Trabalhadores da cana: labuta difícil

. 01 dezembro 2008

Embora levem uma vida difícil, muitas famílias dependem da renda do corte da cana. É o caso do trabalhador rural da Agrovale, C.S.N. Nascido no interior de Pernambuco, filho de produtores de sequeiro, o trabalhador nunca estudou, pois desde os sete anos de idade, ele e os dezessete irmãos, iam para roça às 4h da madrugada, onde plantavam mandioca, e só voltavam às 18h.


Era da mandioca que ele e sua família sobreviviam. "Às vezes, eu chegava da roça e não tinha nada pra comer. Eu ficava olhando para as telhas procurando um jeito de dormir, mas a barriga seca não deixava. Mamãe teve 25 filhos, mas oito morreram porque não escapou só com farinha’’, recorda.


Aos 16 anos, C.S.N saiu de casa sem destino em busca de melhores condições de vida. Migrou por várias cidades sem sucesso até chegar a Juazeiro. Com a ajuda de alguns amigos, conseguiu ingressar na safra da Agrovale e há seis anos corta cana. “Vim morar em juazeiro por causa da cana, é um trabalho que maltrata muito, mas a gente vai ficando velho e tem que correr atrás de alguma coisa. Graças a Deus, já consegui fazer uma casinha aqui em Juazeiro”, relata o trabalhador rural.


A maioria dos cortadores de cana da Agrovale são produtores de sequeiro que têm problemas com seu sistema produtivo e precisam migrar de suas regiões em busca de novas possibilidades. Com um índice de escolaridade baixo e sem qualificação suficiente, os trabalhadores ficam impedidos de ascender para outras atividades.

“O vale do São Francisco não terá um impacto econômico significativo com o fim do corte, já que muito são migrantes e alguns com o nível de escolaridade mais alto poderão ser absorvidos dentro da própria empresa,” afirma a economista Maria Socorro Macedo Coelho, mas reconhece que a maioria dos trabalhadores, formada por analfabetos, ficará desempregada.

Socorro aponta ainda que, diante do cenário de tecnificação da agroindústria, a Agrovale precisa mecanizar sua colheita, caso queira se manter competitiva no mercado de produção de álcool. Deste modo, as novas tecnologias, como a colheitadeira, barateiam custo e aceleram o trabalho.

O corte de trabalhadores parece inevitável, mas a preocupação social recai sobre o que fazer com essa mão-de-obra sem escolaridade e sem qualificação dentro de um mercado de trabalho, cada vez mais, exigente. Os trabalhadores da Agrovale precisarão de requalificação para serem novamente empregados. Assim como devem ser criadas políticas públicas que atendam às necessidades dos produtores de sequeiro. “É preciso que o governo juntamente com a Agrovale pensem numa forma de requalificar estes trabalhadores. O governo lançou a lei e tem obrigação de pensar numa solução para estes cortadores. A Agrovale como empresa que prega o social não pode se isentar desse processo, até porque, a empresa não terá mais que pagar salários,” ressalta o Secretário do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Juazeiro, Ariosvaldo Alves Cardoso.

A mecanização da colheita da cana precisa ser tratada com amplitude e cautela, pois impulsiona a produtividade, traz melhorias ambientais, mas contribui para aumentar o desemprego, um problema tão latente no Brasil que, atinge principalmente pessoas sem escolarização, como cortadores de cana.

por Dionísia Santos, repórter da Agência MultiCiência