“Sempre fui dos livros!”

. 30 outubro 2009

Quem freqüenta a biblioteca da Universidade do Estado da Bahia - UNEB, provavelmente já foi auxiliado por um rapaz solícito e risonho. Regis, como é popularmente conhecido, é um dos responsáveis pela classificação e organização dos livros. Mas, apesar de ser conhecido pelos alunos, muitos não sabem nada de sua história.

Em meio a livros de Comunicação, Filosofia, Direito e uma imensidão de outros temas, Regivaldo José da Silva, Régis, como é mais conhecido, sente-se à vontade para contar um pouco de sua vida. Ele, que já atendeu dezenas de alunos da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) em Juazeiro, sentiu-se surpreso com meu convite para escrever um perfil sobre ele. “Sobre mim? Você quer escrever sobre mim?”, questionou-me com sorrisos.

Aos 42 anos, o bibliotecário formado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Pós-Graduado em Didática do Ensino Superior e Especialização em Ensino da Comunicação Social, prestou vestibular por influência de um amigo. “Num final de ano acompanhei um grupo de amigos na inscrição do vestibular. Eles incentivaram para que eu fizesse a minha inscrição e eu disse: ‘Mas não vai dar, faz seis que anos que eu não pego em um livro!”, relembra. O rapaz que escolheu Biblioteconomia e Museologia, como segunda opção, passou no vestibular na primeira tentativa e é completamente apaixonado pelo que faz. Com brilho no olhar, Regis conta que adora o serviço técnico e passar a informação correta para o usuário. “Isto é um prazer indescritível”, confessa.

Filho de pedreiro aposentado e uma dona de casa já falecida, Régis lembra que sempre foi um menino estudioso, gostava de compartilhar livros com os amigos e vizinhos. Nunca foi de correr, brincar, preferia os livros. “Eu fui um menino muito chato. Só gostava de estudar e de ler” diverte-se. Quinto filho de um total de seis, conta que, aos sete anos, mudou-se de Jaguarari (BA) para Petrolina (PE), devido ao trabalho do pai. Aos onze, foi morar com sua irmã mais velha Raílda, que praticamente lhe criou, em Campo Formoso (BA). Ao completar 19 anos, resolveu morar e trabalhar em São Paulo, onde passou mais um ano de sua vida. “Foi muito enriquecedor, morava em Santo André e trabalhava no centro de São Paulo, era uma loucura. Eu pegava um ônibus, um metrô e um trem para ir trabalhar, mas adorava aquela vida”, recorda-se.

O bibliotecário, que morou 16 anos em Salvador, trabalhou como recepcionista de hotel e prestou assessoria de comunicação em bancos da capital. Há seis anos, mora na cidade de Juazeiro. Ele coordena nos períodos da manhã e da tarde, a biblioteca do campus III, da UNEB. “Eu já estava saturado de Salvador e também era uma oportunidade de ficar mais perto do meu pai, já que passei muito tempo morando fora”, confessa.

Régis trabalha também como bibliotecário, à noite, na Faculdade São Francisco de Juazeiro (FASJ). “Lá foi mais tranquilo porque eu peguei tudo do zero, com todo o material novinho e só depois de dois anos de trabalho foi que a faculdade abriu. Então, tive muito tempo para fazer o trabalho técnico todo direitinho” comenta. Na FASJ, Régis também já atuou como professor de Mídia e reconhece a necessidade de haver na biblioteca um centro da divulgação do conhecimento.
“Na Universidade a biblioteca é à base de tudo. Do estudo, da pesquisa e da extensão” afirma Régis, que ‘briga’ por uma maior quantidade de exemplares nas prateleiras, por climatização adequada e por salas de estudo em grupo e individuais. “Recursos que consigam atender às necessidades da comunidade unebiana”,completa.

Como projeto a ser realizado no futuro, Régis pretende cursar mestrado e falta apenas decidir a qual linha se dedicar. “Pensei em estudar Sociologia da Mídia, que é uma coisa que me interessa. Penso também em Produção do Conhecimento, que me instiga muito”, relata que também tem desejo de voltar a dar aulas. Quando questionado se deixaria o trabalho como bibliotecário, Régis é elusivo: “vai depender muito das oportunidades que aparecerem, porque as duas coisas (a biblioteca e a sala de aula) me satisfazem completamente. Nas duas, me sinto feliz. Então, onde estiver melhor, vou ficar”.

por Isabella Mendes

foto Emerson Rocha