Memórias de uma folia momesca

. 16 fevereiro 2010


Aos 70 anos, mãe de cinco filhos e avó de onze netos, Maria Guerra de Souza, mais conhecida como Vanda Guerra, relembra os antigos Carnavais de Juazeiro-BA. Foliã desde os 17 anos, ela conta emocionada sobre a paixão que tem pela festividade: “O carnaval está no meu sangue, cérebro e vida. Uma comemoração inventada para trazer felicidade”.

O carnaval era uma das épocas mais festiva de Juazeiro, onde eram realizados os desfiles de carros alegóricos, batalhas de confetes e blocos nas ruas. Fantasiados de palhaços, bailarinas, pierrôs e colombinas as pessoas percorriam toda cidade ao som das orquestras. Hoje, o tempo modificou o carnaval e as formas de entretenimento da população. Os carros alegóricos deram lugar aos trios elétricos; já as luxuosas fantasias aos abadás. “Os foliões tornaram-se passivos. Não existe mais aquela sensação de extrema felicidade”, conta Vanda, para qual o encanto do carnaval se perdeu um pouco.


Além do animado carnaval de rua também existiam os bailes nos clubes. A Sociedade 28 de Setembro, a Sociedade Apolo Juazeirense, O clube beneficente dos Artífices Juazeirenses, o Clube do Zero e o São Francisco Country Club destacavam-se na produção das mais lindas festas bailantes. Fundadas como Sociedades Filarmônicas, a 28 de Setembro e a Apolo Juazeirense tornaram-se os dois clubes mais bem frequentados da época. De acordo com a historiadora Maria Izabel Muniz “Bebela”, quem não podia entrar nas tradicionais Apolo e na 28 participava dos demais clubes, que também comemoravam o carnaval.

Carnavalesca de coração, Vanda Guerra participou de inúmeros bailes. Dentre muitas histórias, ela lembra em especial de uma vez que foi impedida de entrar na sociedade Apolo Juazeirense porque estava completamente fantasiada e assim irreconhecível. “Eu me diverti um pouco com o anonimato, mas só permitiram a minha entrada quando tirei a máscara. Naquela época só desfrutava das festas nos tradicionais clubes aqueles que pertenciam a uma boa família”, diz Vanda.

Outra efervescente forma de comemoração foram as batucadas, com seus estandartes e criativos samba-enredos faziam à alegria da população Juazeirense. As mais famosas eram a Cacumbú e Piratas. “No cortejo havia muita dança, música e paquera. As moças levavam lança-perfume para jogar nos rapazes e se aproximar. Era um jogo de sedução com intuito de cortejar e serem cortejadas”, diz Vanda.

Para Vanda Guerra, aqueles eram carnavais de ouro, onde a festa acontecia com o objetivo de tornar as pessoas mais felizes. Hoje, ela lamenta ao presenciar esse “novo carnaval” formado por um emaranhado de cordas, trios elétricos e violência. Embora entristecida ao relatar o rumo trágico que o carnaval tomou, surge um sorriso nos seus lábios quando cantarola... “Bandeira branca, amor. Não posso mais. Pela saudade que me traz, eu peço paz”.

por Juliane Peixinho