Quando o Semiárido chega ao mundo: a jornada de Guilherme até a COP30

Filho de agricultores e estudante de agroecologia, ele levou a experiência da Convivência com o Semiárido e as demandas das juventudes às lideranças globais do clima.

Foto: Arquivo Pessoal

Má distribuição da chuva, desequilíbrio do ambiente  e, consequentemente, áreas de desertificação são os principais desafios que o Semiárido e os agricultores enfrentam no manejo das plantações. Diante dessa realidade, o jovem agricultor Guilherme Delmondes, estudante de Agroecologia da Univasf, saiu do interior de Pernambuco para ser o representante das juventudes dos Semiáridos da América Latina na COP 30, realizada em Belém do Pará.


A partir das experiências de sua família, Guilherme começou a pensar em alternativas para os riscos promovidos pela desertificação e as mudanças climáticas no Semiárido. “Esses processos que a gente vem trabalhando e vem justamente sendo esse destaque que a gente levou para a COP, foram essas práticas, como a cisterna, como as silagens, como os sistemas agroflorestais, as curvas de nível”, explica o ativista. Iniciativas tecnológicas ligadas à proposta da Convivência com o Semiárido, práticas que reforçam a agroecologia e sustentam a agricultura familiar.


A COP 30 é a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, um encontro global que reúne lideranças políticas, científicas e sociais para discutir soluções e firmar compromissos voltados ao enfrentamento da crise climática. Esse ano, realizada em Belém do Pará, a conferência destaca temas como justiça climática, preservação ambiental e adaptação das populações mais vulneráveis aos efeitos das mudanças no clima. 


A ida do estudante ao Congresso foi viabilizada pela Organização Plataforma Semiárido, em um processo que durou aproximadamente um ano, entre estudo, participação em discussões e a produção da carta com a demanda dos jovens do Semiárido entregue à Ministra do Meio Ambiente Marina Silva na COP 30. O processo formativo foi feito com aproximadamente 300 jovens, mas, o processo de escolha para a ida ao congresso, selecionou apenas dez pessoas, entre eles Guilherme Delmondes.

Foto: Arquivo Pessoal

A presença de representações do Semiárido, dentro de um evento com tamanha proporção, em que o mundo estava acompanhando vários processos de negociações, oportunizou que os olhos de figuras poderosas, para além da Amazônia, pudessem ver, conhecer e investir na caatinga, por exemplo. “Foi justamente isso que também a gente pautou dentro da COP, no sentido de ser uma oportunidade muito grande de viabilizar fundos de investimento, muito voltado para a Amazônia, mas também a gente lembrando que existe a Caatinga, que existe o Seminário Brasileiro”, afirma Guilherme. 


Ele ainda lembra que a região do Semiárido Brasileiro conta com 30 milhões de pessoas, e muitas dessas estão no campo, diretamente ligadas ao meio ambiente, assim, esses fundos de investimento precisam também voltar para essas populações. Os jovens presentes na COP buscaram inserir nas suas apresentações e, nos espaços em que estavam, a importância dessa região no cenário brasileiro, a quantidade de pessoas e quanto é importante também investir e trazer recursos para essa parte do Brasil. A partir disso, os jovens, por meio do documento “Manifesto das Juventudes dos Seminários da América Latina” produzido na trilha formativa das juventudes com a COP30, reuniram todas as principais demandas dos jovens agricultores que convivem com o Semiárido para que assim informassem os anseios dessa população aos representantes, já que o acesso às salas de negociações (bluezone) não permitiam a livre circulação de pessoas não autorizadas. 


O manifesto foi entregue a diversas representações, entre elas, a Ministra do Meio Ambiente Marina Silva, na esperança de que medidas passem a ser tomadas em prol dos anseios desses jovens. Esse documento ressalta que a falta de políticas públicas é a raiz do problema dentro do cenário de desertificação e demais dificuldades na Convivência com o Semiárido.

Intitulada como a COP do povo, pela participação social perceptível, Guilherme acredita que isso tenha ressoado na mesa de negociações entre os países. O estudante afirma a participação na COP30  como positiva para o Semiárido e, apesar de saber que não terão respostas de forma imediata, pela forma burocrática a qual as coisas se resolvem entre os países, sente que fez um bom trabalho e que os grandes representantes ao menos possuem consciência do que acontece nessa região. 


“Acho que foi uma grande, grande oportunidade de entender que se a gente se organizar nessa perspectiva coletiva e também individual um pouco também, a gente consegue avançar muito e chegar nesses espaços, porque se não fosse esse processo de forma coletiva, de várias juventudes e também de várias organizações contribuindo, indicando, fazendo, colocando recursos, nenhum desses jovens, nem eu estaríamos lá.”, conclui Guilherme. Com uma imagem positiva sobre a experiência, ele retorna com a certeza de que pelo menos o nome caatinga foi reconhecido nos debates, um grande passo na discussão sobre os biomas e principalmente, para a proposta da Convivência com o Semiárido.


Por Rayssa Keuri e Mellyssa Cavalcanti, estudantes de Jornalismo em Multimeios na Uneb e colaboradoras da Agência de Notícias MultiCiência.




Estreia em grande estilo: Cursos de Jornalismo da UNEB ganham 7 troféus no Prêmio Abapa de Jornalismo em sua primeira participação

5ª edição do Prêmio Abapa de Jornalismo (2025) premia profissionais e estudantes de instituições parceiras. Foto: Divulgação/Abapa

O protagonismo estudantil dos cursos de Jornalismo da UNEB ganhou destaque na 

participação histórica no Prêmio Abapa de Jornalismo 2025. A cerimônia, ocorrida nesta quarta-feira (26), no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), em Salvador, tornou essa conquista ainda mais especial com o ganho de 7 troféus, de um total de 15 possíveis, na categoria Jovem Talento, em sua primeira participação no evento.


O Prêmio Abapa de Jornalismo foi criado em 2019 pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), para incentivar a produção jornalística especializada sobre a cultura do algodão e a cotonicultura baiana. Além de reconhecer o trabalho da imprensa profissional, o prêmio também incentiva a produção de estudantes universitários na categoria Jovem Talento, oferecendo prêmios nas modalidades escrita, vídeo e podcast. Para a produção do material, a Abapa promove uma imersão aos estudantes nos campos de algodão localizados na região oeste da Bahia. 


Para a professora Talyta Singer, que orientou e acompanhou os 11 estudantes do campus Juazeiro que participaram da premiação, a experiência promovida pela Apaba é desafiadora, mas rica para os estudantes. “É uma viagem longa com pouco tempo de descanso e muito material para apurar in loco, em tempo real, no sol, no meio da lavoura. Para os estudantes de jornalismo, a oportunidade é única: acesso a fontes que em outro contexto seriam difíceis de acessar, tempo cronometrado e prazo apertado para aprender e reportar sobre um assunto que é novo, cheio de termos técnicos, discussões científicas e gente trabalhando!” 


A professora reforça a importância desse relacionamento de instituições do agronegócio com as universidades. “Fico muito feliz que a Abapa tenha a sensibilidade de contribuir na formação de novos profissionais e adoraria ver outras instituições do agro criando esse canal aberto de comunicação de forma tão transparente.”

Professora Talyta Singer e estudantes da UNEB em Juazeiro durante a visita técnica à Fazenda Warpol. Foto: Divulgação/ Abapa

Para a professora e coordenadora do Colegiado de Jornalismo da UNEB Seabra, Juliana Correia, que orientou 4 dos 5 trabalhos premiados do campus, a premiação é uma oportunidade para conhecer novas riquezas da Bahia, além das já exploradas pelo curso. “Fazemos um jornalismo longe dos grandes centros, fazer um jornalismo no interior da Bahia, na Chapada Diamantina, é uma forma de resistência. Então, a gente faz um jornalismo voltado para as comunidades e para o pequeno negócio. Essa oportunidade de conhecer o agronegócio de perto fortalece muito a visão de mundo dos estudantes acerca do que é a própria Bahia e mostra que a gente está no caminho, porque esses prêmios têm avaliadores de renome, e isso mostra a qualidade do que a gente vem fazendo lá em Seabra.”


A professora ainda destaca o reconhecimento aos orientadores. No Prêmio Abapa, além dos alunos, os professores também recebem premiação. “Participo de prêmios há mais de 15 anos como profissional e há cerca de 10 anos orientando estudantes, e nunca tive uma premiação que valorizasse o orientador também. Isso é muito importante, porque a gente já faz isso com coração, pensando no aprimoramento técnico e profissional dos alunos. Ter esse reconhecimento por parte da Abapa nos deixa muito felizes e nos incentiva a cada vez mais procurar fazer esse trabalho de excelência.”

Estudantes e a coordenadora Juliana Almeida do curso de Jornalismo da UNEB em Seabra celebram a noite com a conquista de cinco prêmios. Foto: Divulgação/Abapa


Das 15 premiações possíveis, os estudantes da UNEB conquistaram 7 troféus, foram eles: 


Modalidade Escrita

José Bores de Araujo Junior (UNEB Seabra) - 3º Lugar

Lucas Silva Assunção (UNEB Seabra) - 5º Lugar


Modalidade vídeo

Alison Ferreira de França e Maria Thereza Abel Alves Galvão (UNEB Juazeiro) - 2º Lugar

João Pedro Novaes Tinel Andrade, Livia Barbosa Bernardo e Matheus Alves Navais (UNEB Juazeiro) - 5º Lugar


Modalidade podcast:

José Bores de Araujo Junior (UNEB Seabra) - 1º Lugar

Lucas Silva Assunção (UNEB Seabra) - 3º Lugar

Taciere Silva Santana e Ana Catarina Novais Sena (UNEB Seabra) - 4º Lugar


Para José Bores, estudante do campus Seabra que conquistou 2 troféus, o resultado o reconhece enquanto profissional, além de permitir dialogar e conhecer profissionais de diferentes lugares da Bahia. O graduando também destaca a importância do reconhecimento em um local onde os participantes são majoritariamente da capital: “[O resultado] mostra que somos comunicadores que estão transformando a comunicação baiana e também abre uma nova visão para que o jornalismo não fique no eixo capital e região metropolitana.” 


Na vídeo reportagem “Algodão rastreável: uma resposta sustentável às fibras sintéticas”, que conquistou o 2º lugar, os estudantes da UNEB Juazeiro, Álison e Maria Thereza mostraram como o algodão, uma fibra natural, é uma escolha mais sustentável que as fibras sintéticas. Além do esforço dos produtores para garantir o mapeamento e controle de toda a cadeia de produção de forma responsável. Para Álison, a conquista é um reconhecimento da dedicação e esforço da equipe, mas principalmente um reflexo direto da solidez da formação.


“Ter um prêmio como esse dá um gás e uma vontade de continuar fazendo mais produções. Isso mostra que tudo que eu já vi no curso me deu uma base muito sólida e que futuramente me dará mais frutos, porque é um reconhecimento enorme estar na graduação e já ter em mãos um prêmio que é reflexo direto da qualidade de ensino que recebo na universidade.”


O trabalho de reportagem que conquistou o 5º lugar na modalidade vídeo, intitulado “Produtores de algodão do oeste baiano apostam em pesquisas sobre mercado de carbono”, disponível no canal do Youtube da MultiCiência, é resultado de uma pesquisa aprofundada sobre a cotonicultura e a sustentabilidade. Os estudantes João Pedro Tínel, Lívia Bernardo e Matheus Navais (UNEB Juazeiro) elegeram o tema após uma investigação que apontou o mercado de carbono como uma das alternativas sustentáveis dentro da produção de algodão na Bahia. Além de abordar pesquisas científicas em andamento sobre o armazenamento de carbono no solo e nas plantações, com o potencial de gerar renda e continuar o desenvolvimento sustentável da região.

Alunos do curso de Jornalismo em Multimeios da UNEB celebram o reconhecimento e a conquista do 5º lugar na modalidade vídeo. Foto: Divulgação/Abapa

Tínel destaca que o reconhecimento foi ainda mais gratificante por ter sido conquistado em equipe. A satisfação de ver o trabalho premiado ao lado de Lívia e Matheus, com quem mantém parceria desde o início do curso: “Isso traz uma sensação de satisfação até por estar colocando tudo em prática que a gente aprendeu, colocando todas as forças que a gente tem”, afirma.


A coordenadora do Colegiado de Jornalismo em Multimeios da UNEB Juazeiro, Carla Paiva, enfatiza que a experiência foi fundamental para a formação dos estudantes, permitindo um entendimento prático da diversidade do estado baiano.

Para Carla, a premiação mostra a importância da construção dessas parcerias, como a estabelecida com a Abapa, que “valoriza o papel do jornalismo, não só na transmissão da informação, mas também do compromisso social do jornalismo enquanto transformador da realidade”, afirma.


Carla ainda ressalta que o contraste da caatinga, presente na região do Vale do São Francisco, especialmente em Juazeiro, com o cerrado do oeste baiano permitiu aos estudantes traçarem e redefinirem um novo olhar sobre o agronegócio. Ao deixarem o Semiárido, região onde há forte influência da fruticultura irrigada, os alunos tiveram a oportunidade de superar a visão regionalizada da produção, e ampliar as dimensões dos conhecimentos individuais. A imersão no cultivo de algodão no cerrado expôs uma realidade agrícola de larga escala, que se distingue da forma de produção na caatinga.

Professora Carla Paiva, Coordenadora do curso de Jornalismo em Multimeios da UNEB em Juazeiro. Foto: Divulgação/Abapa

Por Maria Helena Almeida e João Pedro Saraiva, estudantes de Jornalismo em Multimeios na Uneb e colaboradores da Agência de Notícias MultiCiência.

Estreia em grande estilo: Cursos de Jornalismo da UNEB ganham 7 troféus no Prêmio Abapa de Jornalismo em sua primeira participação

5ª edição do Prêmio Abapa de Jornalismo (2025) premia profissionais e estudantes de instituições parceiras. Foto: Divulgação/Abapa

O protagonismo estudantil dos cursos de Jornalismo da UNEB ganhou destaque na 
participação histórica no Prêmio Abapa de Jornalismo 2025. A cerimônia, ocorrida nesta quarta-feira (26), no auditório da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), em Salvador, tornou essa conquista ainda mais especial com o ganho de 7 troféus, de um total de 15 possíveis, na categoria Jovem Talento, em sua primeira participação no evento.

O Prêmio Abapa de Jornalismo foi criado em 2019 pela Associação Baiana dos Produtores de Algodão (Abapa), para incentivar a produção jornalística especializada sobre a cultura do algodão e a cotonicultura baiana. Além de reconhecer o trabalho da imprensa profissional, o prêmio também incentiva a produção de estudantes universitários na categoria Jovem Talento, oferecendo prêmios nas modalidades escrita, vídeo e podcast. Para a produção do material, a Abapa promove uma imersão aos estudantes nos campos de algodão localizados na região oeste da Bahia. 

Para a professora Talyta Singer, que orientou e acompanhou os 11 estudantes do campus Juazeiro que participaram da premiação, a experiência promovida pela Apaba é desafiadora, mas rica para os estudantes. “É uma viagem longa com pouco tempo de descanso e muito material para apurar in loco, em tempo real, no sol, no meio da lavoura. Para os estudantes de jornalismo, a oportunidade é única: acesso a fontes que em outro contexto seriam difíceis de acessar, tempo cronometrado e prazo apertado para aprender e reportar sobre um assunto que é novo, cheio de termos técnicos, discussões científicas e gente trabalhando!” 

A professora reforça a importância desse relacionamento de instituições do agronegócio com as universidades. “Fico muito feliz que a Abapa tenha a sensibilidade de contribuir na formação de novos profissionais e adoraria ver outras instituições do agro criando esse canal aberto de comunicação de forma tão transparente.”
Professora Talyta Singer e estudantes da UNEB em Juazeiro durante a visita técnica à Fazenda Warpol. Foto: Divulgação/ Abapa

Para a professora e coordenadora do Colegiado de Jornalismo da UNEB Seabra, Juliana Correia, que orientou 4 dos 5 trabalhos premiados do campus, a premiação é uma oportunidade para conhecer novas riquezas da Bahia, além das já exploradas pelo curso. “Fazemos um jornalismo longe dos grandes centros, fazer um jornalismo no interior da Bahia, na Chapada Diamantina, é uma forma de resistência. Então, a gente faz um jornalismo voltado para as comunidades e para o pequeno negócio. Essa oportunidade de conhecer o agronegócio de perto fortalece muito a visão de mundo dos estudantes acerca do que é a própria Bahia e mostra que a gente está no caminho, porque esses prêmios têm avaliadores de renome, e isso mostra a qualidade do que a gente vem fazendo lá em Seabra.”

A professora ainda destaca o reconhecimento aos orientadores. No Prêmio Abapa, além dos alunos, os professores também recebem premiação. “Participo de prêmios há mais de 15 anos como profissional e há cerca de 10 anos orientando estudantes, e nunca tive uma premiação que valorizasse o orientador também. Isso é muito importante, porque a gente já faz isso com coração, pensando no aprimoramento técnico e profissional dos alunos. Ter esse reconhecimento por parte da Abapa nos deixa muito felizes e nos incentiva a cada vez mais procurar fazer esse trabalho de excelência.”
Estudantes e a coordenadora Juliana Almeida do curso de Jornalismo da UNEB em Seabra celebram a noite com a conquista de cinco prêmios. Foto: Divulgação/Abapa

Das 15 premiações possíveis, os estudantes da UNEB conquistaram 7 troféus, foram eles: 

Modalidade Escrita
José Bores de Araujo Junior (UNEB Seabra) - 3º Lugar
Lucas Silva Assunção (UNEB Seabra) - 4º Lugar

Modalidade vídeo

Modalidade podcast:

Para José Bores, estudante do campus Seabra que conquistou 2 troféus, o resultado o reconhece enquanto profissional, além de permitir dialogar e conhecer profissionais de diferentes lugares da Bahia. O graduando também destaca a importância do reconhecimento em um local onde os participantes são majoritariamente da capital: “[O resultado] mostra que somos comunicadores que estão transformando a comunicação baiana e também abre uma nova visão para que o jornalismo não fique no eixo capital e região metropolitana.” 

Na vídeo reportagem “Algodão rastreável: uma resposta sustentável às fibras sintéticas”, que conquistou o 2º lugar, os estudantes da UNEB Juazeiro, Álison e Maria Thereza mostraram como o algodão, uma fibra natural, é uma escolha mais sustentável que as fibras sintéticas. Além do esforço dos produtores para garantir o mapeamento e controle de toda a cadeia de produção de forma responsável. Para Álison, a conquista é um reconhecimento da dedicação e esforço da equipe, mas principalmente um reflexo direto da solidez da formação.

“Ter um prêmio como esse dá um gás e uma vontade de continuar fazendo mais produções. Isso mostra que tudo que eu já vi no curso me deu uma base muito sólida e que futuramente me dará mais frutos, porque é um reconhecimento enorme estar na graduação e já ter em mãos um prêmio que é reflexo direto da qualidade de ensino que recebo na universidade.”

O trabalho de reportagem que conquistou o 5º lugar na modalidade vídeo, intitulado “Produtores de algodão do oeste baiano apostam em pesquisas sobre mercado de carbono”, disponível no canal do Youtube da MultiCiência, é resultado de uma pesquisa aprofundada sobre a cotonicultura e a sustentabilidade. Os estudantes João Pedro Tínel, Lívia Bernardo e Matheus Navais (UNEB Juazeiro) elegeram o tema após uma investigação que apontou o mercado de carbono como uma das alternativas sustentáveis dentro da produção de algodão na Bahia. Além de abordar pesquisas científicas em andamento sobre o armazenamento de carbono no solo e nas plantações, com o potencial de gerar renda e continuar o desenvolvimento sustentável da região.
Alunos do curso de Jornalismo em Multimeios da UNEB celebram o reconhecimento e a conquista do 5º lugar na modalidade vídeo. Foto: Divulgação/Abapa

Tínel destaca que o reconhecimento foi ainda mais gratificante por ter sido conquistado em equipe. A satisfação de ver o trabalho premiado ao lado de Lívia e Matheus, com quem mantém parceria desde o início do curso: “Isso traz uma sensação de satisfação até por estar colocando tudo em prática que a gente aprendeu, colocando todas as forças que a gente tem”, afirma.

A coordenadora do Colegiado de Jornalismo em Multimeios da UNEB Juazeiro, Carla Paiva, enfatiza que a experiência foi fundamental para a formação dos estudantes, permitindo um entendimento prático da diversidade do estado baiano.
Para Carla, a premiação mostra a importância da construção dessas parcerias, como a estabelecida com a Abapa, que “valoriza o papel do jornalismo, não só na transmissão da informação, mas também do compromisso social do jornalismo enquanto transformador da realidade”, afirma.

Carla ainda ressalta que o contraste da caatinga, presente na região do Vale do São Francisco, especialmente em Juazeiro, com o cerrado do oeste baiano permitiu aos estudantes traçarem e redefinirem um novo olhar sobre o agronegócio. Ao deixarem o Semiárido, região onde há forte influência da fruticultura irrigada, os alunos tiveram a oportunidade de superar a visão regionalizada da produção, e ampliar as dimensões dos conhecimentos individuais. A imersão no cultivo de algodão no cerrado expôs uma realidade agrícola de larga escala, que se distingue da forma de produção na caatinga.
Professora Carla Paiva, Coordenadora do curso de Jornalismo em Multimeios da UNEB em Juazeiro. Foto: Divulgação/Abapa

Por Maria Helena Almeida e João Pedro Saraiva, estudante de Jornalismo em Multimeios na Uneb e colaboradores da Agência de Notícias MultiCiência.

Do blog amador à cobertura de festivais, descubra a trajetória do crítico de cinema Rafael Carvalho

“A crítica de cinema é importante porque os filmes são importantes", diz o famoso crítico americano de cinema Roger Ebert. É por acreditar nisso que conversamos com o professor e crítico de cinema Rafael Carvalho, nesta segunda-feira (24), durante sua participação na 10ª edição do Curta na Uneb. O evento, que retomou as atividades após uma pausa de 5 anos, promoveu a exibição de produções audiovisuais realizadas pelos estudantes do curso de Jornalismo em Multimeios do 7º período. 


Rafael, além de ser jornalista e crítico do A Tarde, é também é professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Para trazer mais detalhes sobre o campo do audiovisual e o trabalho de um crítico especializado em cinema, Rafael Carvalho comentou sobre sua trajetória, rotina produtiva como crítico e sobre o papel fundamental do jornalismo no cinema.

oda de conversa com Rafael Carvalho. Foto: Multiciência

MultiCiência: Como surgiu esse desejo de atuar como um crítico profissional de cinema?


Rafael Carvalho: Foi dentro da faculdade, porque quando fiz o vestibular para o curso de jornalismo, que pedia filmes ao invés de livros para fazer a prova. E a partir desse momento, eu comecei a gostar muito de cinema, ou, na verdade, eu já gostava antes, mas comecei a olhar o cinema de uma outra forma. Quando entrei no curso de jornalismo, o que me aproximava do cinema era a crítica de filmes. Então, eu comecei a me aprofundar em cinema e criei com uma amiga, um blog de cinema no qual eu escrevia amadoramente as críticas. Ela depois saiu do blog, eu continuei e aí não parei mais.


MultiCiência: Como é seu processo de escrita das críticas?


Rafael Carvalho: Eu costumo fazer anotações durante o filme, que é uma coisa que muitos críticos não fazem, porque consideram que tira um pouco da concentração. Às vezes, eu sinto isso e não anoto nada, porque é diferente quando você assiste um filme sabendo que você vai ter que escrever um texto e quando você assiste sabendo que você não vai ter que escrever. Muitas vezes durante a exibição, o crítico de cinema já está buscando o ponto central do filme. Cada jornalista tem o seu processo de escrita, o meu processo, eu costumo dizer que ele é um pouco caótico, porque eu gosto muito de jogar ideias e a partir delas vão surgindo os parágrafos. Eu gostaria muito de começar o texto organizado e a crítica já pronta na minha cabeça, mas isso não acontece. É um exercício interessante, porque você tenta encontrar a sua percepção do filme no momento em que você escreve.



MultiCiência: Como é a rotina de cobrir um festival de cinema ou de curtas ?


Rafael Carvalho: Os festivais são de outro mundo, quando eu estou na cobertura de um festival de cinema, eu dedico 100% do meu tempo é para isso. Você assiste filmes, escreve, come e dorme,  acaba que você não faz outra coisa da sua vida além disso. Durante a cobertura, muitas vezes eu assisto dois, três, quatro filmes em apenas um dia do festival. É uma dinâmica que te exige muito,    um é um período de concentração e que você esteja ali presente. Entretanto, é também muito estimulante, porque às vezes são filmes muito recentes que você está tendo contato, além de conhecer os diretores, os realizadores, os atores dos filmes, podendo até mesmo falar e entrevistar eles nas coletivas. Eu que faço cobertura com um jornal, um jornal diário, então, às vezes, eu tenho que fazer entrevista, fazer matéria do factual e tal, mas assim, eu gosto muito de estar nos festivais, de participar dos festivais e é uma loucura, mas é uma loucura boa.


MultiCiência: Atualmente, principalmente nas redes sociais existe o costume de elevar filmes considerados de prestígio em comparação com obras de gênero como terror ou comédia. Na sua profissão existe essa hierarquização ?


Rafael Carvalho: Não, eu não acredito nesse sentido. Cada filme tem um viés diferente, se eu assisto a uma comédia romântica como “Os materialistas", eu tenho que pensar apenas nele. Você tem que pensar em que tipo de filme é aquele, qual tipo de público o filme é destinado. A comédia romântica tem o mesmo valor que um drama, ela tem que ter o mesmo valor que qualquer outro filme. Porque cada filme acho que ele exige uma postura diferente da pessoa. Então, tem um filme que vai te exigir um lado da comédia, outros vão trazer temas mais pesados e sensíveis. De uma certa forma, cada filme te ensina uma direção diferente.


MultiCiência: Tem algum crítico de cinema atual que você gostaria de recomendar? 


Rafael Carvalho: Existem vários, eu gosto muito do José Geraldo Couto, o Inácio Araújo e da Neusa Barbosa, que são grandes críticos. O Pablo Villaça é um crítico mais comercial, mais conhecido também assim de um grande público. Eu gosto muito de uma crítica brasileira chamada Andreia Orband, que ela escreve muito sobre filmes brasileiros e eu acho ela uma das grandes críticas que a gente tem no Brasil.


Rafael já fez críticas de diversos filmes famosos como Parasita e o recém lançado O Agente Secreto, e podem ser acessadas e lidas em seu site Moviola Digital, onde está o acervo de seus textos publicados.


Por Guilherme Passos, estudante de Jornalismo em Multimeios na Uneb e colaborador da Agência de Notícias MultiCiência.


O Tempo do rio reviver

Na Piracema, a pesca silencia para que a vida siga. Pescadores artesanais relatam o impacto do Defeso no cotidiano, na economia e na preservação do São Francisco.
Foto: Inês Eugênia Cruz
Nas margens do Velho Chico, os destinos das águas ganham destaque ao se encontrar com o lançar das redes. Para as comunidades ribeirinhas, a pesca se torna um instrumento de identidade e saber popular, ao trazer em sua prática sustentável o respeito às transformações e o ciclo da natureza com a convivência harmoniosa com o rio.

No entanto, o olhar dos pescadores que convivem diariamente com as mudanças do curso d'água, oferece um novo olhar que revela o desgaste ambiental que afeta não somente a natureza, mas o modo de vida tradicional das comunidades. A pescadora Ana Ceres de Souza, de 30 anos, filha do fundador da Colônia de Pescadores de Juazeiro, traduz a crise e o esforço diário em sua rotina.

“Tem dia que a gente precisa descer o rio e subir de novo para tentar achar alguma coisa, e isso gasta muito óleo. O rio está muito poluído. Ele está baixo. E quando o rio baixa desse jeito, o peixe não sobe e não sobrevive. A água já não é mais a mesma.” 


O rio São Francisco percorre 505 municípios em seis estados: Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe e conta com mais de 300 espécies que trazem sustento e alimento para milhares de famílias. A fala de Ana Ceres é o retrato vívido do desequilíbrio entre a importância do manancial e a fragilidade de sua situação atual, marcada pela poluição.


Mais que ofício: um modo de existir às margens do Velho Chico.

Foto: Inês Eugênia Cruz

A pesca artesanal faz parte do DNA dos ribeirinhos do São Francisco, um rio que é base de subsistência de milhares de famílias e representa o conhecimento ancestral de um povo que vive em função do manancial. Porém, essa identidade cultural é posta à prova a cada ano. A crise ambiental e a diminuição do fluxo de água, confrontam diretamente o período mais crítico para a atividade, a Piracema.

A Piracema, que acontece nos meses de novembro até meados de fevereiro, é a época de reprodução dos peixes, quando eles migram para áreas específicas para desovar. Essa restrição leva milhares de ribeirinhos que sobrevivem da pesca a precisar parar de trabalhar com a venda dos peixes.

A interrupção sazonal da pesca é hoje agravada pela crise ambiental e a diminuição da vazão que assola a barragem de Sobradinho (BA). O Velho Chico já não corre como antes. A redução do nível da água é causada pelas mudanças climáticas, pela extração intensiva para irrigação e, de forma significativa, pela construção de barragens.


A crise ambiental é expressa nos dados oficiais, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) que monitoram e regulam o nível dos reservatórios, como Sobradinho e Xingó, para garantir o suprimento energético nacional. Contudo, essa priorização da geração hidrelétrica, com o controle da vazão feito pelas barragens, têm um impacto direto e negativo sobre o ecossistema. O monitoramento da ANA reflete a volatilidade do volume útil dos reservatórios, que em momentos de seca atinge patamares críticos, afetando a capacidade de o rio sustentar sua fauna (fonte: ANA - Sistema de Acompanhamento de Reservatórios).


A complicação é direta no ecossistema, quanto mais baixo o rio fica, menor a circulação de nutrientes e mais difícil é a reprodução das espécies, intensificando o impacto da Piracema em um ambiente já degradado.

Foto: Inês Eugênia Cruz

Com a interrupção obrigatória da pesca, o auxílio financeiro destinado a pescadores que dependem exclusivamente da atividade, chamado de Seguro-Defeso, é a principal garantia de sobrevivência dos trabalhadores. O benefício criado pelo Governo Federal de Dilma Rousseff em 2015, visa compensar a perda de renda durante os quatro meses do período. O valor do auxílio é, geralmente, equivalente a um salário-mínimo por mês, pago enquanto durar o período da restrição. A garantia deste sustento é vital, visto que quem desrespeita o defeso e pratica a pesca ilegal é punido severamente, sendo o ato considerado crime ambiental, com risco de detenção de até três anos e multa que pode variar de R$ 700 a R$ 100 mil, sendo acrescida de R$ 20 por quilo de pescado apreendido.


Contudo, o acesso ao benefício é dificultado devido às burocracias pendentes aos pescadores, relacionado a documentação e estar registrado no Registro Geral da Atividade Pesqueira (RGP), emitido pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Como é relatado por Ana Ceres, o processo é "muito complicado", pois exige a apresentação de várias documentações e o depoimento de uma testemunha que comprove a atividade de pesca.


No período de espera pela liberação do Seguro-Defeso, os pescadores precisam encontrar outras formas de sustento. Sem poder pescar durante a piracema, muitos recorrem a atividades informais, como vender geladinho, fazer pequenos bicos e até estocar peixes capturados antes do início do defeso para vender ao longo desses meses. Há também quem compre peixe de outros pescadores que já têm estoque, apenas para revender e garantir alguma renda. Tudo isso acontece porque, enquanto o benefício não é confirmado, não há outra fonte estável de sobrevivência. 


A experiência dos pescadores artesanais do Vale do São Francisco é um retrato da dualidade entre a sobrevivência de milhares de famílias e de uma identidade cultural totalmente dependentes do rio, porém o manancial fragilizado pela poluição e a priorização do seu suprimento energético e a crise da vazão, controlada pelas barragens de Sobradinho e Xingó e a burocracia do Seguro-Defeso, que deveriam ser um suporte ágil, forçam a comunidade ribeirinha a incerteza e a informalidade. A voz de Ana e de tanto outros pescadores, é portanto, um apelo urgente para que a pesca artesanal continue sendo DNA do Velho Chico, que encontre não somente seu tempo biológico para que tenha mais vida, mas também um compromisso real entre as autoridades e a sociedade, para que os leitos do rio volte a ser de abundância e não de escassez.



Por Inês Eugênia Cruz e Maria Helena Almeida, estudantes de Jornalismo em Multimeios e colaboradores do MultiCiência.


Transição energética causa impactos socioambientais em serras do Semiárido Baiano

Apesar de prometer desenvolvimento sustentável, projetos de energia eólica e solar têm provocado desmatamento, perda de biodiversidade e conflitos com comunidades tradicionais no território do Sertão do São Francisco.
Foto: Chesf/Divulgação

A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, também chamada de COP 30, está discutindo soluções sustentáveis para limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5ºC até o final deste século. O evento, que está em sua 30ª edição, segue até o dia 21 de novembro, reunindo representantes de 198 países signatários dos tratados internacionais que discutem sobre o tema. 


Um dos momentos de destaque da abertura da COP 30, realizada em Belém (PA), na última quinta-feira (06/11), foi o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu a transição energética como uma das maneiras mais efetivas de conter o aquecimento global.


“Estou convencido de que, apesar das nossas dificuldades e contradições, precisamos de mapas do caminho para, de forma justa e planejada, reverter o desmatamento, superar a dependência dos combustíveis fósseis e mobilizar os recursos necessários para esses objetivos”, declarou o presidente durante o seu discurso. 


Mas você sabe o que é transição energética? 

A transição energética é o processo de substituição de fontes de energia fósseis como carvão, petróleo e gás natural por outras fontes energéticas consideradas renováveis e sustentáveis, a exemplo da energia solar e eólica. Estas são consideradas as melhores alternativas para se produzir energia de forma limpa e substituir o uso de combustíveis fósseis que são os principais responsáveis pela emissão de gás carbônico ou dióxido de carbono (CO2), que contribui diretamente para o fenômeno do efeito estufa. 


Apesar do discurso de sustentabilidade, projetos de energia renovável têm provocado impactos significativos em regiões como o Semiárido Baiano, especificamente nas cidades de Jaguarari e Campo Formoso, que até 2027 estão previstas obras como o Complexo Eólico Manacá. A instalação é um grande projeto híbrido de energia renovável da empresa Quinto Energy, que inclui 405 torres eólicas e 476 mil placas solares. A empresa recebeu licenciamento ambiental em 2023 e é considerado um dos maiores do país. A construção do complexo impacta diretamente o meio ambiente e as comunidades locais. A região abriga nascentes, aves e espécies raras da Caatinga, Mata Atlântica e Cerrado.


Comunidades indígenas, quilombolas e outros povos tradicionais são desproporcionalmente afetados pela transição energética no Brasil. A exploração de seus territórios para construção de barragens, usinas eólicas e a extração de minerais como lítio e cobalto resultam em enormes impactos a essas populações,  a exemplo da perda de seus territórios para exploração desses materiais, acarretando na destruição de memórias culturais destes povos. A exemplo do povo indígena Tuxá que tiveram seu território atingido pela construção da barragem de Itaparica (BA). 


Esses efeitos já são perceptíveis na região Semiárida e preocupam a coordenadora do movimento em defesa das serras brasileiras, o Salve As Serras (SAS), Maria Rosa Almeida. “Estão destruindo a biodiversidade, extinguindo comunidades e comprometendo a produção de alimentos, causando insegurança alimentar.” Ela ainda destaca em tom de denúncia o reflexo dessas ações aos animais e produtores. “Eu volto a falar da produção de alimentos caindo, porque as abelhas desaparecem, os morcegos desaparecem", afirma a coordenadora.

  

MAQUIAGEM VERDE


Ainda de acordo com o SAS, uma das estratégias utilizadas por esses empreendimentos energéticos é a desinformação, que vem sendo utilizada de maneira recorrente para que não se perceba com clareza os impactos irreversíveis das instalações de parques eólicos nos locais onde são instalados. A ação é chamada de Greenwashing, onde as empresas se utilizam de um marketing enganoso para passar a ideia de que são sustentáveis.


“O Estado atua como se fosse parte da empresa para promovê-la não apenas facilitando o licenciamento, mas também dando condições para que as empresas se sintam legitimadas nos territórios, além de acobertar crimes ambientais e aplicar multas irrisórias a elas”, destaca Almeida.


Desse modo, os acordos acabam beneficiando mais as grandes empresas do que os povos originários dessas terras, tornando essa ação mais uma transação, do que verdadeiramente uma transição energética. Visto que o capital se tornou o centro de um debate tão vital em meio às mudanças ambientais que o país enfrenta. 

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TRANSIÇÃO (IN)JUSTA


Nesse contexto, é difícil imaginar um cenário em que o país seja sustentado por energia 100% limpa, que não cause degradação ambiental e impactos sociais. Se faz necessário matrizes energéticas para manter a produção em massa que fomenta o consumismo da sociedade. A China, por exemplo, concentra quase 80% da produção de painéis solares, de acordo com o Programa de Sistema Fotovoltaicos da Agência Internacional de Energia (IEA PVPS). Porém, ainda tem o carvão como maior fonte de energia para suas indústrias. 

Em relação a outras formas de se promover a sustentabilidade, que não seja através da transição energética, Amilton Oliveira Mendes, ex-presidente da Associação de Ação Social e Preservação da Água, Fauna e Flora - ASPAFF,  enfatiza que é necessário o cumprimento da lei. “Eu acredito que o mínimo que a gente poderia estar fazendo para mitigar essas questões é pelo menos seguir a legislação, mas a nossa legislação está sendo flexibilizada, ela está sendo comprometida em nome desses avanços nesse processo de desenvolvimento”, concluiu.


A promessa de uma energia limpa e sustentável ainda esbarra em contradições profundas. Enquanto o discurso político se sustenta na ideia de progresso, comunidades inteiras seguem pagando o preço da chamada transição energética, que continua sendo mais uma transação de poder do que um caminho real para a justiça ambiental.



Por: Gabriel Santiago, Guilherme Leite, Guilherme Passos e João Paulo Coelho, estudantes de Jornalismo em Multimeios e colaboradores do Multiciência.