Feira livre perde clientela

. 23 maio 2009


“Olha o feijão verde, o litro é um real freguesa”; “moça bonita não paga, mas também não leva”, “vamos comprar freguês que a verdura tá fresquinha”. É nesse clima que a feira que funciona no pátio Arnaldo Ribeiro, no bairro Alto da Maravilha, em Juazeiro, se movimenta. Cabeça de bode, galinha viva, ovos de capoeira, gaiolas e chapéus de palha são alguns produtos que não encontramos em prateleiras de supermercados, sendo artefatos peculiares dessas tradicionais feiras livres.

Antigamente, a feira movimentava toda a população, atraía moradores dos distritos e povoados para Juazeiro e acontecia pelo menos três vezes por semana para atender à demanda de seus consumidores que lá encontravam tudo que era necessário à manutenção da casa. Além do pátio Arnaldo Ribeiro, existem o Mercado Joca Oliveira e outros espaços na cidade, nos quais são comercializados produtos tradicionais em bancas improvisadas. Contudo, a feira vem perdendo espaço para os supermercados nos diversos bairros.

Segundo os feirantes, são poucas as pessoas que vão à feira-livre para adquirir comidas e artigos para casa. Boa parte destes consumidores só freqüenta esses espaços em busca de alguma especiaria, ervas ou produtos especiais como camarão seco, amendoim, castanha, entre outros. “Hoje, eu só compro, peixe e carne de bode, mas verdura eu não compro mais, pela distância e a comodidade de comprar em cartão de crédito que na feira não tem", ressalta a consumidora Alair Fonseca.

Embora as feiras ainda propaguem a cultura regional através da comercialização de produtos típicos, os feirantes vêm enfrentando sérios problemas com a diminuição do número de fregueses. “Antigamente tinha mais gente, mas freguês hoje diminuiu muito. Várias coisas as pessoas procuram no supermercado. A feira livre está muito devagar”, afirma a comerciante Aparecida Fátima da Silva que trabalha há mais de 30 anos na feira livre de Juazeiro.

Dificuldades

Outro problema enfrentado pelos feirantes se relaciona à infra-estrutura e a falta de refrigeração de produtos perecíveis como carnes e peixes. “Tem uma norma que diz que você não pode trabalhar com carne exposta, a carne tem que ser toda cortada e deve trabalhar com ela congelada. A gente não tem como melhorar a estrutura num espaço que não é nosso, para isso a gente tem que fazer uma parceria com o poder público local”, adverte Carlos Moreira, feirante há mais de quinze anos.

Sobre a infra-estrutura, o supervisor de feiras, mercados e cemitérios do município, Francinalvo do Carmo, informa que a revitalização da feira livre de Juazeiro é uma prioridade da atual gestão e que engenheiros já estiveram no local para diagnosticar os problemas infra-estruturais e apontar soluções para melhorar as condições de trabalho dos feirantes.

Francinalvo ainda salienta que os quatro galpões localizados no Pátio Arnaldo Ribeiro, fechados há mais de 12 anos, serão reabertos “As carnes, peixes e vísceras serão comercializadas nos galpões e todos os comerciantes que trabalham com esses produtos têm que possuir três itens: a máquina de cerrar ossos, o balcão frigorífico e a balança eletrônica. No pátio, ficarão verduras, secos e molhados em bancas padronizadas”.


Caso haja uma melhoria da infra-estrutura das feiras em Juazeiro, poderá haver uma revitalização destes espaços, atraindo a população. Em algumas cidades brasileiras, as feiras livres movimentam a economia local, propagam a cultura da região e são pontos turísticos. É o que acontece no Mercado São José, em Recife, Mercado Municipal, em São Paulo, e o Mercado Central, em Belo Horizonte. Em Jacobina, no norte da Bahia, as feiras também são atraentes mercados para o comércio de roupas. Assim, nesses lugares, as feiras ainda são centros que permitem a consolidação de costumes e mantém a identidade da comunidade.

Por Elka Kelly, repórter
Karine Pereira, fotógrafa.