Muito além de um resgate do passado, o museu de Juazeiro conta a própria história

. 28 dezembro 2008
Na subida dos degraus de uma escada, um encontro com o passado. A história revelada em cada detalhe: nas paredes, no chão, nos objetos e fotos. As portas largas e altas se abrem para que o visitante possa viajar em um mundo velho, mas que revela o novo, desconhecido pela geração atual. As janelas enormes mostram o mundo externo, porém a curiosidade em entender o passado, convida a olhar o mundo por traz da janela. É a Fundação Museu Regional do São Francisco que em cada detalhe conta a história da região.


O coronel Miguel Lopes de Siqueira, fazendeiro que veio de Ouricurí – Pe, começou a construir o palacete estilo neoclássico em 1920. A partir de 1925 começou a morar na mansão orgulho de Juazeiro. O título de coronel não era por conta da patente, mas por que na época, os fazendeiros ricos eram chamados de coronéis. Em 1928, Miguel foi intendente de Juazeiro, ou o que chamamos hoje de prefeito.

De 1944 a 1946, a casa passou a ser a clínica de saúde do Dr. Giussep Mucini, mas a história do belo palacete não iria parar por aí. Em 1950 – o prédio passou a ser a repartição federal, Superintendência do Vale do São Francisco (SUVALE). Depois da Saída do órgão Federal - a mansão quase foi demolida, no entanto, um movimento popular em 1977 protestou contra a derrubada da casa, evitando que isto acontecesse.

Em 1978, o palacete foi adaptado para funcionar o Museu Regional do São Francisco. Mesmo funcionando, o prédio chegou a ter o nome no diário oficial em Brasília para ser leiloado em 1999, mas a comunidade conseguiu evitar, mais uma vez, alegando que era a única casa da cidade que tinha a arquitetura de um palacete.

No ano de 2001, o museu foi fechado por falta de funcionários e pelas péssimascondições estruturais, reabrindo as portas para visitação somente em 2008. Hoje o prédio que abriga a história de Juazeiro cobra um real por pessoa, recebendo em média dez visitantes por dia, geralmente são estudantes e turistas que querem conhecer a cidade. A contratação dos funcionários ficou por conta do município.

O acervo hoje é regional e tem relação com a história da região do São Francisco, é constituído por quase cinco mil peças, entre elas fotografias, estandartes, documentos, medalhas, quadros de pinturas, carrancas e mobiliários do século XIX. O objeto mais antigo é uma carta patente, de meados de 1810, que era um decreto com a assinatura de Dom Pedro I. Além dos objetos, os detalhes do palacete despertam a curiosidade do visitante.

No museu há um porão que funcionava como moradia de ex-escravos que trabalharam para o coronel Miguel Lopes. O lugar também servia de depósito de abastecimento dos vapores que chegavam. A altura do lugar não passava de dois metros, levando aqueles servos a viverem uma vida de muito desconforto. Hoje, o porão teve o piso rebaixado e o visitante tem a oportunidade de ver exposições de pedras da região.

No palacete Miguel Lopes, cada detalhe, objeto ou exposição se configura como um retorno ao passado, possibilitando aos visitantes reviver a realidade de uma outra geração. A impressão é de uma viajem a um determinado momento histórico, nem que seja por poucos minutos, mas que proporciona uma experiência eterna.


Por: João Barbosa
Fotos: Eudes Sampaio