“A crítica de cinema é importante porque os filmes são importantes", diz o famoso crítico americano de cinema Roger Ebert. É por acreditar nisso que conversamos com o professor e crítico de cinema Rafael Carvalho, nesta segunda-feira (24), durante sua participação na 10ª edição do Curta na Uneb. O evento, que retomou as atividades após uma pausa de 5 anos, promoveu a exibição de produções audiovisuais realizadas pelos estudantes do curso de Jornalismo em Multimeios do 7º período.
Rafael, além de ser jornalista e crítico do A Tarde, é também é professor do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Para trazer mais detalhes sobre o campo do audiovisual e o trabalho de um crítico especializado em cinema, Rafael Carvalho comentou sobre sua trajetória, rotina produtiva como crítico e sobre o papel fundamental do jornalismo no cinema.
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| oda de conversa com Rafael Carvalho. Foto: Multiciência |
MultiCiência: Como surgiu esse desejo de atuar como um crítico profissional de cinema?
Rafael Carvalho: Foi dentro da faculdade, porque quando fiz o vestibular para o curso de jornalismo, que pedia filmes ao invés de livros para fazer a prova. E a partir desse momento, eu comecei a gostar muito de cinema, ou, na verdade, eu já gostava antes, mas comecei a olhar o cinema de uma outra forma. Quando entrei no curso de jornalismo, o que me aproximava do cinema era a crítica de filmes. Então, eu comecei a me aprofundar em cinema e criei com uma amiga, um blog de cinema no qual eu escrevia amadoramente as críticas. Ela depois saiu do blog, eu continuei e aí não parei mais.
MultiCiência: Como é seu processo de escrita das críticas?
Rafael Carvalho: Eu costumo fazer anotações durante o filme, que é uma coisa que muitos críticos não fazem, porque consideram que tira um pouco da concentração. Às vezes, eu sinto isso e não anoto nada, porque é diferente quando você assiste um filme sabendo que você vai ter que escrever um texto e quando você assiste sabendo que você não vai ter que escrever. Muitas vezes durante a exibição, o crítico de cinema já está buscando o ponto central do filme. Cada jornalista tem o seu processo de escrita, o meu processo, eu costumo dizer que ele é um pouco caótico, porque eu gosto muito de jogar ideias e a partir delas vão surgindo os parágrafos. Eu gostaria muito de começar o texto organizado e a crítica já pronta na minha cabeça, mas isso não acontece. É um exercício interessante, porque você tenta encontrar a sua percepção do filme no momento em que você escreve.
MultiCiência: Como é a rotina de cobrir um festival de cinema ou de curtas ?
Rafael Carvalho: Os festivais são de outro mundo, quando eu estou na cobertura de um festival de cinema, eu dedico 100% do meu tempo é para isso. Você assiste filmes, escreve, come e dorme, acaba que você não faz outra coisa da sua vida além disso. Durante a cobertura, muitas vezes eu assisto dois, três, quatro filmes em apenas um dia do festival. É uma dinâmica que te exige muito, um é um período de concentração e que você esteja ali presente. Entretanto, é também muito estimulante, porque às vezes são filmes muito recentes que você está tendo contato, além de conhecer os diretores, os realizadores, os atores dos filmes, podendo até mesmo falar e entrevistar eles nas coletivas. Eu que faço cobertura com um jornal, um jornal diário, então, às vezes, eu tenho que fazer entrevista, fazer matéria do factual e tal, mas assim, eu gosto muito de estar nos festivais, de participar dos festivais e é uma loucura, mas é uma loucura boa.
MultiCiência: Atualmente, principalmente nas redes sociais existe o costume de elevar filmes considerados de prestígio em comparação com obras de gênero como terror ou comédia. Na sua profissão existe essa hierarquização ?
Rafael Carvalho: Não, eu não acredito nesse sentido. Cada filme tem um viés diferente, se eu assisto a uma comédia romântica como “Os materialistas", eu tenho que pensar apenas nele. Você tem que pensar em que tipo de filme é aquele, qual tipo de público o filme é destinado. A comédia romântica tem o mesmo valor que um drama, ela tem que ter o mesmo valor que qualquer outro filme. Porque cada filme acho que ele exige uma postura diferente da pessoa. Então, tem um filme que vai te exigir um lado da comédia, outros vão trazer temas mais pesados e sensíveis. De uma certa forma, cada filme te ensina uma direção diferente.
MultiCiência: Tem algum crítico de cinema atual que você gostaria de recomendar?
Rafael Carvalho: Existem vários, eu gosto muito do José Geraldo Couto, o Inácio Araújo e da Neusa Barbosa, que são grandes críticos. O Pablo Villaça é um crítico mais comercial, mais conhecido também assim de um grande público. Eu gosto muito de uma crítica brasileira chamada Andreia Orband, que ela escreve muito sobre filmes brasileiros e eu acho ela uma das grandes críticas que a gente tem no Brasil.
Rafael já fez críticas de diversos filmes famosos como Parasita e o recém lançado O Agente Secreto, e podem ser acessadas e lidas em seu site Moviola Digital, onde está o acervo de seus textos publicados.
Por Guilherme Passos, estudante de Jornalismo em Multimeios na Uneb e colaborador da Agência de Notícias MultiCiência.
