O empreendedorismo cultural é uma forma de negócio que se baseia na criatividade e no talento humano, no qual os princípios-chave são a experiência sensorial, a sensibilidade artística, o lazer e o entretenimento. Em Juazeiro e Petrolina, empreendedores na área da cultura encontram um solo fértil para produção e comercialização de seus produtos em busca de geração de renda.
O poeta e influencer nascido no sertão nordestino, Rodrigo Frazzão, acredita que a cultura é uma forma de manifestar a ancestralidade e o pertencimento. “A cultura é importante porque nos faz pertencentes a um espaço, lugar, e mantém as tradições”, diz.
Foto: arquivo pessoal. |
O território banhado pelo rio São Francisco, onde é possível encontrar cultura nas mais diversas formas e estilos, tem potencial para se tornar referência no setor cultural. É o que pontua Ita Alves, de 28 anos, que é produtor cultural, ao ser questionado sobre projeções futuras para a região.
O jovem empreendedor de Petrolina ressalta porém que, para que o Vale possa se consolidar como um polo de cultura, é preciso que haja valorização dos artistas, sobretudo dos artistas jovens. “A gente está com uma mina de ouro na mão para a
produção cultural, o que precisa mesmo é investir e incentivar o banco de talentos que a gente tem, e explorar mais os espaços para fazer essas produções.”
Empreendedorismo entre jovens
Dados da Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizada no primeiro trimestre de 2023, apontam que a taxa de desemprego entre jovens de 14 a 24 anos aumentou, levando em conta o 4º trimestre de 2022 e o 1º trimestre deste ano, ficando em 33,1% entre 14 a 17 anos, e em 18% de 18 a 24 anos.
Ainda, segundo dados do relatório Education at a Glance, realizado em 2022 pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil é o segundo país, de um total de 37 analisados, com maior proporção de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que não estudam e não trabalham, estando atrás apenas da África do Sul.
Os dados evidenciam o desemprego e a evasão escolar que afligem a população jovem do país, e que, aliados ao desejo de independência financeira e busca pela autonomia no trabalho, fazem muitos jovens irem para o empreendedorismo. É o caso de Netão Ribeiro, artista visual que veio para Petrolina em busca de maiores oportunidades de estudo e trabalho.
Graduado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), Ribeiro, que também é professor, conta que chegou ao empreendedorismo através da potencialização da sua arte, mas a atuação profissional se deu a partir da inserção na universidade. Ele alerta para o risco de adotar um discurso meritocrático, apontando que não se deve enxergar o empreendedorismo, mas devem ser dadas oportunidades iguais para todos.
No entanto, há jovens que veem no empreendedorismo a sua paixão, a sua vocação, e aliam-nas à necessidade e à conjuntura do mercado cultural, marcada pela desvalorização da arte como um todo, como ressalta Ita Alves. Graduado em Publicidade e Propaganda, ele conta que a ligação com o empreendedorismo sempre foi forte em sua vida. “Desde muito novo sempre fui muito ligado a essa movimentação, de fazer o meu próprio negócio e fazer meu próprio dinheiro. Só que não era formalizado”.
Dicas para empreender
Para quem deseja empreender, é necessário conhecer instituições que possam apoiar o modelo de negócio que deseja empreender, pois o empreendedorismo é marcado por muitos desafios. Dono da Fexô, empresa de divulgação cultural, Ita Alves elenca três principais dicas para quem está passando por esse momento:
“A primeira dica é estudar sobre produção cultural. Não precisa fazer um curso de produção cultural, no caso, mas ler e estudar. Tem vários livros que ajudam a entender o segmento. A segunda é procurar o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), para orientação técnica e para saber como planejar. A terceira dica é vivenciar todas as possíveis culturas que estão presentes no meio que a pessoa vive, para entender as narrativas daquela sociedade”, orienta.
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Ribeiro defende que, para começar a empreender culturalmente, é necessário estar alinhado com a ideia de que o planejamento e a estratégia são essenciais para obter sucesso, como também ter um caixa para investir inicialmente. “É preciso tentar sempre fazer um plano de negócio, usar estratégias de venda, buscar se especializar, e também ter um capital para começar”, indica.
Ele defende, contudo, a ideia de que a comunicação oral, fora da internet e de outras mídias, também funcionam bem nas vendas, pois chegam a todos, sem distinção. “Gosto de pensar que o físico, que o ‘boca a boca’ ainda funcionam”.
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Por Ana Beatriz Menezes, estudante de Jornalismo em Multimeios.