Mecanização da colheita da cana gera produtividade e também desemprego

. 01 dezembro 2008

Mecanizar a colheita da cana de açúcar é a tendência dos produtores sucroalcooleiros. A legislação ambiental e a busca por otimizar a produção têm contribuído para expandir a mecanização nas usinas. No entanto, esta opção representa a substituição de até 100 trabalhadores por colheitadeira.

A empresa Agrovale, localizada em Juazeiro-BA, submédio do São Francisco, é uma das maiores produtoras de açúcar do Nordeste. Na Bahia responde por cerca de 85% da produção do açúcar e 65% do álcool. Seu sistema de colheita da cana emprega 1200 homens durante a safra, mas a empresa anunciou recentemente que pretende mecanizar a atividade.

Em 2001, a Agrovale fez a primeira tentativa do desempenho da colheitadeira. Passou seis meses utilizando a máquina, porém não obteve sucesso. Na época, a substituição foi de apenas 20 trabalhadores, o que não compensava, devido ao alto preço do equipamento, que custa em média 800 mil reais.

Segundo o Gerente de Irrigação e Drenagem da Agrovale, Vinicius José Sousa de Vieira, a empresa continuará testando até conseguir um bom resultado, e, em poucos anos, ela estará integralmente mecanizada. “A Agrovale tem que se adequar às leis ambientais e ao mercado que está cada vez mais competitivo. Só, em São Paulo 17 novas usinas passaram a funcionar, e 87 delas produzirão álcool. A empresa precisa de um sistema de colheita e irrigação mais tecnificados, ou ficará fora do mercado, sendo absorvidas pelas demais empresas,” explica o gerente.

A motivação por ampliar o cultivo da cana deve-se ao lançamento do governo federal de programas que incentivam a produção de etanol (álcool), caracterizado como substituto ideal do petróleo, já que sua combustão emite menos gases poluentes do que o diesel e a gasolina. Assim, o álcool deve aumentar sua participação no mercado.

Contudo, para atender essa demanda, as usinas vão precisar se adequar a legislação ambiental, que decretou leis que exigem o fim da queima da cana - uma das etapas necessárias para realizar a colheita manual - devido aos impactos ecológicos. A queima é feita para limpar o canavial com o objetivo de facilitar a operação do corte, pois a palha da cana dificulta a ação dos trabalhadores e pode até causar ferimentos. Com a cana crua, o desgaste físico do trabalhador é maior que na cana queimada, o que resulta em menor capacidade diária. O rendimento de oito toneladas /dia cai para quatro toneladas/dia.

Mecanizar a colheita contribui para o meio ambiente e aumenta a produção, já que a máquina colhe a cana crua e faz o serviço de até cem trabalhadores, dependendo do solo. Enquanto um trabalhador braçal corta em média 7,5 toneladas por dia, a colhedora tem capacidade para atingir 20 toneladas hora. Por outro lado, adotar máquinas em substituição à mão de obra humana acarretará em desemprego aos trabalhadores.

Por Dionísia Santos, repórter da Agência MultiCiência.