Pesquisa investiga capital social nas áreas agrícolas

. 25 maio 2010


As políticas públicas de acesso, uso e gestão da água no território do Sertão do São Francisco foram investigadas como pesquisa de doutorado junto aos agricultores familiares. O professor e sociólogo Rogério Bispo, do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS), da Universidade do Estado da Bahia, analisou de que forma os agricultores exercem um capital social e como o fortalecimento das redes sociais pode vir a beneficiar o segmento no acesso a estes recursos.


Para Bispo, o capital social é medido pelo grau de confiança e participação, e também pela existência de redes de atores e instituições sociais envolvidos no processo de cooperação, expressando a capacidade de uma sociedade estabelecer laços interpessoais e redes de cooperação com vista à produção de bens coletivos, como o acesso à água. Desta forma, se uma determinada comunidade apresenta um bom capital social significa que pode haver um maior desenvolvimento rural, social e econômico, esclarece o pesquisador na tese intitulada O capital social e desenvolvimento rural: Acesso, uso e gestão da água nos Territórios Rurais do Sertão do São Francisco, defendida na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, no mês passado.


No estudo, o pesquisador utilizou 360 questionários com agricultores familiares de áreas de sequeiro e em projetos irrigados do território, em maior número nas cidades de Juazeiro e Petrolina, e realizou entrevistas com os representantes do Comitê da Bacia do São Francisco. A pesquisa afirma que o capital social é um dos elementos chave para garantir efetivamente o acesso e a gestão dos recursos hídricos e como conseqüência o desenvolvimento da região do vale do São Francisco. “A participação dos agricultores nessas redes sociais (associação, cooperativas) auxilia não apenas no sentido de reivindicar direitos, mas também ajuda a agregar valor à produção e com isso gerar uma maior qualidade de vida para essas populações”, explica Rogério.


Para a especialista em Sociologia e Desenvolvimento Rural, professora e técnica da Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrícola (EBDA), Edonilce da Rocha Barros, a pesquisa é interessante, devido ao levantamento de dados do pesquisador e pela utilização de uma metodologia quantitativa com variáveis capaz de medir o capital social da região do sertão do Vale do São Francisco. No entanto, ela destaca uma fragilidade no conceito aplicado à lógica do modelo de irrigação. “Penso que o capital social está muito mais fora dos perímetros irrigados do que dentro, porque nos projetos irrigados você não se organiza de maneira voluntária e por lutas. Trata-se de um tipo de organização planejada. Os agricultores recebem água, canais, assistência técnica, cooperativa e associações prontas. Tudo é fornecido e não construído. Então, pergunto que capital social é este?”, conclui Edonilce, que participou da banca de avaliação da tese.


Embora também reconheça que exista um baixo capital social nos perímetros irrigados, Rogério Bispo afirma que os dados do estudo podem conduzir as instituições sociais governamentais e não governamentais a refletir e fomentar discussões com os agricultores familiares acerca da importância do fortalecimento deste capital. Assim, pode-se planejar o desenvolvimento rural acessível a todos e com qualidade de vida.


Por Juliane Peixinho (texto)
Maurício Fidalgo (foto)
Matéria publicada no Gazzeta do S. Francisco, do dia 21 de maio.