“Medalhão” representa o duelo entre o ser e a aparência

. 18 novembro 2010

“Teoria do Medalhão é um delicioso libelo contra a mediocridade intelectual e social”. É desta forma que a professora Vera Cezar, formada em Letras pela Universidade de Pernambuco (UPE) e com especialização no Ensino de Língua Portuguesa, define o conto Teoria do Medalhão”, do escritor Machado de Assis.

Professora há 18 anos no Colégio Dom Bosco, situado em Petrolina - PE e no Curso Preparatório para Concursos e Vestibulares Top de Linha, de Petrolina e Juazeiro, Vera considera o ensino da literatura como uma arte. “Apesar de ‘algumas pedras no meio do caminho’, é muito gratificante essa profissão, pois escolhi por amor a literatura. Penso que sonho e arte são tão essenciais quanto o pão, por isso acredito na Literatura”, declara a professora.

Para ela, a literatura é de todos os tempos, é a experimentação de novas formas de expressão, a denúncia dos horrores que acontecem na sociedade. “É o deleite do entretenimento”, afirma. Além de ser uma leitora, Vera é também uma escritora que produz poemas como reflexo do que leu/lê e do que viveu e vive. Como retrata um trecho de seu poema “Somente Poesia”.

(...) A felicidade
É sentido, é preciso, é rumo
Ou é somente poesia?

Em entrevista à Agência Multiciência, ela nos relata sobre as características mais importantes da obra “Teoria do Medalhão” de Machado de Assis, indicada para o vestibular 2011 da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). O conto “Teoria do Medalhão” foi publicado no livro “Papéis avulsos”, em 1882, e apresenta as características da fase realista. O conto não tem um narrador. Os personagens não possuem nomes e são caracterizadas somente pela hierarquia familiar. De um lado, um pai que quer projetar seus ideais frustrados de sucesso no jovem filho; do outro, o filho que se sujeita a aceitar passivamente as determinações do pai, anulando-se.

O enredo inicia com um diálogo familiar que acontece numa noite, após um jantar comemorativo dos 21 anos. O pai aconselha o filho a se tornar um “Medalhão”, ou seja, um homem que ao chegar à velhice, tenha adquirido respeito e fama na sociedade do Rio de Janeiro do século XIX.

Para tanto, será necessário que ele mude seus hábitos e costumes e passe a viver sob uma máscara, anulando os seus gostos pessoais e suas atitudes. E nisso, o pai disserta sobre a necessidade do filho de sempre manter-se neutro, usar e abusar de palavras sem sentido, conhecer pouco, ter vocabulário limitado etc. “É uma suntuosa ironia machadiana sobre como se encontram os valores da sociedade de sua época. Portanto, o ‘ofício de Medalhão’ é aparentar ser o que não é”, diz Vera. Característica dos medalhões que possui uma face oculta e sem atrativos e outra virada para o exterior, para ser vista, admirada e respeitada.


Para professora, há uma atualidade extraordinária neste conto. Machado, de maneira irônica, atribui ao “Medalhão” duas acepções: homem importante, grande figura, e, pejorativamente, indica indivíduo posto em posição de destaque, mas sem mérito para tal. “A partir desse segundo significado, vemos alguns valores de nossa sociedade, como a necessidade de vencer na vida a qualquer preço, a legitimação de meios ilícitos para obter sucesso, subversão dos valores morais, como dignidade, honestidade, honra, domínio das aparências sobre a essência, entre outros”, declara Vera Cezar, que recomenda a leitura da obra não somente para os vestibulandos mas para todos que gostam da boa literatura.

Por Karine Nascimento