Sobre o amor e outros desatinos do coração

. 22 março 2009
O amor tem sido uma chama que tem despertado a imaginação e a procura por respostas de escritores, filósofos ou apenas de casais enamorados que pululam querendo entender o que compõe essa vaga substância, mas poética do que concreta. Até mesmo em mesas de restaurante, houve–se o desvelo de alguém que consola o amigo por não saber o que lhe assombra o coração.

Contudo, o que compõem o amor e seus demônios, como nos fala Gabriel Garcia Marques. A resposta não é complexa, mas também não é simples, o amor pode ser simplesmente uma invenção, uma casualidade.

Vejamos: há amores que se procuram, outros chegam sem avisar, rompem barreiras, abrem diques, córregos que se aproximam do coração. Quem há de dizer que este que chega sorrateiro não seja o que mais se entrelaça, corpos que se procuram. É possível viver a vida querendo encontrar o amor, porém quando este chega, sem aviso prévio nem luzes de néon, assusta-nos sem saber o que representa, pois pode ser o doce mistério.

Algumas pessoas estão tão encantadas querendo viver um afeto transcendental, empacotado e embrulhado com papel brilhante, laços de cetim e sapatilhas de cristal que aquele vago sentimento de pertença e de encontro lhes parece fútil. Algo para se jogar fora. E o que dizer das recomendações, das receitas e dos manuais de relação amorosa que parecem ser cultivados quase inconscientemente ou umbilicalmente para que dêem certo! Sugerem armadilhas, pequenas fantasias, palavras ditas na hora certa ou seriam no momento propositadamente articulado?

Há amores inventados. Não são amores que resultam da invenção, criação, ficção ou apenas da reinvenção de afetos que não comportam estratagemas. Sim, há amores inventados, cuja arquitetura é cronometrada, um ensaio para que os casais entrelacem braços, conta bancária, estabilidade, mas não a doçura, a gentileza, o porto seguro que queremos alcançar.

Haverá um dos amantes que saberá usar melhor as palavras porque o sentimento amoroso é uma disputa simbólica de falas, linguagens retumbantes em que um tentará sempre dominar o outro. O amor também é poder. Como tudo é uma invenção arqueologicamente criada, um deles haverá de deleitar-se com os ocasos e acasos, fará verdadeiras combinações tentando esconder o óbvio ou quem sabe encontrar o óbvio. Quando encontra, não lhe é tão interessante assim. Tudo parece tão igual, sem entusiasmo, cansativo. Sem graça!

Talvez isso aconteça porque todos parecem procurar o amor e não enxergam quando se deparam com ele. Nem tão gradiloquente que pareça fantástico, nem tão inexato que lhe pareça sem graça. Não se verá luzes coloridas que lhe pareçam incandescentes. Mas quem disse que o amor é sempre uma luz de ribalta ou que as melhores luzes são a de néon?

Andréa Cristiana, Jornalista
Reprodução de texto publicado no Gazzeta do S. Francisco em 20.03.07