser um espaço inovador, entendendo a importância da agricultura familiar sustentável unida à COP30. A ideia não é somente promover uma agricultura que resista às adversidades do clima, mas que seja parte ativa da solução global para o enfrentamento das mudanças climáticas.

”Esse é um tema que está aliado com à Cop 30, e buscamos com ele promover discussões e pensar políticas públicas em torno de temas centrais para nós, como a sustentabilidade rural, o uso eficiente da água, o manejo sustentável, uso também de energias renováveis, a agricultura de baixo carbono e o combate à desertificação”, destaca Kiill.
Palestra sobre a divisão social do trabalho.
Crédito: Embrapa Semiárido 
Novidade na programação 

Após mais de uma década de realização do Semiárido Show, esta edição contará pela primeira vez com uma mostra e rodada de negócios da Caprinovinocultura. A proposta é oferecer oficinas práticas, demonstrações de manejo e estandes comerciais com produtos voltados à cadeia produtiva de caprinos e ovinos dentro da matriz da agricultura e pecuária familiar, buscando fortalecer a comercialização e a visibilidade dos criadores da região, além de estimular o intercâmbio de conhecimentos técnicos.

Com público estimado em 20 mil visitantes, o evento vai reunir pessoas de vários municípios do Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste, além de agricultores familiares, técnicos, pesquisadores, estudantes, gestores públicos e representantes de movimentos sociais. 

O Semiárido Show será realizado em um dos campos experimentais da Embrapa Semiárido, que fica na rodovia BR-122, Km 50, em Petrolina, no sertão de Pernambuco. Todas as atividades são gratuitas e vão ocorrer nos períodos da manhã, tarde e noite. Não é preciso se inscrever para participar e a programação pode ser consultada aqui 
(https://www.embrapa.br/semiaridoshow/programacao).

Por Ana Beatriz Menezes e Jailane Braga, estudantes de Jornalismo em Multimeios e colaboradoras do MultiCiência.



A inovação do fazer jornalismo digital e o mapeamento de consumo de notícias no Velho Chico: Conheça o Projeto PILOTOS

Foto: Divulgação 

Com a proposta de criação de um laboratório de experiências em comunicação digital e no desenvolvimento de produtos inovadores no campo do jornalismo, surgiu o PILOTOS, o mais novo projeto de pesquisa e extensão do curso de Jornalismo em Multimeios da Uneb, em Juazeiro, no norte da Bahia. Coordenado pela jornalista e professora Talyta Singer, o projeto vai, em um primeiro momento, buscar entender como funciona o consumo de conteúdo jornalístico na população do Vale do São Francisco e preencher lacunas de dados sobre os hábitos de consumo na cidade baiana.

A iniciativa funcionará como uma redação experimental focado no jornalismo digital e na produção de conteúdos interativos com o público que terá papel fundamental na lógica empreendedora do jornalismo. Apesar de se configurar como um projeto de extensão, as ações caminham em conjunto com atividades de pesquisa.

O PILOTOS tem como objetivo principal criar um laboratório de experiências em comunicação digital, voltado para ações que não se encaixam nos formatos tradicionais de disciplinas ou em outros projetos existentes. A proposta pretende desenvolver protótipos e formatos que dialoguem diretamente com os hábitos e necessidades de grupos específicos.

O foco está na produção de um jornalismo que seja, de fato, lido e relevante. Isso significa apostar em qualidade, impacto e responsabilidade social, evitando práticas como clickbait, desinformação e sensacionalismo. “A gente publicar não quer dizer que tem alguém lendo do outro lado. Só é jornalismo se tem alguém lendo”, destaca a coordenadora Talyta Singer.

Mais do que informar, o projeto quer experimentar e construir novas formas de fazer jornalismo, mais próximas do público e das transformações digitais.

Primeiros Passos

Inicialmente, os estudantes do curso de Jornalismo em Multimeios são o público-alvo e serão os responsáveis por desenvolver as atividades, garantindo a participação estudantil ativa no projeto. Além disso, o PILOTOS elegeu outros dois públicos para trabalhar: idosos e o setor do agronegócio.

Para os idosos, a intenção é desenvolver e testar produtos de comunicação específicos. No caso do agronegócio, “uma das primeiras coisas que a gente vai fazer é sentar para conversar com essas pessoas, para saber qual é o tipo de produto de comunicação que elas gostariam de ver, qual é o tipo de demanda de comunicação que elas têm e que não está resolvida”, declara a professora.

Além disso, pessoas de fora da universidade são incentivadas a colaborar com o PILOTOS, pois, segundo a professora, não se quer fazer jornalismo apenas com jornalistas. Ela explica que este momento é ouvir as pessoas e saber do consumo de mídia, é para conversar com quem está fora, já que quem estuda e pesquisa jornalismo pode ter um hábito de consumo muito específico ou restrito.

A equipe do projeto quer que as pessoas venham conversar e dar ideias. A fase atual do projeto envolve "arrumar a casinha" para começar a marcar esses encontros. Para mais informações sobre o PILOTOS, os interessados podem entrar em contato com a professora Talyta Singer pelo e-mail talytasinger@uneb.br.



Por Maria Helena Almeida e João Pedro Saraiva, estudantes de Jornalismo em Multimeios e colaboradores do MultiCiência.


Em cordel ilustrado, Aldy Carvalho evoca a "Arte de ser vaqueiro"

Porta e cantor Aldy Carvalho
O poeta, cantador, violeiro e escritor Aldy Carvalho, sertanejo de Petrolina, há muito vem explorando sua criatividade multiartista, para além das fronteiras do Nordeste, sendo que o Sertão se mantém nas veias abertas de sua arte. Com uma vasta obra, entre livros e discos, que frequentemente mapeia o universo caatingueiro, Aldy acaba de jorrar no campo literário em forma de cordel, seu olhar aguçado para o mais impávido personagem da caatinga em “A Arte de ser Vaqueiro”(Editora Nova Alexandria), em circuito nacional, com belas ilustrações de Rafael Limaverde.

Nascido em Petrolina, Vale do São Francisco, Aldy sempre bebeu na fonte do rio São Francisco, migrou para São Paulo, mas manteve sua lupa poética focada nas rotinas do povo sertanejo. Cantadores, violeiros e vaqueiros sempre estiveram no cenário real de sua convivência quando criança. Desde que começou a externar sua veia artística, ao longo de décadas, sua obra foi se desenhando como um verdadeiro mosaico que reflete o universo sertanejo, mesclando o lirismo das léguas percorridas com as veredas abertas por grandes nomes da literatura brasileira, como Ariano Suassuna e Guimarães Rosa.
Foto: Divulgação 
Em “A Arte de ser vaqueiro”, com a apresentação do escritor Pedro Monteiro, o autor retrata na linguagem de cordel com estrofes em sextilhas, a profissão de vaqueiro no Nordeste, explorando a bravura e a tradição desse personagem tão presente na realidade sertaneja. Para ele, a profissão de vaqueiro em sua labuta personifica bravura a tradição do povo nordestino.

Nesta obra, o poeta cantador conduz o leitor pelos caminhos áridos da caatinga revelando em seus versos a essência histórica e cultural desse enigmático personagem - celebrando esse importante ofício de vaqueiro reconhecida pela lei 12870 / 10 / 2013.

Aldy Carvalho dedica o novo livro – a ser lançado no segundo semestre em Petrolina, à memória de José Luiz Barbosa, o “Zé do Mestre”, vaqueiro de Salgueiro, Sertão Central, que faleceu em março deste ano. “No Sertão fica seu nome feito marco no gibão/ foi vaqueiro de respeito a aboiador e artesão de Pernambuco(...)/Salgueiro canta saudade, mas o amor ecoa agora na voz da eternidade O cavalo o boi a Terra e a fé são as paixões do vaqueiro”.

Ao longo da horizontalidade do texto poético costurado com primor, a obra é ilustrada por Rafael Limaverde que dá vida às palavras com imagens marcantes da figura do vaqueiro. O pesquisador e caatingueiro, de Curaçá(BA), Omar Babá Torres, endossa a obra em um texto que agrega o valor social e a arte de ‘Ser Vaqueiro’.

Para ele, o homem escolhido pelas circunstâncias da vida para ser um vaqueiro torna-se um ser síntese dos conflitos entre os limites e o ilimitado do possível e o impossível e do permanente embate da morte com a vida. “O vaqueiro é tão naturalmente superior que se avistadas três pessoas num caminho, duas em pano e uma encourada, assim é dito: ali vem uma criança, um homem e um vaqueiro”, descreve Omar.

Contatos para conseguir o exemplar (pazinko@gmail.com)

Fotos: Arthur Carvalho e Jefferson Coli

Por Emanuel Andrade, jornalista, professor e pesquisador.



Estudante bolsista de iniciação científica da Uneb tem projeto premiado e participa da 77ª reunião da SBPC, em Recife (PE)

A estudante Cibelle Vieira, do 6º semestre do curso de Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), em Juazeiro (BA), esteve presente na Jornada Nacional de Pesquisa, sendo a única representante do Campus III a participar da 77ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Recife (PE), na última semana, entre os dias 13 e 19 de julho. A discente foi laureada na Jornada Científica da Uneb, no ano passado, com a pesquisa “Análise da Representação do Semiárido Brasileiro na Websérie ‘Contando o Rio Opará – História para Navegar’”, na área de Ciências Sociais. O estudo foi reconhecido como um dos três melhores da edição e, como prêmio, Cibelle pôde apresentá-lo na 77ª Reunião da SBPC.

Cibelle Vieira na 77 reunião da SBPC

    A pesquisa, que foi orientada pela professora Doutora Carla Paiva, coordenadora do Colegiado de Jornalismo em Multimeios, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb), analisa as narrativas da websérie “Contando o Rio Opará – História para Navegar”, produzida pela Cia Biruta de Teatro e dirigida por Antônio Veronaldo. A produção explora como as histórias apresentadas na obra representam o Semiárido brasileiro, com a presença – ou ausência — de signos de nordestinidade (elementos culturais, simbólicos e identitários que caracterizam a região Nordeste do Brasil e seu povo.
    Cibelle Vieira, de 21 anos, natural de Juazeiro (BA) e moradora de Petrolina (PE), encontrou na escrita sua forma de se conectar com o mundo desde muito nova. Na adolescência, ao precisar escolher qual curso seguir, optou pelo Jornalismo. Foi na universidade que teve seu primeiro contato com a pesquisa acadêmica, no terceiro período.

Para ela, o reconhecimento conquistado marca não apenas uma etapa acadêmica, mas também pessoal. “Quando cheguei aqui, entendi a dimensão do evento, foi quando eu tive um baque de que realmente a minha pesquisa foi importante dentro da UNEB, por isso que eu estou aqui.”, relata Cibelle sobre sua experiência na SBPC.


Cibelle Vieira durante a 77ª SBPC, apresentando pesquisa sobre a representação do Semiárido no audiovisual.
    

Orientação e caminho percorrido


A professora Carla Paiva acredita que o prêmio e a participação de sua orientanda no evento evidencia e valoriza o potencial do que vem sendo desenvolvido na iniciação científica da Uneb de Juazeiro há cerca de um ano e meio. Levar um projeto para um evento como a reunião da SBPC mostra a qualidade do trabalho que vem sendo realizado na universidade nos projetos de iniciação científica, que ganha visibilidade nacionalmente por conta da sua qualidade, além de ser uma experiência maravilhosa para os estudantes e para os professores que orientam”, destaca.


Durante o percurso de construção da pesquisa, Cibelle também participou de outros eventos, como Congressos a nível regional e nacional de 2024 da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom). Tais resultados evidenciam a importância da formação crítica dos estudantes e da qualidade da pesquisa realizada pelos projetos de iniciação científica existentes na Uneb. Além disso, possibilita enxergar a arte como ciência e o quanto se pode chegar longe através de trabalhos contextualizados, que tenham o recorte do Semiárido nordestino como espaço, identificando rupturas, mas também construções que ainda precisam ser rompidas.


Além de orientar a estudante Cibelle, a professora Carla Paiva já participou da SBPC outras duas vezes, como orientadora dos seguintes trabalhos: Análise da representação do semiárido nordestino nas produções cinematográficas locais realizadas nas cidades de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), de Cássio Viana, e Signos de nordestinidade: análise da representação das identidades nordestinas presentes no cinema brasileiro no período de 2000 a 2010, de autoria de Patrícia da Silva Barbosa — ambos são egressos da Uneb de Juazeiro, na qual Carla Paiva leciona a cerca de 30 anos.


A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) é uma instituição sem fins lucrativos que busca o desenvolvimento científico, tecnológico, educacional e cultural do Brasil. A entidade atua em algumas frentes, como: Defesa da Ciência e Tecnologia; Promoção da Educação; Divulgação Científica e outras. A Reunião Anual da SBPC é um evento que reúne milhares de pessoas, entre cientistas, professores, estudantes e outros interessados, para debater temas relevantes para a ciência e a sociedade brasileira.



Por Ana Beatriz Menezes e Mellyssa Cavalcanti, estudantes de Jornalismo em Multimeios e colaboradoras da Agência MultiCiência.




Estudante e Egressa da UNEB participam de Congresso de Jornalismo Investigativo da ABRAJI


Créditos: Ariele Lima da Silva.

A Universidade do Estado da Bahia (UNEB) esteve representada esse ano em dose dupla no 20º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, realizado pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, a ABRAJI. A estudante Ariele Lima da Silva, do 6º período do curso de Jornalismo em Multimeios, e a egressa e jornalista Flávia Santos participaram do evento que tem o objetivo de aprimorar os profissionais e expandir técnicas de reportagem investigativa.

O Congresso aconteceu na última semana, entre os dias 10 e 13 de julho, no campus Álvaro Alvim da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo. A programação contou com discussões de três temas principais: Inteligência Artificial, COP30 e Meio Ambiente e Democracia e Direitos Humanos, além da participação de pesquisadores, ativistas, jornalistas em formação e profissionais conhecidos como Míriam Leitão, Fabiana Moraes e Flávia Oliveira.

Participando pela primeira vez do congresso, a graduanda Ariele Lima foi uma das contempladas pelas ações afirmativas da ABRAJI, que acontece pelo segundo ano consecutivo, e possibilitou a participação de 30 jornalistas negras, entre estudantes e profissionais formadas. Para ela, a experiência é um divisor de águas, pois proporcionou novas ideias e perspectivas sobre a profissão.

“Saio daqui com várias ideias e muitos insights ao conversar com esses profissionais que estão buscando inovação no jornalismo, além de ser um ótimo lugar para fazer networking. É muito interessante ouvir outras ideias espalhadas por todos os lugares do Brasil para ter perspectivas diferentes, o que nos conecta ainda mais com a profissão. Aqui eu falei sobre quem sou, e vi quem eles eram”, afirma Lima.

Apesar do Congresso ter debates extremamente relevantes, Ariele pontua que o desafio para acessar oportunidades como essa é ser necessário sair da cidade natal e ir para um dos grandes eixos urbanos, por ali estar concentrado grande parte dos jornalistas de destaque. “A parcela de profissionais que estão lá (grandes capitais) é muito pequena considerando a quantidade de comunicadores que temos no Brasil inteiro e que muitas vezes não tem condições financeiras e logísticas de ocupar esse lugar”, conclui Ariele.

Para compreender mais sobre a ação afirmativa da ABRAJI, a equipe da Multiciência conversou com a jornalista Brasília Rodrigues, diretora da Abraji, idealizadora da bolsa para mulheres negras e analista política da CNN, sobre o futuro das mulheres negras na área do jornalismo. “Eu deposito minha fé, esperanças, e meu esforço como agente de transformação e como profissional do jornalismo brasileiro, na confiança de que teremos realizações”, ressalta Rodrigues.

Basília relembra que há um tempo era impensável que mulheres negras ocupassem funções no jornalismo político ou em cargos de lideranças nas redações, algo que vem mudando, com mais profissionais ingressando no mercado de trabalho. A jornalista compreende que é pouco, mas enxerga no caminho cada vez mais pavimentado construído pelas jornalistas negras, a superação dos desafios em busca de um futuro de sucesso para as mulheres negras no jornalismo.

“É muito importante que continuemos realizando encontros para debelar problemas que sempre virão e encontrar apoio no outro, seja por meio de correntes organizadas, como associações e rodas de conversas, mas também naquelas mais simples, como falar com uma melhor amiga ou uma outra jornalista, com a qual se divide a mesma profissão em busca de amparo”, declara Rodrigues.

Ariele Lima e Basília Rodrigues.
Créditos: Ariele Lima


Flávia Santos e Brasília Rodrigues.
Créditos: Flávia Santos.

A jornalista Flávia Santos, egressa do curso de Jornalismo da UNEB, também esteve pela primeira vez no Congresso e participou apresentando a proposta interativa do podcast “Vida de Jornalista”. Para ela, a oportunidade de dialogar com pessoas de diferentes locais é um dos pontos principais ao participar de eventos como esse, pois a experiência contribui para o uma formação contínua, tendo em vista os temas discutidos nas assembléias para o jornalismo.

Segundo a jornalista, um dos destaques da programação foi a palestra de Fabiana Moraes sobre jornalismo ativista, em que foi discutida a visão de que só o jornalismo independente é tido como um jornalismo ativista, pois o ativismo não está ligado somente pautas progressistas, já que a mídia comercial também o pratica ao dar voz a pautas da extrema direita. “Essas discussões podem contribuir especialmente para quem vem das grandes mídias, e apesar de saber que quem está dentro do sistema não tem o poder de mudança, acredito que ao abrir a mente para essas questões, se questiona as coisas de formas diferentes”, reforça Santos.

Além dessa, Flávia menciona outras palestras importantes, como uma sobre utilizar dados para investigar gênero e raça, jornalismo esportivo, vida de freelancer, bem como a mesa com Eduardo Faustini, repórter secreto do Fantástico por anos, que trouxe discussões sobre a produção de suas matérias, o que é mais importante e desafiador dentro da área, e como ser um jornalista investigativo, considerando os riscos que se corre.
Flávia Santos e Eduardo
Faustini. Créditos: Flávia 
Santos.

De acordo com Flávia, o congresso como um todo foi absolutamente proveitoso ao trazer novas perspectivas do “fazer jornalismo”, ao discutir os novos formatos, como o jornalismo feito dentro do whatsapp, podcasts, e reportagem em vídeo vertical. “Nessa perspectiva, a ABRAJI mostra que o jornalismo vem se adaptando, pois ele precisa estar onde o público está, e se os jornalistas não ocuparem os espaços das redes sociais, a extrema direita e a desinformação ocuparão esses lugares, como já vem acontecendo”, conclui Flávia.
Ariele Lima e Míriam Leitão.
Créditos: Ariele Lima.

Por Bruna Almeida, estudante de Jornalismo em Multimeios e colaboradora do MultiCiência


Instituições de ensino público de Petrolina-PE e Juazeiro-BA são beneficiadas pelo Programa Mais Ciência na Escola

Instituições de ensino público de Juazeiro-BA e Petrolina-PE participaram do lançamento do Programa ‘Mais Ciência na Escola’ com a presença da Ministra do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Luciana Santos, na última sexta-feira (11/07). A iniciativa do governo federal faz parte da política de popularização da ciência e lançou o programa no Instituto Federal de Pernambuco, Campus Petrolina, além de inaugurar o Laboratório Maker na Escola Paulo Freire, em Petrolina, e no Colégio Democrático Estadual Professora Florentina Alves dos Santos (CODEFAS), em Juazeiro.
Ministra Luciana Santos demonstra confiança no programa nas regiões de Petrolina e Juazeiro. FOTO: João Pedro Tínel.

O ‘Mais Ciência na Escola’ tem como objetivo a implantação de Laboratórios Maker em escolas públicas voltados para o letramento digital, além de contar com atividades de robótica, automação, design, fabricação digital, internet das coisas e ciências ambientais e sustentabilidade. O programa é uma parceria entre Ministério da Educação (MEC), MCTI e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e seu financiamento é executado pelo Fundo Nacional do Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) com um investimento de R$100 milhões.

A ministra Luciana Santos explica que, através do ‘Mais Ciência na Escola’, o Estado se aproxima mais da educação, implementando novas ferramentas para ensinar o estudante a dominar tecnologias disruptivas. “Estamos passando por uma grande revolução tecnológica e nós queremos que, desde cedo, o nosso estudante esteja ambientado com o letramento digital, com a internet das coisas, com robótica e automação. Adequando as cadeias produtivas as vocações econômicas de cada região”, complementou.

Para o reitor do IF-Sertão PE, Jean Carlos de Alencar, o programa integra uma nova forma de participação do estudante na escola e na ciência, fazendo a ponte entre pesquisa, extensão e inovação com o aluno. “Todo processo de ciência é um processo de transformação. Eu só tive acesso ao Lattes perto do fim da minha graduação, mas hoje, a minha filha que está no ensino médio já tem um currículo Lattes e procura participar e se cadastrar em projetos da CNPq”, declara o reitor após o lançamento do programa.

A iniciativa também integra a Estratégia Nacional de Escolas Conectadas e os laboratórios serão acompanhados de planos de atividades, formação de professores e bolsas para professores e estudantes, fortalecendo a parceria entre escolas e instituições científicas, tecnológicas e de inovação. Nessa perspectiva, o Programa visa apoiar o desenvolvimento de competências previstas na BNCC Computação, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), além de fortalecer a implementação da educação digital, definido pela Política Nacional de Educação Digital (PNED) e contribuir para a qualificação, diversificação e expansão do tempo escolar por meio da aprendizagem baseada em investigação, experimentação científica e abordagem STEAM (Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática).
Estudantes do Colégio Estadual Pedro Raymundo Moreira Rêgo ao lado da Ministra Luciana Santos. FOTO: João Pedro Tínel.

 
Estudantes das Escola Municipal de Tempo Integral Paulo VI, em Juazeiro, e Escola Municipal Dr. Luiz Viana Filho, em Senhor do Bonfim.
 
Na Bahia, o programa é gerido pela Fiocruz Bahia (Instituto Gonçalo Moniz) através da Rede Interdisciplinar de Ciência, Tecnologia e Inovação em Territórios Escolares (REDE - ICTITE). O estado vai receber 90 laboratórios em todo o território, sendo 7 deles em Juazeiro. A Rede - ICTITE vai reunir mais de 50 pesquisadores, 90 professores e 900 estudantes do ensino fundamental e médio, na condição de bolsistas, em 51 municípios da Bahia. O projeto baiano é coordenado por Antonio Brotas, pesquisador e gestor da Comunicação e Divulgação Científica da Fiocruz no estado.

Em Juazeiro, norte da Bahia, a inauguração do Laboratório Maker no Colégio Democrático Estadual Professora Florentina Alves dos Santos (CODEFAS) também contou com a presença da Ministra Luciana Santos, além de professores, estudantes, gestores escolares e representações políticas. Em entrevista ao MultiCiência, a ministra falou da expectativa sobre o futuro do programa e dos estudantes nas escolas de Juazeiro e da Bahia. “A Bahia foi o primeiro estado que foi lançado Mais Ciência na Escola, é esse tipo de iniciativa que vai fazer a juventude se interessar pela ciência, a ter curiosidade, a criar e solucionar os diversos problemas do dia a dia de cada um”.
Ministra Luciana Santos inaugura Laboratório Maker no CODEFAS. FOTO: João Pedro Tínel.

Um dos coordenadores do Programa ‘Mais Ciência na Escola’, Felipe Novaes, explica que cada escola recebe um laboratório dedicado às especificidades e necessidades da instituição, sendo cada um deles único, mas com o mesmo objetivo. Essa escolha é realizada pelos professores e gestores da escola e instituições parceiras em projetos com a instrução e auxílio da coordenação do programa. No CODEFAS, a seleção dos kits de ferramentas foca na robótica, produções midiáticas e modelagem e contam com impressoras 3D, Drones para filmagem, equipamentos de marcenaria, cortadora laser computadorizada e entre outros recursos.

Para a coordenadora do Clube de Ciências do Colégio CODEFAS, Professora Vanessa Chaves, o programa é um potencializador de se fazer ciência na escola, trazendo equipamentos tecnológicos que vão ajudar nos projetos e disciplinas e, principalmente, no aprendizado dos alunos. “É um salto qualitativo para o que a gente já vem fazendo aqui, então essas parcerias fortalecem e expandem para além do muro da escola, atingindo diretamente a comunidade”, concluiu.
Ministra Luciana Santos usa bóton do MultiCiência durante entrevista à Agência de Notícias MultiCiência. FOTO: Aylla Bomfim.

Os Laboratórios Maker do Mais Ciência na Escola também serão implementados em 75 em escolas públicas de Pernambuco e vai atender quatro regiões de desenvolvimento do estado: Sertão do São Francisco (nos municípios de Petrolina, Afrânio, Lagoa Grande, Orocó, Parnamirim e Cabrobó), Sertão Central (Salgueiro, Cedro e São José do Belmonte), Sertão do Pajeú (Afogados da Ingazeira, Calumbi, Carnaíba, Flores, Quixaba, Tabira e Triunfo) e Sertão de Itaparica (Floresta, Jatobá, Carnaubeira da Penha, Itacuruba, Belém de São Francisco e Tacaratu).

Entre as 75 escolas, 50 são municipais e 25 estaduais. Dessas, apenas uma instituição de ensino é somente de nível médio, com as demais contemplando o ensino fundamental, além de 20 delas estarem localizadas na zona rural, 5 são quilombolas e 8 são indígenas.

O evento de lançamento e inauguração ainda contaram com a participação de instituições públicas e representantes do Colégio Estadual Agostinho Muniz - Diretor Robério Granja, Colégio Estadual Pedro Raymundo Moreira Rêgo - Diretor Mabio Dutra, Escola Municipal de Tempo Integral Paulo VI - Diretora Francisca Oliveira, Complexo Integrado de Educação Básica Profissional e Tecnológica da Bahia (Rui Barbosa) - Lucimone dos Santos Lopes Bruno e a Escola Municipal Dr. Luiz Viana Filho, em Senhor do Bonfim - Diretora Joseane Oliveira. Essas instituições também são participantes do programa.

Por João Pedro Tínel, estudante de Jornalismo em Multimeios e colaborador do MultiCiência.

Agência MultiCiência celebra 20 anos com prêmio no Intercom Nordeste 2025

A Agência MultiCiência, da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), conquistou o reconhecimento na categoria Agência Escola Júnior de Jornalismo no maior evento científico de comunicação, na etapa regional do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, no Intercom Nordeste 2025 e agora concorre na etapa nacional. O prêmio chega justamente no ano em que o projeto completa 20 anos de atividades voltadas à popularização da ciência, com foco na realidade do Semiárido, reafirmando seu papel como um dos principais espaços de formação prática em jornalismo científico na região.

Foto: Marcos Souza
A Agência de Notícias de Ciência, Educação e Tecnologia MultiCiência tem sido mais do que um espaço de produção jornalística é também território de experimentação, formação e compromisso com a divulgação do conhecimento a partir das vozes e vivências do Vale do São Francisco. Fundada em 2005 pela professora Andréa Cristiana Santos, a iniciativa teve como missão inicial construir uma pauta de ciência que partisse da realidade local e fosse distribuída à comunidade por meio de formatos jornalísticos acessíveis e contextualizados.

“A intencionalidade da Agência foi cumprida. Conseguimos produzir conhecimentos específicos sobre jornalismo científico no Semiárido. E mais, disponibilizamos à comunidade jornalística fontes locais científicas, testemunhais, documentais que antes não eram facilmente acessadas”, afirma Santos, idealizadora do projeto.

Um aluno que vivência essa experiência é Matheus Navais, que representou a Agência no Intercom Nordeste deste ano. “Foi um momento muito marcante. Ver que o que construímos ao longo do ano, ganhar reconhecimento, me fez perceber que estou no caminho certo. Esse prêmio não é só meu, é de todos que estiveram nas produções, nos textos, nas coberturas. Vai ficar na história da Agência”, emociona-se Navais, que atua como monitor desde 2023.

Navais lembra que sua trajetória começou ainda na gestão da professora Andréa Santos, mas foi sob a coordenação de Carla Paiva e Raiane Sousa, que assumiram posteriormente, que ele se aprofundou nas áreas de design, redes sociais e edição audiovisual. E como monitor bolsista em 2024 ficou responsável pela atualização da identidade visual da Agência e pela gestão dos conteúdos para as redes sociais. “Aprendi muito sobre copywriting, edição de vídeo, estratégias de comunicação e, principalmente, sobre lidar com pessoas diferentes. Tudo isso agrega muito à minha formação como jornalista.” afirma ele.

Trabalho coletivo e desafios enfrentados

A professora Carla Paiva, uma das coordenadoras atuais da Agência MultiCiência, atribui o prêmio conquistado no Intercom Nordeste à força coletiva do projeto. Segundo ela, o envolvimento de mais de 30 estudantes engajados nas diferentes frentes da Agência foi fundamental para o reconhecimento. “A gente só conseguiu esse prêmio agora porque nós somos muitos. Somos mais de trinta pessoas engajadas, fazendo muita ciência.”, pontua Paiva.

Ela ressalta ainda que o trabalho colaborativo é um dos pilares da Agência e um dos maiores aprendizados proporcionados aos estudantes. Paiva comemora: “A participação coletiva é muito importante. Esse é um dos maiores aprendizados do MultiCiência.”

Apesar da conquista, a professora também chama atenção para os desafios enfrentados na gestão da MultiCiência, sobretudo a falta de recursos financeiros e estruturais. Hoje, apenas dois monitores recebem bolsas de extensão; o restante atua de forma voluntária. Paiva reforça:  “Se fosse pela minha vontade, todos os estudantes seriam remunerados. Temos uma procura grande, um projeto consolidado, mas ainda operamos com poucos recursos.”

Além das limitações financeiras, a infraestrutura também representa um obstáculo. A Agência não possui equipamentos próprios e depende, muitas vezes, da iniciativa dos estudantes, que utilizam celulares e câmeras pessoais para produzir os conteúdos. “Não temos um espaço físico adequado para a quantidade de pessoas, e os equipamentos do Departamento nem sempre estão disponíveis. A gente resiste com criatividade e parceria.”

Mesmo diante desses entraves, Paiva enfatiza que a MultiCiência segue comprometida com os princípios do jornalismo, mesmo em tempos de transformações digitais. Ela reitera: “Seguimos mantendo o compromisso com a verdade, com a ética e com a apuração, mesmo com todas as mudanças na forma de consumir jornalismo nas redes sociais.”

Trajetória e legado

Raiane Sousa, coordenadora da Agência MultiCiência, ressalta a força coletiva da iniciativa e seu papel acadêmico e social na formação de jornalistas comprometidos com o território. Para Sousa, a MultiCiência mostra a potência do jornalismo feito no interior, com qualidade, afeto e engajamento. “Esse prêmio reconhece um trabalho construído a muitas mãos, com dedicação e amor”.

Ela destaca que a Agência consegue pautar temas invisibilizados pela grande mídia e manter viva a articulação entre ensino, pesquisa e extensão. Sousa assinala que o projeto reforça a importância da interiorização dos cursos de comunicação e contribui para a valorização de profissionais formados fora dos grandes centros. “Estamos no Semiárido, numa cidade do interior, sendo reconhecidos nacionalmente. Isso prova a qualidade da formação que oferecemos.”

Um olhar para o começo

Foto: Episódio da TV UNEB Juazeiro | MultiCiência on-line 

 Publicado: 13 de março de 2011


Emerson Rocha, um dos primeiros monitores da Agência MultiCiência, iniciou sua trajetória ainda no segundo período do curso de Jornalismo da UNEB. Foi selecionado pela professora Andréa Cristiana Santos para integrar o projeto como fotógrafo e, desde então, passou por diversas funções dentro da MultiCiência, adquirindo uma formação prática abrangente.

Rocha relembra: “Participar da Agência foi fundamental para a minha formação. Lá eu vivenciei o jornalismo de verdade, com ritmo, prazos e prática constante.”Com um olhar afetuoso sobre o projeto, Rocha relembra seu envolvimento multifacetado na rotina da redação. “Tenho um imenso carinho pelo projeto. Passei por todas as funções: fotógrafo, repórter, editor, monitor. Foi como viver numa redação real.”

Para ele, o grande diferencial da MultiCiência foi proporcionar uma rotina de produção que simula a realidade do mercado, permitindo que os estudantes desenvolvam agilidade, responsabilidade e senso crítico na elaboração das pautas. “Na MultiCiência, aprendi a escrever com agilidade e a entender o que é notícia. Isso reflete até hoje no meu trabalho.” Rocha rememora com afeto.

Entre as experiências que mais marcaram sua passagem pela Agência, Rocha cita a cobertura da obra de transposição do Rio São Francisco, em Cabrobó (PE), e a participação no evento Semiárido Show, promovido pela Embrapa. Com carinho, também lembra da sua primeira matéria, sobre um colega que oferecia aulas de futsal para meninas da periferia. “A professora Andréa sempre nos estimulava a encontrar histórias onde ninguém via.” afirma Rocha.

Celebrar 20 anos de trajetória com o reconhecimento em um evento do porte do Intercom é, para a MultiCiência, mais do que uma conquista simbólica é uma afirmação da potência do jornalismo científico feito com base territorial, afetiva e crítica. E, como afirmam seus participantes, é também um lembrete de que comunicar ciência, especialmente no Semiárido, é um ato de resistência e esperança.

Por Meiwa Magalhães, estudante de Jornalismo em Multimeios e colaboradora da Agência MultiCiência.