A vida dos moradores de rua em Juazeiro

. 19 março 2010

À margem do Rio São Francisco, a cidade de Juazeiro, conhecida pela hospitalidade e alegria do seu povo, tem atraído um grande número de pessoas que não têm um destino certo. Sem trabalho, apoio da família e sem conhecer ninguém na cidade, essas pessoas moram nas ruas, onde são vítimas de preconceitos e violência.

A Praça da Bandeira, onde fica a Catedral de Nossa senhora das Grotas, é um dos pontos de maior incidência de moradores de rua. Uma das pessoas que têm o banco da praça como casa e o olhar da santa como guia é um artesão de 56 anos, inteligente e sempre atento ao que acontece ao seu redor. Quando perguntado sobre o seu nome, ele respondeu: “podem me chamar do que quiser só não me confundam com ninguém”, disse.

Homem veterano do mundo, como se auto-intitula, Roberto (nome fícticio) culpa os políticos pela situação de pobreza que fez com que outras pessoas fossem parar na rua. “Todas as situações que acontecem nas classes no Brasil são culpa das autoridades que não sabem trabalhar. Eles fazem um projeto que não dá certo, aí vai crescendo a marginalidade, o tráfico de drogas. E a culpa é de quem? Do governo!”, dispara o sem-teto que há três meses está em Juazeiro.


Assim como o artesão, Edísio Araújo, 32 anos, é mais um inquilino das ruas juazeirenses. Natural de Serra Talhada, no sertão pernambucano, ele conta que saiu de casa há mais de18 anos, após a morte da mãe e por não se entender com a nova companheira de seu pai.

Antes de chegar a Juazeiro, Edísio, que lava carro para sobreviver, conta que passou por diversas cidades, como Arco Verde, Pesqueira e Recife, todas em Pernambuco. Para o lavador de carro, um dos principais problemas enfrentados pelos moradores de rua é a violência. “Quem veve na rua é quem mais sofre todo tipo de violência”, aponta o rapaz, que também lembra o caso de um colega de rua que teve o corpo queimado após uma briga com outros sem-teto na vizinha Petrolina-PE. “Tem um aí que ta com o corpo todo queimado. Bebeu e procurou briga, o pessoal joga álcool, gasolina e queima mesmo”, esclarece Edísio.

Para tentar dar mais dignidade a pessoas como Roberto, Edísio e a paraibana Maria de Fátima, que há 25 anos saiu de sua terra natal à procura de emprego, a Prefeitura Municipal de Juazeiro, através da Secretaria de Desenvolvimento Social (SEDIS), realiza um levantamento de quantos estão vivendo nas ruas para saber qual a real situação de cada um. A Secretaria também mantém albergues noturnos para esses moradores e oferece passagens para que eles possam voltar a suas cidades de origem. O problema é que essas ações não estão sendo suficientes em decorrência do número cada vez maior de sem-tetos.

O Gerente de Desenvolvimento Econômico e Social da SEDIS, Josenaldo Cícero da Silva, afirma que o município não tem estrutura para abrigar tanta gente morando nas ruas e procuram convencer esses moradores a voltar para suas cidades. “Nós procuramos a cidade de origem das pessoas, compramos passagem, levamos para rodoviária. Para os moradores que são de Juazeiro estamos alugando alguns espaços para que eles possam ficar. Se todos os moradores de rua que vierem pra Juazeiro, a gente for colocar no albergue, ele não vai suportar tanta demanda” afirma.

Segundo o coordenador do Centro Regional Especializado em Assistência Social (CREAS), Lívio César Dantas, algumas pessoas se recusam a deixar as ruas. “Eles preferem viver na rua e ali se instalar. É o único lugar onde eles conseguem estabelecer uma relação de amizade”, afirma.

Para essas pessoas a única solução é esperar e acreditar na vida e não desistir, como faz o brasileiro Roberto. “Eu não desisto nunca, afinal de contas sou brasileiro. Tudo na vida é uma forma de experiência”, desabafa.

por Emerson Rocha ( Texto e Foto )