Poesia&Vida de Raul da Rocha Queiroz (Parte II)

. 02 março 2010
A solidão, a tristeza, o copo de cachaça e a pobreza passaram a ser a única companhia de Raul, pois, nesta época, seus pais já haviam falecido e o fracasso financeiro começava a lhe rondar. Raul de Queiroz começa a andar de bodega em bodega, em busca do alívio que apenas a bebida podia lhe proporcionar. Escrevia seus versos nesses ambientes, em papéis de embrulho que, muitas vezes, serviam “para embrulhar um pedaço de rapadura ou um quilo de feijão”. Ninguém dá valor a um ébrio, mesmo este sendo culto e inteligente.

Assim foi a vida errante e poética de Raul. Viveu desse modo, até o dia em que Olímpia morreu e ele teve a certeza de que não a veria mais. Com a morte de sua esposa, Raul melhorou de vida, moderou na bebida e deu uma nova oportunidade a si mesmo: contraiu núpcias, com a jovem Raimunda Lopes, com quem foi feliz, até o ultimo dia de sua vida. Raimunda foi uma esposa leal, sincera e amiga. Neste segundo matrimônio, teve dois filhos, Benedito e Benedita da Rocha Queiroz. Foi esta, a fase mais feliz da vida deste poeta, e a de maior produção literária também. O soneto “O Gênio” é considerado por muitos, a sua melhor produção.


“O GENIO”

Sou eu quem domina o mundo,
Com m’or desprezo profundo,
Sorrindo à sua desgraça!
E todos de mim tem medo,
Falando baixo em segredo,
Horrorizados, sem graça.

Sou altivo, nobre, forte,
Rio-me, às vezes, da morte,
E a morte foge de mim!
Sou um grande, um potentado;
Por isso sou respeitado
De todos, de tudo enfim.

Digite aqui o resumo do post

Poeta, sou o primeiro,
Não temo Guerra Junqueiro,
Nem Castro Alves, também.
Junto de Olavo Bilac,
Sou figura de destaque
De todos eu fico além.

Perto de Arthur de Azevêdo,
Junto a Manoel de Macedo,
Sou romancista sem par;
Diversas obras criei,
O Guarani inspirei,
Ao romancista Alencar.

Na musica, divina arte
Sou maior do que Mozart,
Vulto bem cheio de Glória.
Carlos Gomes, no Brasil,
Se cantou vitorias mil,
Foi eu quem lhe deu memoria.

C’o a inteligencia pomposa,
Do embaixador Ruy Barbosa,
A minha pôs-se em relêvo.
Lutei sem mêdo, bem franco,
Como o egrégio Rio Branco,
Cérebro cheio do relêvo.

Nas guerras sou destemido,
Nunca do inimigo vencido,
Desterrei Napoleão.
Nas ciências, sou Hipocrates!
Como filósofo, sou Sócrates;
Em saber, sou Salomão.

Sou eu quem domina o mundo,
Com tal desprezo profundo,
Com o olhar pôsto nos céus.
Sou eu ao sol quem dá luz,
Grande estrêla que reluz,
Eu sou o GENIO, sou DEUS.

Juazeiro, 28 de abril de 1913

Por Edilane Ferreira, com base no acervo “O Arquivo de Maria Pires: memória e história cultural em pesquisa na região de Juazeiro-BA”. As poesias foram transcritas com a ortografia da época. No dia 1 de março, publicamos a primeira postagem com as poesias do literato.