Ao poeta Raul da Rocha Queiroz

. 30 dezembro 2008
“Fui hoje visitar o Raul. O Raul de Queiroz. O Grande poeta Raul de Queiroz. A maior glória literária de Juazeiro, em todos os tempos, ali está, num leito miserável, a extingir-se lentamente, dolorosamente, esquecido de quasi [sic] todos, cumprindo o destino cruel do mais desgraçado de todos os poetas”.

Em tom melancólico, foi iniciada pela Radio Club Comercial a “Campanha em favor de Raul da Rocha Queiroz”. Era 1948. O poeta que, em 1915, teve a premonição de que morreria na mocidade, “quando a vida é um sonho olente e venturoso”, já contava 57 anos.

Nascido no dia 5 de janeiro de 1891, Raul fez o curso primário com o antológico professor Luiz Cursino da França Cardoso e, ao que consta no livro “Juazeiro nos caminhos da história”, de Jorge de Souza Duarte, sua primeira publicação poética foi no dia 6 de novembro de 1909, no jornal “O Correio do São Francisco”. Um soneto (“MEU AMOR”), dedicado às “Magnólias”, inaugurou seu exercício poético nos jornais da época.

“Vibrando com sentimento, desde muito moço, as mais doces, as mais pungentes e as mais profundas notas da lira, nenhum juazeirense o suplantou em expontaneidade [sic] e inspiração. Versos que são verdadeiros monumentos, na forma e na essência, o seu talento boêmio espargiu nesta cidade. Mas, a infelicidade jamais o abandonou...”.

Fazendo jus à linha poética adotada, Raul mergulhou fundo no destino que, na história da literatura, parece estar traçado aos poetas românticos. Teve uma vida marcada pela marginalidade, bebidas em excesso e tragédias pessoais. Tal como Fagundes Varela (1841 – 1875), o último “Byron brasileiro”, chegou a dedicar poemas aos dois filhos mortos na tenra idade.

No levantamento biográfico feito por Maria Franca Pires consta que o primeiro casamento de Raul foi um fracasso. Época em que muitos versos foram escritos nas bodegas, ao lado de copos de cachaça e aos ouvidos de uma platéia que, como ele, tentava esquecer as decepções da vida.

“Houve um dia, um dia triste: em que prenderam o Raul, alegando não ter ele uma profissão:... E agora está morrendo à míngua, na terra onde nasceu!”

No segundo matrimônio, casou-se com Raimunda Lopes. Esta, segundo Maria Pires, “deu-lhe momentos realmente felizes”. Tiveram dois filhos: Benedito e Benedita da Rocha Queiroz. Dois também foram os livros publicados por Raul: “Gotas de Orvalho” e “Perfis”, raríssimos atualmente.

“Não é este um prêmio para um poeta. Suavisemos [sic] a sua dor, com a nossa solidariedade. Enviando-lhe presentes, por intermédio da Radio Club Comercial, prestaremos uma homenagem oportuna ao príncipe dos poetas juazeirenses”.

A Campanha da Radio Club Comercial foi um sucesso. A impressão que se tem ao ler as frágeis páginas grampeadas à Carta-Campanha é de que, no alvorecer de sua vida, o poeta Raul da Rocha Queiroz foi definitivamente reconhecido pela sociedade juazeirense. Assinaturas de personagens históricas da cidade, como Apriginho, e de pessoas anônimas dão a exata medida da dimensão alcançada por uma campanha que culminou no último dia de 1948.

Sessenta anos depois da morte de Raul da Rocha Queiroz, pesquisadores do projeto de pesquisa e extensão “O Arquivo de Maria Franca Pires: memória e história cultural em pesquisa na região de Juazeiro-BA”, coordenado pela professora Odomaria Macedo, preparam uma antologia poética do “príncipe dos poetas juazeirenses”. A intenção, tal como este artigo, é lembrar que nunca podemos esquecer quem veio para ficar...

Artigo escrito por Luis Osete, bacharelando em Jornalismo em Multimeios pela Universidade do Estado da Bahia e em Psicologia pela Universidade Federal do Vale do São Francisco, em lembrança aos 60 anos da morte do "príncipe dos poetas juazeirenses" no dia 31 de dezembro.