Jogos eletrônicos como instrumentos de aprendizagem

. 06 julho 2010


É possível usar jogos eletrônicos no ambiente escolar, estimulando a aprendizagem e o conhecimento histórico de temas como a Revolta dos Alfaiates, movimento popular de camadas pobres e de negros baianos ocorrido há mais de dois séculos que pedia a independência do país, fim da escravidão, liberdade e igualdade? Sim, é o que afirma a professora Lynn Alves, Doutora em Educação e Comunicação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), coordenadora de um grupo de pesquisadores que desenvolvem jogos digitais para alunos e professores que querem conhecer um pouco mais de história.

Atuando há mais de 10 anos na área de Educação e Tecnologia, ela é professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) nos cursos de Comunicação Social, Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação e Contemporaneidade e criou o site Comunidades Virtuais, no qual distribui, gratuitamente, os games Tríade e Búzios, sobre a Revolução Francesa e a Revolta dos Alfaiates respectivamente. Em entrevista ao Multiciência, Lynn Alves falou sobre o uso das novas tecnologias pela educação.


MultiCiência: Como surgiu seu interesse no desenvolvimento de games para auxiliar no processo ensino-aprendizagem?

Lynn Alves: Com o grupo Comunidades Virtuais da UNEB já realizava pesquisas sobre a mediação dos jogos eletrônicos em diferentes aspectos, tanto no aspecto pedagógico como relacionado a subjetividade do sujeito, à questão da cultura. Em 2006, surgiu o edital da FINEP para desenvolvimento de jogos voltados para educação, ao todo 120 projetos de todo o Brasil foram enviados, 13 foram selecionados, três no estado da Bahia, um deles foi o nosso da UNEB. Nosso jogo foi sobre a revolução francesa e foi concluído em 2009, ele chama-se “TRÍADE” e está disponível no site da comunidade virtual para o download. Posteriormente, concorremos e ganhamos outro edital, dessa vez pela FAPESB; nesse segundo projeto desenvolvemos o jogo nomeado “Búzios: Ecos da Liberdade” que conta um pouco sobre a revolta dos alfaiates. Mas na realidade já vínhamos realizando pesquisas, e os resultados possibilitaram-nos sair do discurso teórico e partir para a prática, pensando como efetivamente desenvolver jogos voltados para auxiliar a aprendizagem e que os alunos não os considerassem enfadonhos, então a idéia foi tentar desenvolver jogos próximos da cultura dos jogos digitais e que atraíssem e seduzissem os alunos.



MultiCiência: Que papel você atribui as novas tecnologias no processo ensino-aprendizagem?

Lynn Alves: Acredito que as tecnologias têm um papel interessante enquanto elementos mediadores do processo ensino-aprendizagem, na medida em que elas atuam em perspectivas didáticas na zona do desenvolvimento proximal do sujeito criando possibilidades para que dêem novos significados à determinados conceitos e desenvolvam novas habilidades cognitivas. Considero extremamente importante que comecemos a pensar e discutir, mais do que já discutíamos o papel dessas tecnologias nos diferentes campos da aprendizagem.


MultiCiência: Porque desenvolver jogos correlacionados com história?

Lynn Alves: A disciplina de história é sempre re-atualizada, trabalhar com ela foi um grande desafio, pois todos nos pensávamos que seria fácil desenvolver jogos voltados para o ensino de história, mas não é bem assim, tivemos que ter uma série de cuidados com os anacronismos, com os conceitos da época e com uma série de outras questões. Temos uma grande dificuldade dos historiadores com as novas tecnologias. Eles estão muito mais acostumados a trabalhar com as vias tradicionais, compostas por elementos essenciais como a imagem e a linguagem oral, enquanto o uso das novas tecnologias digitais e telematicas é algo que poucos se desafiam a trabalhar. Então, a idéia de trazer o jogo para a área de historia é exatamente para criar a possibilidade de trabalhar com a mediação de tecnologias digitais possibilitando que os alunos simulem situações e fatos do passado, caso das duas revoluções; para que possam se sentir efetivamente parte e sujeito daquela história. Ele vai participar do jogo, assumir um papel, se tornará um personagem e terá que tomar decisões relacionadas aquela história.


MultiCiência: O que os jogos eletrônicos oferecem ao processo de aprendizagem dos alunos em relação à história?

Lynn Alves: Oferecem a possibilidade de eles estarem simulando situações que estão distantes deles, então essa é uma forma de contribuir, de dar aos alunos a percepção de que as tecnologias digitais e telemáticas podem estar presentes nas investigações historiográficas. Não só as mídias clássicas, mas também as novas tecnologias podem permitir que nossos alunos construam novos discursos a partir destes narrativas contadas na disciplina de história.

MultiCiência: Como acontece a distribuição dos jogos para as escolas?

Lynn Alves: A distribuição é totalmente gratuita, e atualmente é feita só pela internet sem nenhuma restrição regional. Nossos jogos se encontram para download grátis no site do grupo de pesquisas ‘Comunidades Virtuais’; o endereço exato é, www.comunidadesvirtuais.pro.br/triade para o download do jogo Tríade que é sobre a revolução francesa e, www.comunidadesvirtuais.pro.br/buzios para download do jogo Búzios: Ecos da Liberdade que conta a história da Revolta dos Alfaiates. Além, dos jogos as pessoas podem baixar no site da Comunidade Virtual algo que chamamos de orientações pedagógicas onde os professores podem encontrar comentários sobre o tema e instruções de uso dos jogos. O livrinho não é um receituário de uso, mas é um disparador de idéias com as quais o professor possa trabalhar. Nele, contamos um pouco sobre essa linguagem digital e damos ideias para que o professor possa trabalhar com os jogos em sala de aula. No entanto, é importante ressaltar que a idéia não é transformar a escola em uma Lan-house, é sim dar-lhes uma perspectiva de uso dos jogos como pretexto no sentido de que a partir do jogo o professor possa despertar o aluno para conhecer mais sobre a história, ou ilustração onde os alunos poderão usar o jogo para reviver os conceitos que foram trabalhados em aula. A escolha fica nas mãos do professor que encontrará no jogo mais um espaço de aprendizado sobre determinado conteúdo histórico.

por Fabiana Silva (Texto) e Emerson Rocha (Foto). Entrevista publicada, com exclusividade no Gazzeta do São Francisco, na edição 3 a 5 de Julho.