Jornalistas por (de) formação até quando?

. 04 agosto 2008
Jornalistas por (de) formação

por Jean Carlos Corrêa



Findos os quatro anos e meio de curso, e celebrada a formatura com sangue, suor, lágrimas, sorrisos e até fogos de artifício, a primeira turma de Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) estar a se perguntar, tal qual um dos escravos recém-libertos, no dia seguinte à festança do 13 de maio (diz a lenda): “e agora?”.


E agora, respondo eu, é o momento não apenas para distribuir cópias de currículos e projetos de assessoria aos veículos de comunicação do Vale do São Francisco: também é a hora para debater o que se pretende do jornalismo regional de agora em diante - estamos falando da comunicação para um público de quase meio milhão de pessoas, 230.538 em Juazeiro e 268.339 em Petrolina, segundo dados do IBGE (2007), sem contar as demais cidades da região do Vale. Afinal é chegado o fim da desculpa para a contratação de pessoas sem a devida formação acadêmica.


Os jornalistas recém-saídos da Uneb não devem mais admitir a realização de cursos relâmpago para candidatos à obtenção de DRT de radialista (alguns dos quais defensores de estranhas ‘regras de mercado’, que atrapalham a vida dos jornalistas em busca de um lugar nas rádios); também não podem permitir a atuação de pessoas que não sabem distinguir entre um argumento sólido e um falacioso, que reproduzem ipsis literis o áudio de uma fita K7 decupada (o famigerado jornalista capivara); dos incapazes de reconhecer os (inter)discursos naquilo que escrevem, falam ou registram em suas fotos (aliás, o que tem de ‘fotojornalista’ surgido do nada mas ingresso na área por ter a SLR digital último tipo acompanhado da devida objetiva de tantos mil reais, não está em nenhum catálogo fotográfico), e blogueiros violadores da legislação eleitoral.


Escrever com a correta conjugação do verbo, “tirar fotos bem bonitas” e saber “upar” uma foto num blog não basta para alguém se dar ao direito de bancar o jornalista e sair cantando de galo como tal. A propósito, nada tenho a dizer sobre quem está no mercado há tempos. Inclusive, seria contraditório se eu o dissesse, tendo passado praticamente meus 12 anos de jornalismo como mero provisionado, embora até pudesse ter ficado, estava escorado no argumento furado de que experiência é o que basta. Mas não basta!


O escriba aqui volta a dizer, crendo que os companheiros formados e os colegas das atuais turmas da Uneb, os próximos jornalistas, hão de concordar: na região do São Francisco não se admite mais gente sem formação, que ingresse pela “janela” na atividade profissional ou à reboque de uma eventual indicação política. E nem venham dizer que a maioria dos formados da primeira turma já foi embora de Juazeiro. Lendária ou não, a história de quem bebe da água do Velho Chico sente a irresistível vontade de permanecer aqui pode ter lá seu fundo de verdade: ainda há gente na região buscando uma colocação no mercado de trabalho, na prática diária, lutando contra um bando de “penetras” de sorrisos cordiais e fortes apertos de mão.


A esses “jornalistas”, “fotojornalistas” e “blogueiros” de ocasião e oportunidade recomendo considerarem seriamente a possibilidade de ingressar na faculdade. Quatro anos e meio de UNEB ou quatro de Universidade Federal da Paraíba (UFPB), para citar somente duas universidades bem próximas, lhes farão um bem enorme.


Enquanto isso, por humildade e hombridade, dêem o devido espaço para quem buscou saber como a semiologia pode ser útil para identificar os vários discursos por trás das falas dos interlocutores com os quais lidamos diariamente, ao fazermos nosso recortes dos fatos ou que nem sempre a foto “bem bonita” revela ao leitor a essência de um acontecimento.


Jean Carlos é Jornalista provisionado e com formação pela UNEB