Destino Incerto

. 02 setembro 2009
A produção e o consumo desenfreado provocam degradação ao ecossistema planetário

A grande preocupação da sociedade contemporânea é saber como conciliar o crescimento populacional com a quantidade de alimento que o planeta pode produzir. Contudo, a realidade é desestimuladora. A lógica de produção em larga escala impede a correta destinação dos resíduos durante o ciclo produtivo, bem como o desenvolvimento sustentável.

“Produzir hoje não é difícil, se produz de tudo. Agora, a destinação correta para os resíduos é a grande batalha’’, afirma Herbênia Silva, professora do curso de agronomia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).


A degradação do ecossistema acontece por falta de políticas públicas. Um exemplo dessa realidade pode ser vista em Juazeiro, cidade que fica localizada ao norte da Bahia, onde a agropecuária é a principal fonte de renda. A cidade que tem cerca de 230 mil habitantes e fica às margens do rio São Francisco, despeja, semanalmente, toneladas de dejetos a céu aberto, sem tratamento, numa área situada na BA-210, próxima ao povoado do Rodeadouro. O município não dispõe ainda de aterro sanitário.

A falta de tratamento dos resíduos é perceptível na própria sede do município, com o déficit de receptores de lixo, contribuindo para o aumento da poluição nos centros urbanos. Tal situação incomoda não só os cidadãos juazeirense, mas as pessoas que chegam para morar na cidade ou visitá-la. Romualdo Augusto, que morava em Xique-Xique, percorre todos os dias do centro da cidade para o bairro São Geraldo, onde fica localizada a UNEB. O estud
ante ressalta que, várias vezes, procurou uma lixeira para jogar o lixo e não encontrou. “A opção é colocá-lo no bolso ou na mochila até encontrar um coletor de lixo”, declara.



O secretário de infraestrutura, Flávio Ribeiro, esclarece que a falta de coletores se deve aos furtos e ao vandalismo. “Os recipientes são roubados, ou então são quebrados pelos vândalos. A prefeitura não tem dinheiro para ficar repondo”, ressalta.



Reciclagem

Para melhorar a destinação dos resíduos, a professora Herbênia acredita que o processo de reciclagem seria a melhor opção para solucionar essa problemática. No entanto, a cidade ainda não possui uma cooperativa para fazer esse serviço, embora 200 famílias sobrevivam dessa atividade.

Há oito anos como líder do Movimento dos Catadores de Lixo, Francisco Silva, já fez várias tentativas de abrir uma cooperativa de reciclagem e não conseguiu, alegando que a maior dificuldade foi a falta de apoio político, sendo aprovado recentemente um orçamento de R$361 mil em parceria com o IDEIA.

O líder do movimento sabe da importância de uma cooperativa e diz que, além de gerar emprego, contribui efetivamente para a preservação da natureza. “Somos os principais amigos do meio ambiente. Porém, o Brasil é tetra campeão do mundo em reciclagem desumana! Enquanto a gente devia estar por cima da carne seca, a gente não tá, eles levam a carne e larga o osso”, argumenta.

Silva faz referência aos compradores do material, chamados também de atravessadores, por pagarem um valor significativamente baixo, exemplo do alumínio que custa R$ 1, 50 por quilo se vendido diretamente à empresa. Já ao atravessador, é comercializado por apenas R$ 1,00.

O líder afirma ainda que o baixo custo interfere diretamente na qualidade do trabalho, pois as pessoas que vivem dessa atividade não utilizam nenhum equipamento que assegure o mínimo de proteção. “As empresas, às vezes, jogam materiais usados, como luvas, que utilizamos para trabalhar”, esclarece.

Com a sede para a Cooperativa de Reciclagem, serão criadas uma quadra poliesportiva e uma horta comunitária. Estruturas que possibilitarão as pessoas que vivem desse serviço uma melhor qualidade de vida e um ambiente de trabalho mais adequado para desenvolver suas atividades.


Por Daniel Santana