Distante de Casa

. 24 agosto 2009
Estudantes de várias partes da Bahia escolhem Juazeiro como segunda casa em busca do conhecimento

Na história de Juazeiro, os antigos moradores contam que, antes de se tornar cidade, a vila era um ponto de encontro e descanso de tropeiros. Debaixo dum pé de juá, árvore frondosa e frutífera, pessoas de diferentes lugares paravam, descansavam, abasteciam a tropa e seguiam viagem. Semelhante aos viajantes, atualmente aportam em Juazeiro estudantes de várias partes do país em busca de uma nova vida.

Eles vêm desde cidades mais próximas, como Senhor do Bonfim, às mais distantes como Morro do Chapéu, Salvador, Teixeira de Freitas, Porto Seguro, algumas distam a mais de 800 km de Juazeiro. A distancia é um fator determinante, porque são obrigados a morar em pensionatos, residências ou compartilhar casas alugadas com outros estudantes, o que nem sempre é uma tarefa fácil.


“A experiência é engrandecedora porque você aprende a viver”. Emerson Rocha


Para Emerson Rocha, estudante do 4º período de Jornalismo, sem o auxílio dos pais, “você aprende a se virar sozinho. Administra seu dinheiro, sua dureza também”, define com certa dose de humor.

No dia a dia de moradias em residências e pensionatos, no qual convivem pessoas com hábitos diversos, é necessário respeito e tolerar problemas incômodos como tarefas domésticas. “Nós conseguimos lidar muito bem um com o outro; aprendemos com os defeitos deles e os nossos”, diz Robert Souza, estudante do 5º período de Pedagogia.

O jornalista Paulo Melo, egresso que também morou na residência da UNEB, ressalta a exigência pessoal quando se trata de viver em grupo: “Há pessoas com culturas diferentes, diferentes concepções ideológicas, principalmente, sobre questões polêmicas.” Contudo, o mais importante é o objetivo a ser alcançado por cada um, destaca Paulo.

Gasto ou Investimento?

Manter um filho estudando, mesmo numa universidade próxima de casa, aumenta o orçamento de uma família, seja ela de baixa renda ou de classe média baixa. No pensamento de muitos estudantes existe uma dúvida freqüente: Educação é gasto ou investimento?

Para não sobrecarregar o orçamento familiar, muitos estudantes buscam os projetos de pesquisa, o que garante uma bolsa de até R$350, incentivo financeiro importante para a permanência deles na cidade.

Outros buscam morar na residência estudantil da UNEB. As acomodações são modestas, há apenas o que é básico numa casa comum. Camas, mesas, geladeira, fogão, TV; o que não pode ser visto como luxo e sim, necessidade básica. No curso, as despesas com apostilas e outros materiais básicos também onera o apertado orçamento individual. Contudo, é um investimento razoável na educação superior.

Futuras Exigências

O caminho percorrido para tornar-se um bom profissional custa suor e esforço. Entrar no mercado de trabalho é outro desafio. Muitos venceram o preconceito como Robert que ressalta a multiplicidade de aberturas para o pedagogo. “A sociedade acha que o pedagogo só é pra trabalhar com criança, o que não é uma ação menosprezável, vai-se trabalhar com consciências novas, o que outro profissional não é capaz. Nas empresas e nos concursos necessitam dos processos pedagógicos”, explica o estudante.

Eduardo Batista estudante do 1°período do curso de Direito, optou pela jurisprudência porque “Direito é de certa forma mais rentável e também é o “menos ruim” pra mim”.

Este perfil não é incomum entre os estudantes, a escolha da profissão é condicionada pelos rendimentos futuros e pelo que mercado de trabalho exige em determinada área. O que não significa a impossibilidade de existência dos que optam por um curso economicamente nada atraente, contudo se sentem vocacionados.

Mas nem só de apostilas, preocupações acadêmicas e financeiras vivem os/as residentes. O lazer e a diversão ajudam a manter o bom humor necessário para se manter uma vida estudantil saudável. Festas, babas (futebol), comemorações de aniversário são realizados com freqüência, muito delas são freqüentados por professores e funcionários, integração desses grupos, também nos espaços de diversão. É dessa forma que muitos estudantes suportam a saudade de casa e encontram novos significados para a vida à espera de um futuro melhor.


Por Laércio Lucas