Para professor, obra “Senhora” de José de Alencar continua a ampliar a visão dos jovens

. 26 outubro 2010

Antônio Carlos da Conceição é professor de Literatura e Português no Colégio Estadual Edvaldo Machado Boaventura na cidade de Livramento de Nossa Senhora, BA. Como todo jovem, ansiava seguir várias profissões como a de bancário. “Ser professor não foi o que sonhei. Comecei forçado, hoje abraço com amor esta profissão”.

Para ele, a experiência de ser professor é gratificante, principalmente quando muitos dos médicos, advogados e professores da comunidade já foram seus alunos. “Porque ser professor não é só lecionar, é ver os estudantes como “filhos”, enxergar seus problemas e dificuldade, assim são as salas de aula heterogêneas”, declara.

Na sua trajetória de 20 anos como professor, Antônio Carlos destaca a função da literatura na sociedade, pois ela ajuda a enxergar o mundo de forma ampla. “O texto é um tecido que você constrói enriquecendo seu conhecimento”, afirma. Dessa forma, a literatura é passada de geração a geração ampliando a visão de mundo das pessoas.

Em entrevista ao Multiciência, ele aborda sobre a importância da Obra “Senhora” de José de Alencar, indicada para o vestibular 2011 da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O Romance aborda os problemas da sociedade do século XIX e expõe o casamento por interesse utilizado pelos jovens como recurso para ascender na escala social. O tema deste romance é divido em quatro partes, que correspondem às etapas de uma transação comercial: O Preço, Quitação, Posse e Resgate.

A trama gira em tornos dos personagens Fernando Seixas e Aurélia Camargo. Seixas, jovem pobre e ambicioso, namorado de Aurélia, moça humilde e órfã. Ao passar por dificuldades financeiras, aceita o dote no valor de trinta contos de réis para se casar com Adelaide Amaral, moça da elite.

No decorrer da história, Aurélia recebe uma inesperada herança do avô paterno e se torna uma das mais disputadas moças do Rio de Janeiro. Dividida entre o amor e o orgulho ferido, ela encarrega seu tutor, o tio Lemos, de negociar seu casamento com Fernando por um dote de cem contos. O acordo realizado inclui, como uma de suas cláusulas, o desconhecimento da identidade da noiva pelo contratado até às vésperas do casamento. Na noite de núpcias, Aurélia pôde completar seu plano, humilhando o marido e impondo-lhe as regras da convivência conjugal. Fernando submete-se às determinações de sua senhora, mas readquire seu orgulho e põe-se a trabalhar para reunir o dinheiro necessário ao seu resgate. No clímax da história, quando devolve o dote a Aurélia, ela lhe mostra o testamento que fizera no dia do casamento, nomeando-o seu herdeiro universal. É a prova de seu amor. Estão ambos redimidos de seus erros. “Nesse momento, ele se liberta das algemas para viver o amor”, comenta o professor.

A obra revela o senso crítico de Alencar, mostrando as mazelas sociais da época, apresentando como cenário a cidade do Rio de Janeiro. “É notório que nesse período os jovens da burguesia se enxergavam nos romances que expunham a elite do Rio de Janeiro, os pobres viam no casamento um investimento de ascensão para a sua inclusão nesse ambiente burguês desejado”, esclarece.

Um dos aspectos mais relevantes da escrita de Alencar nesta obra é a análise psicológica dos personagens, antecipando características do Realismo, surgido na segunda metade do século XIX, apesar do romance pertencer à escola do Romantismo. Escrito em terceira pessoa, é usado a técnica narrativa do narrador onisciente, aquele que sabe tudo sobre os sentimentos e pensamentos dos personagens e descreve também fatos que acontecem em dois locais ao mesmo tempo.

Para o professor Antônio Carlos, apesar da obra Senhora ter sido publicada em 1875, “a literatura é imortal passada de geração a geração ampliando a visão dos jovens, pois ela tem o papel importante de ajudar as pessoas a enxergar melhor o mundo, a compreender o próximo e transformar as pessoas”, diz Antônio.

Este ano, a obra “Senhora” de José Alencar é leitura obrigatória para os vestibulares 2011 da Universidade Estadual de Maringá- UEM, Universidade Federal da Bahia- UFBA e Universidade Federal de Campina Grande- UFCG.

Por Karine Nascimento