Perfil: Antônio Marcos por Thiago Gonçalves

. 05 novembro 2008



Antônio Marcos: uma vida dedicada à política


- Sobre o que você quer que eu fale?

- Quero que você fale de sua vida pessoal, religiosa, política...

- Sobre a minha vida pessoal eu não vou falar!(risadas). Falo de política.


Vida política ou pessoal? Na verdade não sabemos onde começa uma e termina a outra. Antônio Marcos ainda criança já participava de movimentos comunitários com seu pai, Bernardinho Evangelista, em Juazeiro, cidade de nascimento, não de registro. Por “motivos pessoais”, ele teve que ser registrado em Curaçá.


- Tive uma infância normal. A diferença é que, na nossa casa, a gente sempre conviveu com as discussões sobre os problemas do meu bairro. Isso interferiu, diretamente, na minha formação política futura.


Com nove anos, Antônio Marcos começou a participar de comícios, apesar de não entender o que aquilo significava. Estava ali para acompanhar seu pai, mas isso o ajudou a entender e se engajar em movimentos políticos.


A participação efetiva na política começou aos 14 anos no Colégio Polivalente Américo Tanuri, quando, incentivado por uma professora, se juntou a outros colegas e tentou organizar uma entidade estudantil para lutar por melhorias na escola.


- A forma como ela nos disse o que tinha sido a escola no início, com muita dificuldade, nos incentivou a lutar por melhorias. Nós pensamos em fundar um grêmio estudantil, mas, como esse movimento não era forte em Juazeiro, não sabíamos como fazer.


Essa dificuldade tornou o projeto inviável, mas não abalou a vontade dos alunos de ter um instrumento de luta, onde eles pudessem defender os seus ideais. A partir daí surgiu a idéia de criar um jornal, produzido e editado com a participação de alunos e professores.

- Esse jornal foi importante para reavivar o meu desejo de lutar em favor da escola. De lá para a luta em prol da sociedade, foi um passo.


Antônio Marcos não parou mais. Quando chegou ao ensino médio, aos 15 anos, no Colégio Paulo VI, encontrou um grêmio formado e logo juntou-se ao grupo, como Diretor de Jornalismo. Pouco tempo depois, tornou-se presidente da instituição.


- A participação no grêmio estudantil ajudou-me a querer de fato lutar pela educação pública de qualidade e também em prol da cidade.


Foi no grêmio que ele teve o primeiro contato com a política partidária, participando de ações desenvolvidas por membros do Partido Socialista Brasileiro (PSB).


- Eu tinha a compreensão de que, naquele momento, por militar no movimento estudantil, não deveria me filiar a um partido político. Sabia que não deveria haver confusão entre política partidária e movimento estudantil.


Por dois anos, Antônio Marcos foi presidente do grêmio. Só deixou o cargo quando terminou o ensino médio. É bom lembrar: deixou o grêmio do Paulo VI! A história não pára por aí. Saindo do ensino médio, fez vestibular para Pedagogia e passou. Quando chegou à Universidade do Estado da Bahia (UNEB), encontrou pessoas que já o conheciam da militância estudantil e foi convidado para participar do Diretório Acadêmico.


- Não aceitei o convite, mas me envolvi na Comissão de Avaliação Institucional. Lá, na universidade, eu tive uma abrangência maior sobre o que é a política.


A militância e os ideais políticos já faziam parte da vida de Antônio Marcos. Um ano depois, envolveu-se ativamente na militância estudantil, fazendo parte da Executiva Estadual dos Estudantes de Pedagogia e, logo após, da Executiva Nacional.


Foi, também, Secretário Geral do Diretório Central dos Estudantes da UNEB, Coordenador do Departamento de Ciências Humanas III e, posteriormente, Presidente do Diretório Acadêmico.


Na época, estava envolvido com a política partidária - mas sem filiação - no Partido dos Trabalhadores (PT). O primeiro contato com o partido surgiu através de pessoas que participavam da militância estudantil na Bahia.


- Isso foi gerando em mim uma convicção de que deveria militar no PT, porque o partido possuía objetivos muito semelhantes àquilo que eu pensava, de lutar por uma educação pública, por uma sociedade socialista, mais humana, igualitária.


Há oito anos, Antonio Marcos participou diretamente da primeira campanha eleitoral. Naquele ano, o PT elegeu um vereador e o candidato a prefeito. Isso o aproximou ainda mais do partido, porque o fato lhe proporcionou a participação no plano governamental de educação.


- Eu já militava há um tempo, amadureci e, em 2001, entendi que deveria me filiar. Participei da várias ações e vi que o PT, apesar de sempre seguir todas as decisões que são tomadas pelo conjunto de filiados, dá-nos a liberdade do debate, da discussão.


Sempre com a sua vontade de crescer politicamente, após quatro anos de filiação, foi eleito Secretário Geral e dois anos depois se tornou o presidente do partido em Juazeiro.

De repente, uma pausa:

- Vamos lá para fora, aqui dentro está muito barulhento.


Estávamos conversando dentro do templo da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, mas precisamos sair porque iria começar o ensaio da banda da igreja e estávamos próximos a uma caixa de som.


- Espere um pouquinho, preciso conversar com uma pessoa.
- Vamos Antônio Marcos!
- É rapidinho.


Após alguma insistência, o sempre ocupado Antônio Marcos resolve retomar a entrevista. Desta vez, sob uma árvore, próximo ao seu carro vermelho com adesivos da estrela símbolo do Partido dos Trabalhadores.


Apesar de não estar totalmente favorável à situação atual do partido em Juazeiro, ele o defende, pois respeita as decisões da representação política. É por pensar desta forma, que o sempre atuante Antônio Marcos, mesmo tendo um histórico de lutas em prol das causas populares e defender os ideais do partido onde milita, ainda não concorreu a nenhum cargo eletivo.


- Ainda não concorri a uma vaga no legislativo ou executivo por acreditar que uma candidatura não nasce de um desejo pessoal. Ela tem que representar interesse de um grupo. Desejo nós temos. No momento em que fazemos a opção partidária, fazemos a opção, também, de ser uma representação daquilo que defendemos.

- Qual a sua opinião sobre a política em Juazeiro?

- Pare aí! Você quer a minha opinião mesmo? É complicado!

- Quero sim!

Antonio Marcos diz que a política juazeirense vive um momento ímpar, pois na eleição para prefeito deste ano, seis candidatos apresentam-se como opção.

- Quatro destes postulantes, nunca se candidataram a prefeito. Isso mostra uma novidade, já que, há muitos anos, a cidade está polarizada entre as outras duas candidaturas.


Desde o ano de 1994, o cargo de prefeito é alternado pelos candidatos Joseph Bandeira, do PT e o atual prefeito, Misael Aguilar, que fazia parte do Democratas, antigo PFL e hoje milita no PMDB.


Mesmo entendendo que a diversidade faz bem para a população, Antônio Marcos acredita que há um problema grave em Juazeiro.


- Nem sempre os candidatos representam a construção da história de um partido.


Isso é evidente na cidade. Um dos candidatos é empresário e milita em um partido denominado comunista. Outro problema destacado pelo petista é o que ele chama de síndrome: os políticos lançarem seus filhos ou irmãos como candidatos.


- Isso demonstra ainda um modo retrógrado de fazer política. Um regime oligárquico, onde as famílias dominam o cenário político. Infelizmente a esquerda está sendo vítima disso. A direita sempre agiu assim, mas a esquerda não.


Defensor da militância por vocação e como forma de defesa dos interesses coletivos, Antônio Marcos afirma que a política atual na acontece pelo conjunto de idéias, mas pela afinidade familiar e as relações de parentesco.

- Acho que isso é um retrocesso político na cidade.


Para Antônio Marcos, o problema não está apenas nos políticos, mas também nos eleitores que não buscam conhecer como funciona cada cargo político, principalmente quais as atribuições do poder legislativo.


- A escolha dos vereadores acontece pela afinidade pessoal, apesar de que ainda há candidatos que representam projetos partidários.


Evangélico da Igreja Assembléia de Deus há dez anos, Antonio Marcos declara que já foi discriminado tanto dentro como fora da igreja, porque ainda há preconceito, em relação a evangélicos e o envolvimento político.


- Eu já tive que me deparar com falas, inclusive no meio acadêmico, do tipo: você é evangélico? Eu nem sabia, por causa do seu envolvimento político na universidade.


No entanto, ele defende que apesar da cooperação entre religião e política, cada uma tem um papel específico. Os cargos públicos devem ser definidos pelos critérios públicos e os cargos religiosos pelos critérios religiosos.


- Acredito, porém, que há uma injustiça do mundo político para com a religião, mas acho que ela precisa ajudar muito a política a se tornar um campo mais transparente, mais justo. O Cristianismo, falo dele porque é majoritário no Brasil, tem valores que podem ajudar muito, como ética, justiça, solidariedade. Isso pode qualificar a política.



Sempre com seu jeito descontraído de se relacionar com as pessoas, Antônio Marcos, brincalhão, quer me cobrar pela entrevista. O valor cobrado foi dois reais. Pode isso? Ele queria receber esse valor absurdo!


Por Thiago Gonçalves, estudante de Jornalismo em Multimeios