Vale Curtir o Vale Curtas!!!

. 02 novembro 2009
Eu ia andando pela rua meio apressado, eu sabia que estava super atrasado, cheguei ao Centro de Cultura João Gilberto esbaforido, vi um “cabra arretado” chamado Chico Egídio e, como de costume, fui cumprimentá-lo. Desajeitado, fui tomar o vão da escada para chegar ao teatro quando fui surpreendido por uma garota que me perguntou, de soslaio: “Você teve algum vídeo selecionado?”. “Sim”, respondi. E ela: “Será que você poderia dar uma entrevista?”. Claro, pois não, mas o que é que eu fiz, se é documento eu tenho aqui. Ela disse: “Pode sentar aí mesmo que a gente passa para o outro lado”...

E, realmente, passaram para o outro lado. O lado da criação, do enquadramento, das possibilidades infinitas que a luz, a câmera e a ação proporcionam para quem faz do audiovisual um exercício de autoconhecimento e de aprofundamento dialógico com o que constitui a nossa identidade cultural ou os outros de nós mesmos...

Ao meu redor, estudantes de escolas públicas de Petrolina-PE, participantes de uma das cinco oficinas de documentário em curta-metragem que o Ponto de Cultura Cine Raiz já ofereceu em cinco meses de atuação. “Todo mês, a gente escolhe uma escola pública e faz o convite aos alunos. Em média, 15 pessoas participam da oficina”, afirma Chico. Além do Cine Raiz, há o projeto “Curta em Curso”, possibilitado pelo 2º Edital do Programa de Fomento à Produção Audiovisual de Pernambuco. Com a orientação da cineasta Maria Pessoa, quatro curtas em película (16mm) foram produzidos em Petrolina.

Com o suporte teórico e prático, os alunos do “Cine Raiz” se dividem entre as funções cinematográficas e passam a experimentar o olhar nos retratos em comum sobre a própria comunidade em que a escola está inserida. Além do amor eterno, a consciência é convocada para desvendar, por exemplo, as faces do José e Maria - bairro de tradicional resistência cultural em Petrolina. Dentro do samba audiovisual, um domingo no parque ou mesmo o pátio da feira podem ser o mote para a concretização de sonhos de papel. Como o projeto tem três anos de duração, 36 documentários em curta-metragem devem ser produzidos. E haja Inclusão Audiovisual...

Na programação do Vale Curtas - Festival Nacional de Curtas-Metragens do Vale do São Francisco - razão de minha pressa em chegar ao Centro de Cultura, a sexta-feira é dedicada à mostra da oficina cinematográfica “Curta em Curso” e do Ponto de Cultura “Cine Raiz”. Os nove curtas anunciados no parágrafo anterior serão exibidos. Para deleite de Eduardo, um dos destaques da oficina “Cine Raiz – Inclusão Audiovisual”, e que agora dirige o making of do Vale Curtas. Com a maturidade de quem já fez um passeio cinematográfico pelas raízes de sua comunidade, Eduardo (a La Coutinho) foi o responsável por conduzir a minha entrevista. Sábado de manhã o material será editado e, à noite, exibido, no encerramento da terceira edição do Vale Curtas. Um festival que, como Solange faz questão de ressaltar, “a cada ano tem se consolidado a nível nacional”...

E os números não dizem outra coisa. Este ano, 172 curtas foram inscritos para concorrer nacionalmente, 29 a mais do que no ano passado. Chico sabe o porquê: “Os produtores sentem que o festival é sério. Respeita as normas do fórum de festivais”. E, por isso mesmo, têm confiança em inscrever o curta para ser avaliado por um grupo seleto, composto pela professora Clara Angélica - da Universidade Federal de Pernambuco, pela coordenadora de audiovisual da Fundarpe, Carla Francine, a cineasta Maria Pessoa e Esmom Primo, coordenador-geral da Mostra Cinema Conquista.

No dia internacional da animação, “O anão que virou gigante”, de Marão, selecionado no festival do ano passado, desfilou por mais de 400 cidades, além de “Silêncios e sombras”, de Murilo Hauser, selecionado este ano. Coincidências como estas indicam que o Vale Curtas, promovido pela Associação Raízes, está trilhando um caminho primoroso, com a fé e a coragem que impulsionam Chico, Solange, Eduardo e tantos outros amantes eternos da sétima arte. É por essas e outras que Vale a pena Curtir o Vale Curtas...


Por Luís Osete