Fotojornalismo nas Trincheiras

. 19 fevereiro 2009



Ele é considerado um dos principais fotógrafos de guerra no mundo. Viveu intensamente, escolheu a fotografia como sua forma de amar. Morreu segurando sua câmera durante a Guerra Francesa no Vietnã ao pisar em uma mina, em 1954. Sua morte foi conseqüência do próprio lema: “se as fotografias não são suficientemente boas, é porque não se está suficientemente perto”. O seu nome é Robert Capa e seu trabalho pode ser apreciado no Mural Galeria Fotógrafo Euvaldo Macedo Filho, no Departamento de Ciências Humanas, na UNEB, a partir da proxima quinta-feira (26/02) a 11 de março, no horário das 8h às 22h.


A exposição Robert Capa: Fotojornalismo nas trincheiras inclui imagens de guerras do século XX. As 24 fotografias da mostra contêm fotos capturadas por Capa durante a Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial, entre outras. Na foto acima, Robert Capa captura a sua imagem mais famosa: a morte do miliciano republicano, Frederico Borrel Garcial, em Cerro Muriano, Córdoba, 5 de Setembro de 1936, ao receber rajadas de metralhadora de tropas do exército do General Franco, na Guerra Civil Espanhola.




Nas imagens de Capa, impacto e sensibilidade


Robert Capa influenciou grande parte de uma geração de profissionais da fotografia. Suas imagens se destacam pela estética, pela composição, pela proximidade com o assunto fotografado. Quase sempre sabia o queria fotografar. Notava o momento certo em que a imagem estava formada à sua frente. Ele não passou pelas histórias que fotografou, ele as viveu. Conhecido como um fotógrafo de guerra, na verdade, Robert Capa a detestava e seu olhar estava muito mais interessado em registrar a vida e a justiça do que a morte.


Embora as imagens dos conflitos sejam a parte essencial do seu trabalho, ele também retratou os escritores Ernest Hemingway, John Steinbeck, o pintor Pablo Picasso e companheiros da agência Magnum. As fotografias revelam sensibilidade, o poder emocional e o impacto visual que fizeram do fotográfo a referência da história do fotojornalismo.

Várias histórias acompanham suas fotos, como as do desembarque na Normandia. Naquele 6 de junho de 1944, Capa mais parecia soldado do que fotógrafo. Participou de perto da operação. Estava com duas câmeras penduradas no pescoço e fez mais de 160 fotografias.



Robert Capa: estética, composição e proximidade

Robert Capa nasceu André Friedmann, em Budapeste, na Hungria, em 22 de outubro de 1913. Ainda adolescente, foi acusado de ser comunista pela polícia secreta e acabou sendo expulso de seu país. Seu primeiro refúgio foi na Berlim dos anos 30, durante a República de Weimar. Inscreveu-se na Faculdade de Ciências Políticas e arrumou emprego como laboratorista de uma agência fotográfica: a Dephot, a mais importante na época.
Em 1931, sua primeira chance como fotógrafo. Foi o único jornalista que conseguiu fotografar o famoso discurso do ex-líder soviético, Leon Trotski, exilado em Copenhagen. Em 1933, Hitler sobe ao poder e Friedmann, judeu, se vê obrigado a se mudar mais uma vez. Desta vez o destino é Paris. E foi na capital francesa que ele encontrou o lugar propício para desenvolver seu olhar fotojornalístico.

Naquela época a imprensa estava em desenvolvimento e os jornais abriam grande espaço para a fotografia. Foi em Paris também que conheceu sua primeira mulher, a também fotojornalista, Gerda Taro (que morreria atropelada por um tanque durante a Guerra Civil Espanhola). Foi em Paris, também que "nasceu" Robert Capa, mais precisamente em 1935. André, arrumou uma secretária (sua própria mulher) e uma agente (ele mesmo) que vendia fotos de um tal de Robert Capa. Seu trabalho chamou a atenção de Lucien Vogel, fundador de uma das mais importantes revistas da época, "VU". Nesse período, a vida profissional de Robert Capa deslanchou sem retorno. Na foto ao lado, ele tem sua imagem registrada pelo fotográfo Werner Bischof, em 1950.

Em 1940, mais uma mudança. Os alemães tomaram Paris e Capa se mudou para os EUA onde se reuniu com vários fotógrafos europeus que já se encontravam exilados. Lá, ele passou a colaborar com a revista Life. Inquieto, não conseguia, porém, esquecer Paris, cidade onde, segundo ele, aprendeu a viver. Dois anos depois retorna ao velho continente como correspondente de guerra e, em 1947, retornou definitivamente para Paris. Com Henri Cartier-Bresson, David Seymour (conhecido como Chym) e George Rodger, fundou a famosa agência Magnum, com sede em Paris e Nova York.

Apaixonado por fotografia, Capa sempre defendeu sua liberdade de produzir imagens. Ao fundar a agência, queria garantir a posse do negativo. A Magnum acabou por tornar-se referência para os fotojornalistas.

Mas não foi só de guerras que a vida de Capa foi preenchida. Boêmio, gostava de comer e de beber, fez vários amigos como os escritores Ernest Hemingway e John Steinback, artistas como Picasso. Namorou a atriz Ingrid Bergmann e inspirou Alfred Hitchcock no filme "Janela Indiscreta". Dizem também, que os livros de Hemingway "As Neves do Kilimanjaro" e "Por Quem Os Sinos Dobram", foram criados a partir dos bate-papos entre o escritor e o fotógrafo.

Suas imagens sem dúvida ficaram para a história. Nelas o observador participa dos eventos, passeia através dos olhos de Capa pelos conflitos, sente o medo estampado no rosto de uma criança, os barulhos de uma guerra. Situações que ele detestava e procurou combater com suas fotografias. E foi justamente na cobertura de uma guerra, a da Indochina, que Capa morreu. Mais precisamente no dia 25 de maio de 1954. No meio de um campo, ele resolveu descer do jipe em que estava junto com um repórter para olhar mais de perto. Pisou numa mina e morreu na hora.



Por Cecílio Ricardo e Silvana Costa, Graduandos em Jornalismo em Multimeios e responsáveis junto com Flavio Ciro pela curadoria da Exposição.
Fotos: Robert Capa e Werner Bischof (retrato de Capa).