Educação Especial

. 28 agosto 2009
Pais são fundamentais para auxiliar o desenvolvimento educacional de pessoas com deficiência intelectual.



Na sala de aula, Junior, de 26 anos, brinca e conversa como uma criança de oito, devido a uma deficiência intelectual que possui desde pequeno. Ele estuda na Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de Juazeiro (BA), e mostra dedicação em responder as tarefinhas que lhes são passadas. O exemplo de Junior é uma demonstração do trabalho educativo de instituições que trabalham com pessoas especiais. “Isso é fruto de uma união na educação entre família e professores”, afirma a professora Josilene Rosa, ao falar da importância do acompanhamento familiar na educação de crianças, jovens e adultos com deficiência intelectual.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), existem cerca de 25 milhões de pessoas que possuem algum tipo de deficiência intelectual no Brasil. Assim como Junior, estes brasileiros tem um desempenho intelectual inferior à média (QI),com limitações adaptativas em pelo menos duas áreas de habilidades. Junior, por exemplo, tem dificuldades na formulação de idéias, pois perde com freqüência o raciocínio.

De acordo com a Associação Americana de Deficiência Mental, para que uma pessoa tenha uma média de intelectualidade considerada normal, ela deve ter domínio de habilidades de comunicação, adaptar-se com facilidade à sociedade, ter cuidado consigo mesma, além de possuir motivação para o trabalho ou para outras atividades acadêmicas.

Na APAE, alguns pais acompanham os filhos excepcionais em seu desenvolvimento na escola, outros já não disponibilizam de tempo, devido ao trabalho e obrigações domésticas. A professora Josilene, conhecida pelos colegas de trabalho como Jô, declara que o acompanhamento dos pais é fundamental para aproveitamento escolar.

Para a professora, que ensina há mais de 16 anos na APAE, todo indivíduo tem algum grau de deficiência. “Eu trabalho há tantos anos com educação, e sou deficiente no uso de computadores”, conta Josilene, afirmando, com base em suas experiências na APAE, que pessoas com deficiência intelectual são capazes de se desenvolverem bem através das oportunidades que lhes são oferecidas.


A dona de casa Rosicleide Lima é mãe de Hellen Bárbara, de
13 anos. A menina, que estuda na APAE há cinco anos, já passou por outra escola de ensino convencional, mas não conseguiu acompanhar o desenvolvimento do resto da turma, pois tinha dificuldades de aprendizado. A mãe da Hellen só descobriu que a filha tinha Síndrome de Down quando ela tinha dois anos de idade porque percebeu que a filha não conseguia se comunicar facilmente. “Eu fiz o Teste do Pezinho na Hellen, mas os médicos não disseram nada”, afirma a mãe. O Teste do Pezinho, obrigatório em território nacional, é a maneira mais eficiente de prevenção da deficiência intelectual, mas a dona Rosicleide não sabia que o exame não é suficiente para diagnosticar a Síndrome de Down. O recomendável é realizar um exame de sangue com ultra-sonografia durante o primeiro trimestre de gravidez.

Sentada no banco de recepção da APAE, Dona Rosicleide coloca o filho, João Vitor, de apenas sete meses para dormir. Trata-se de uma cena rotineira. A cuidadosa mãe mora no bairro CODEVASF e leva Hellen para a escola às 14horas. Até a saída da filha da instituição às cinco da tarde, ela aguarda sentada na recepção enquanto o filho pequeno dorme. Às vezes, acompanha as atividades da filha, quando o caçula está acordado. Apesar da dona de casa se esforçar para dar uma boa educação à filha, não é sempre que pode levá-la à APAE.

Dona Rosicleide escolheu colocar a filha na APAE porque sabia que ela teria bons resultados com as atividades socioeducativas, de capacitação e orientação. Não demorou muito para que surgissem os primeiros resultados. “Ela aprendeu a se comunicar melhor, pois mal falava. Hoje, faz quase tudo sozinha, pega a própria água e outras coisas que antes não fazia”, conta a mãe, revelando ainda que a filha gosta muito de freqüentar a escola. Depois do almoço, Hellen avisa à mãe que está na hora de ir para a “lola”, o que significa escola na linguagem da menina.

Assim como qualquer adolescente, Hellen às vezes tem resistência em responder os deveres de casa, alegando dor de cabeça. A mãe sabe o quanto é importante estimular Hellen a exercitar em casa o que aprendeu na escola, pois é convicta de que o papel de educar não é apenas da instituição escolar. Dona Rosicleide acredita que a filha é capaz de desenvolver cada vez melhor suas habilidades. Em casa, procura ensiná-la a se comportar educadamente, comer sozinha, ter cuidados com a própria higiene. Pequenos detalhes, que rendem um desenvolvimento muito grande, viabilizando a independência da filha.

Para especialistas, este é o comportamento que os pais devem ter, pois auxiliam no processo de aprendizagem dos filhos, tornando-os aptos para fazer, sozinhos, atividades comuns. Os professores esclarecem que as famílias não devem subestimar as capacidades e habilidades dos filhos excepcionais, assimilando juízos de valores que os comparam a pessoas que merecem compaixão. O ideal é ensiná-los a desenvolverem suas habilidades, atitude que auxilia na formação e no processo de autonomia.

É recomendável que os pais também sejam compreensivos quando seus filhos mostrarem interesse em relacionar-se amorosamente. Muitos acreditam que pessoas especiais não têm desejo sexual ou, pior, não têm capacidade de desenvolverem uma relação conjugal. Contudo, profissionais de instituições especializadas alertam que os excepcionais são hipersexualizados, mas precisam de acompanhamento familiar para controlar seus impulsos. Os especialistas alertam que a repressão ao desejo sexual pode alterar seu equilíbrio interno, diminuindo as possibilidades de se tornar um ser psiquicamente integral. Por outro lado, quando bem encaminhada, a sexualidade melhora o desenvolvimento afetivo, a autoestima e o convívio em sociedade.

Muitos alunos da instituição já mostram ser independentes na execução de diversas atividades. Alguns vão para escola sozinhos, outros ajudam nas tarefas domésticas e nas compras no supermercado. Grande parte deles também participa, anualmente, do Carnaval de Petrolina com o Bloco “Sou Legal, sou Especial”, onde brincam e dançam junto com outras pessoas da cidade vizinha. As pessoas excepcionais gostam de se relacionar, e assim como qualquer outra pessoa, anseiam em realizar seus sonhos e conquistarem sua independência.

Por Gabriela Canário
Fotos: Larissa Nascimento