“Utilizar da deficiência para aprender”

. 03 abril 2010


Se para alguns deficientes a ausência dos movimentos físicos pode ser uma provação, uma espécie de castigo, para o petrolinense Hélio Araújo, 46 anos, o que o destino lhe proporcionou foi uma forma de aprendizado e de luta pelo bem comum. Quando sofreu um acidente de moto há 25 anos, após pilotar embriagado, ele não tinha noção do rumo que sua vida iria tomar.

Professor de matemática formado pela Universidade de Pernambuco (UPE) e escritor, Hélio não quis para si o estigma de “coitadinho” e, aos poucos, foi aprendendo a conviver com a sua nova realidade. Em 1999, escreveu o livro “Andanças”, no qual conta a sua história e alerta para que as pessoas pensem a respeito da inclusão dos deficientes na sociedade.

Além de “Andanças”, Hélio escreveu o “O Quarteto”, uma novela que reflete sobre a vida dos deficientes físicos. Ele também criou os cordéis “A peleja pela inclusão” e “Petrolina: terra e gente” e durante quatro anos editou o jornal bimestral “Veredas”, todos a favor dos direitos dos deficientes.


Por ter escrito “Andanças” e o “Quarteto”, Hélio participou, no último dia 30 de março, da entrega da terceira edição do Prêmio Sentidos, em são Paulo, onde ficou entre os três melhores na categoria de Literatura. O prêmio é uma iniciativa da Revista Sentidos e outra instituições apoiadas pela Secretaria Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, que tem como objetivo mostrar e reconhecer a história de superação de pessoas com deficiência que lutam pela inclusão social.


A grande luta de sua vida é mostrar que os deficientes físicos são diferentes, mas podem ocupar o mesmo espaço que os demais. “É importante que as pessoas convivam com qualquer deficiência que tenham e saibam que podem utilizar-se dessa limitação para aprender e mostrar que a vida é para todos”, afirmou.

Casado há oito anos, Hélio conta que após o acidente não queria prejudicar a vida de uma outra pessoa, tanto que após dois anos terminou o relacionamento com a antiga namorada. “Eu era preconceituoso. Sendo pai, mãe e irmão não têm como desvincular, agora com namorada e noiva era diferente, não queria estragar a vida de ninguém”, revelou.

Já sem o “pensamento limitado”, como definiu sua atitude no passado, Hélio conheceu sua atual esposa em uma aula de banca há 13 anos, onde ele ensinava. Durante esse tempo foram cinco anos de namoro para se conhecerem melhor e descobrir afinidades.

Desse relacionamento nasceram os filhos Eduardo, Sofia e Fernando. Sempre sorridente, Hélio diz que nos dias de hoje sustentar três filhos não é fácil e o terceiro nasceu por falta de planejamento. “Não vai aumentar mais porque a gente já aprendeu. Três não é moleza não”, brincou.

De bem com a vida, Hélio Araújo é uma lição de vida para qualquer pessoa. Ele conseguiu superar a ausência dos movimentos e construiu uma família. Hélio escolheu não se acomodar com a deficiência, ele optou por ser um cidadão brasileiro com direitos e deveres como qualquer outro.


por Emerson Rocha, foto e texto produzidos na disciplina Redação Jornalística, sob orientação de Emanuel Andrade.
Para saber mais sobre o Prêmio Sentidos, veja premiação.