O Mercado Cultural na Aldeia

. 12 agosto 2008

O sociólogo francês Pierre Bourdieu nos deixou um legado importante ao tentar distinguir duas vertentes do campo de produção de bens simbólicos: o campo de produção erudita e o da indústria cultural. Para o sociólogo, era necessário refletir para quem se destinam os bens culturais produzidos. O campo de produção erudita destina a produção de seus bens a um público de produtores de bens culturais, enquanto o campo da indústria cultural os destina aos não-produtores de bens culturais, ou seja, a população em geral.


O Mercado Cultural do 4° Festival de Artes do Vale do São Francisco parece confirmar esta constatação de Pierre Bourdieu. O espaço alternativo onde os expositores locais se encontram para a “comercialização” dos seus trabalhos aparenta ser muito mais um ponto de encontro de artistas do que um elo entre artistas e comunidade. Algo que lembra o paradigma da “feira de aldeia”, onde a interação se dá pela troca de bens visando sempre à satisfação de algo: a venda do produto, por exemplo.


“Mas não foi por falta de divulgação”, afirma Sandra Guimarães, coordenadora e curadora do Mercado Cultural. Segundo ela, os meios de Comunicação locais divulgaram o espaço. Mas daí até a “população em geral” de Bourdieu participar corre um rio mais longo e profundo do que o Velho Chico.


Para quem ainda não viajou nas fotografias de Gustavo Matos nem experimentou um bom-bom de cachaça feito pela neta de Joãozinho do “Pharol”, o próximo sábado (16/08) será a última oportunidade para encontrá-los. Isto porque, fechando a programação do Aldeia do Velho Chico, Luluca Guerra fará um show na lateral esquerda do salão do SESC, onde a arte de dona Nezita, que há 20 anos, se faz por meio da confecção de fantasias para grupos de dança e balé, encontra-se com a Toyart de Brisa, que há cinco meses descobriu o segredo do feltro.


A expectativa delas é só uma: contrariar a teoria de Bourdieu...


Será que conseguem? Será que a produção erudita e a indústria cultural poderão se encontrar para atrair a população e também produzir arte?


Por Luís Osete, aluno do curso de Comunicação Social Jornalismo em Multimeios e colaborador MultiCiência