“O perfil para fazer uma reportagem: a inquietude permanente, o desejo de mudança e a força de um idealista radical”. Foi essa a recomendação de Caco Barcellos para jornalistas e estudantes que desejam ser bons repórteres durante a palestra “Jornalismo Investigativo e Comunicação Social”, realizada na última quarta-feira em Salvador. Com trinta anos de carreira, Caco Barcellos começou na imprensa alternativa e escreveu dois livros-reportagem considerados clássicos na prática do jornalismo investigativo, como Rota 66, sobre grupo de extermínio que atuou nos anos 70; e Abusado, sobre o tráfico de drogas no morro Dona Marta. Com muita descontração misturada as informações sobre os bastidores do Profissão Repórter, o jornalista relatou algumas barreiras enfrentadas na sua trajetória profissional e discutiu temas polêmicos como pena de morte, sensacionalismo e o que chamou de “jornalismo capenga”, referindo-se de forma crítica aos profissionais que priorizam o cinematográfico, com imagens interessantes e “dane-se o outro lado”. “Recebi um convite para cobrir uma guerra de um lado só, resolvi ir para o outro lado. Veja o que acontece se fizessemos isso todos os dias. Me incluo nessa crítica da nossa atividade”. Durante a palestra, os participantes fizeram questionamentos sobre a não-obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo. “Nós temos que pensar em um outro jeito de formalizar a nossa profissão. Pensar no exercício e não na formalização dela. Acho que tanto faz o diploma, mas tem coisas que são importantes e fundamentais no nosso perfil”. Indagado sobre a especificidade do jornalismio investigativo, ele afirma que “as pessoas confundem no Brasil investigação com denúncia. “Devemos praticar um jornalismo investigativo em qualquer trabalho que fizermos. Não pode haver polêmica, você tem o dever de falar a verdade. Não se pode fazer investigação como muita gente faz, com apuração apenas em entrevistas. Provar que a entrevista é verdadeira é o trabalho do jornalista investigativo”. O evento reuniu estudantes de comunicação social e demonstrou o interesse em extender o ensino praticado nas universidades para compartilhar conhecimento com experientes profissionais. por Taiane Sandes, de Salvador para Agência MultiCiência. Quem tiver interesse sobre o processo de investigação dos livros-reportagem de Caco Barcellos, veja o artigo de Sandra Regina Moura.
