“Sou bicho do Mato”

. 13 outubro 2009

“Sou estudante de Direito, mas não porque quero seguir carreira, só questão de conhecimento. Agronomia foi sempre o que eu quis, fortalece minhas raízes. Na verdade, sou bicho do mato”. É assim, que o Secretário de Agricultura, Desenvolvimento Rural e Meio-Ambiente (SEAGRIM) da Prefeitura Municipal de Juazeiro, Jairton Fraga, quer ser considerado por aqueles que o conhecem. Nascido em Conceição do Almeida, ele se criou no ambiente rural, contudo mantém parte de sua vida dedicada ao mundo acadêmico. Formado em Agronomia pela Universidade Federal da Bahia, doutor pela Universidade Estadual Paulista, Jairton é conhecido como uma pessoa polêmica, porque defende idéias como currículo móvel, refeitório acadêmico e melhor aproveitamento da área de 63 hectares, dentro de um espaço público. Nessa entrevista ao Jornal Mural Repórter, o professor relata como despertou para a vocação de agrônomo, ao qual se declara um apaixonado, e discute a educação superior desenvolvida pelo Governo da Bahia. “Não acredito que todo jovem realmente precise estar na Universidade, isso é uma tolice, tem cursos técnicos, que pagam melhor que muitos cursos de nível superior”, afirma. A seguir, trechos da entrevista.

Jornal Mural (JM): Jairton Fraga, o que o despertou para área de agronomia e há quanto tempo atua nela?
Jairton Fraga (JF): Desde criança, tive uma relação muito próxima com o interior. Meus pais são filhos de agricultores, e isso interferiu na minha realidade. Então, assim que me entendi por gente, desenvolvi um sentimento que deveria continuar minhas raízes. Apesar de ter nascido em Conceição do Almeida, parte de minha vida passei em Cruz das Almas, e lá tinha o curso de Agronomia. Fiz vestibular, passei e logo depois de minha formatura fui trabalhar na iniciativa privada onde fiz projetos na área de agropecuária, administrei fazenda, trabalhei na extensão rural, que me possibilitou uma gama de experiências positivas. Depois de ter passado por essas e outros áreas, prestei concurso para Universidade do Estado da Bahia e hoje sou professor da instituição.

JM: Secretário, além de professor foi diretor do Departamento de Ciências Sociais (DTCS), como o Sr. vê a gestão de Jacques Wagner em relação ao desenvolvimento da Educação Superior?

JF: Ultimamente ando preocupado com a situação da educação no Estado. Depositamos muitas expectativas em Wagner. Imaginávamos que a educação fosse prioridade para ele. Penso que a educação deveria perpassar por uma relação estreita entre a instituição e a comunidade. Um dos principais problemas, embora se fale muito em democratização do saber, é a falta de participação dos professores, estudantes e funcionários, os quais vivem de perto essa realidade, e poderia contribuir bastante com a melhoria da instituição, se suas propostas fossem ouvidas. Não consigo entender o projeto do Estado. Para mim não está bem claro. Qual vai ser a prioridade do governo? Vai ser o TOPA?

JM: Em junho, em uma das manifestação dos professores, na UNEB, o Sr. disse que foi filiado ao Partido do Trabalhador (PT). O que o levou a sair do partido?
JF: Fui um dos fundadores do PT, participei das primeiras reuniões em Salvador, Feira de Santana e fui Dirigente do partido em Cruz das Almas. No ano de 1985 para 86, aconteceu um fato curioso. O candidato a governador da Bahia era Waldir Pires, e eu resolvi apoiá-lo. O partido entendeu que essa não era melhor opção. Então, fui chamado de reformista, conservador e deixei o PT, porque sabia que entre as duas opções - Waldir e o outro candidato apoiado pelo carlismo, Waldir era o melhor para a Bahia.

JM: Hoje, a agropecuária juazeirense está voltada principalmente para a criação de bovinos, caprinos e plantação de fruticultura irrigada. Na sua gestão, o senhor visa incentivar o cultivo de outras espécies?

JF: Sim. Apesar de ter pouco tempo na administração, temos vários projetos formados que visamos implantar nessa gestão. Na agricultura familiar irrigada, a nossa intenção é estimular a agricultura de base ecológica, com objetivo de diminuir o uso de agrotóxico e fortalecer a articulação da comercialização para que os produtos entrem no mercado. Em relação à agricultura irrigada, a nossa idéia é a diversificação. Nós não podemos nos limitar apenas na produção de uva e manga. Não que elas não sejam importantes, mas podemos diversificar com outras plantas que se destinam ao mínimo de processamento como o milho, cenoura processada e as frutas destinadas à industrialização. Queremos que as pequenas indústrias se tornem uma fonte de renda principalmente para as pessoas situadas no interior. Uma outra frente é a ovinocultura com feiras tecnológicas. Visamos retomar também o cultivo da mandioca, da palma para a alimentação animal, criação de ave caipira e suína de base ecológica. Já está tudo programado para isso.

JM: O Sr. Pretende disputar o cargo de reitor da Uneb?

JF- Sim. E estou sendo sincero com vocês. Fui diretor, me acho extremamente qualificado para ser reitor, tenho talento e, digo mais, é realmente um sonho. Talvez nas próximas eleições serei candidato a reitor. No entanto, para isso acontecer não depende só de mim. É preciso que haja vontade de outros setores da universidade. Temos muitas coisas na UNEB. Não consigo entender como podemos estar em um campus de 63 hectares e não temos um restaurante universitário para atender aos estudantes. E falo isso não por demagogia, mas porque sei que isso é possível. Hoje, um processo administrativo na UNEB, seja de estudante ou professor, leva no mínimo um ano. Todos os dias abrimos a página da UNEB e parece que tem tudo, mas chega alguma aos estudantes? Em que medida, eles estão participando? Meia dúzia de pessoas decide por todo mundo. Eu administrei ouvindo. Fui o primeiro a fazer o planejamento e a prestação de contas com a participação de todos. Outro coisa, sou totalmente contra à reeleição, por isso não quis ficar mais que dois anos. Acredito que ela não é uma coisa positiva. Vocês vão ver como vai ser o segundo mandato do reitor.Como reitor, uma das coisas que irei implantar é o currículo móvel. Isso daria ao estudante a possibilidade de viver diferentes realidades. Incentivaria também a maior oferta de licenciamento em pós-graduação, apesar de saber que houve um fortalecimento nesta gestão, mas pode melhorar mais. ◘

Por Adzamara Amaral e Daniel Santana