Um jornalista e escritor dos costumes pernambucanos

. 16 novembro 2010

Escritor e jornalista nascido na cidade de Bodocó- PE, Cícero Belmar é autor da trilogia “Umbilina e sua grande rival”, “Rossellini amou a pensão de dona Bombom” e “Acabou-se o que era doce”, que narra costumes, expressões e religiosidade pernambucana. Participante do I Encontro de Comunicação do Vale, Cícero falou sobre textos jornalísticos e literários e a relação entre os dois gêneros, refletindo sobre as influências entre realidade e ficção.


Jornalista por formação, Cícero tem uma longa experiência com a redação jornalística, trabalhou no Jornal do Commercio e em outros órgãos de imprensa na capital pernambucana. Contudo, é com a ficção que tem conquistado prêmios como Vânia Souto Carvalho, da Academia Pernambucana de Letras, e o Lucílo Varejão, do Conselho Municipal de Política Cultural da Fundação de Cultura de Recife. Ele também é autor de peças teatrais infantis.


Em entrevista ao Multiciência, ele conversou sobre a importância da literatura, suas obras, carreira e sobre seu próximo lançamento.

Multiciência: Qual o papel da literatura para a sociedade?
Cícero Belmar: A literatura é uma arte que permite aos leitores compreender e ter consciência crítica, flexível, permite que uma pessoa que compartilhe outros mundos e tenha uma visão melhor da realidade.


Multiciência: A literatura inserida no vestibular de forma obrigatória aproxima ou afasta os estudantes da leitura?
Cícero : Afasta, pois a literatura não deve ser vista da forma obrigatória, as pessoas devem ler pelo prazer que a leitura proporciona, pela consciência crítica que se adquire. Ler por obrigação apenas para responder questionários é limitar a literatura.

MultiCiência: “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, nasceu como uma reportagem e transformou-se em uma obra literária. O jornalismo e a literatura caminham juntos?
Cícero Belmar: Caminham, principalmente porque grande parte dos escritores e jornalistas pensam em melhorar e publicar seus textos. Nas redações há muitos escritores, isso não implica dizer que todos nas redações serão escritores futuros, no entanto muitos escritores saem dos jornais.

Multiciência: Suas obras são direcionadas ao público adulto. Porque no teatro suas peças são infantis?
Cícero: Iniciei a carreira escrevendo para crianças e escrevi livros paradidáticos. Fui convidado a fazer peças infantis e deu certo. Passei a interessar por minha realidade, sou de Bodocó PE. Comecei a escrever sobre a região do Araripe e terminou saindo um romance que foi premiado e assim me empolguei, escrevendo outras obras, me sinto um escritor direcionado ao público adulto, porém pretendo voltar a escrever para o infantil.

Multiciência: Como iniciou a idéia de escrever a trilogia pernambucana? “Umbilina sua grande rival”, “Rossellini amou a pensão de dona Bombom” e “Acabou-se o que era doce”?
Cícero: Eu pretendia escrever sobre Pernambuco, então comecei com “Umbilina e sua grande rival” que retrata a religiosidade popular, os costumes, a realidade do homem sertanejo. Depois, iniciei uma pesquisa sobre Recife dos anos 50, a prostituição resultando na obra de “Rossellini amou a pensão de dona Bombom” e o terceiro “Acabou-se o que era doce” mostra os aspectos da politização pernambucana, que se passa entre Floresta e Pernambuco. Não é uma trilogia no sentido de continuação da história, mas na unidade de ideias, costumes, sobre o homem pernambucano.

Multiciência: Além de escritor, você tem uma longa experiência como jornalista. A sua demissão em 2005 do Jornal do Commercio lhe prejudicou a manter-se no mercado de trabalho?
Cícero: O mercado de trabalho em Recife é pequeno, terminou me impedindo de trabalhar no sistema J.C de comunicação e também no Folha de Pernambuco. O que não quer dizer que esteja impedido de trabalhar lá para sempre, ou que nunca mais possa trabalhar nesses veículos, mas existem outras áreas como assessoria de imprensa, a gente pode elaborar outros projetos e isso dá muito prazer com o jornalismo, comparado ao estresse da redação.

Múlticiência: Existe liberdade de imprensa?
Cícero: Ela é questionável e vai ser sempre, mas acho que há liberdade de imprensa sim, há espaço para falarmos a verdade de várias formas, porém as limitações vão haver tanto aqui como nos Estados Unidos ou em qualquer parte do mundo.

Multiciência: Vários escritores estão se inserindo no mercado utilizando das redes sociais. Qual a importâncias delas para os escritores?
Cícero: As redes serão fundamentais principalmente porque elas têm a força de divulgação muito grande, propagando os escritores entre os jovens, tornando o autor mais conhecido, com mais força do que proporciona a própria editora.


Multiciência: Para o escritor sertanejo como funciona a inserção dele nas grandes editoras?
Cícero: A dificuldade é grande, não só para o sertanejo como também no Rio de Janeiro e São Paulo. A política das editoras é muito própria, você só se insere sendo indicado, não é somente a qualidade do seu trabalho. Diante disso, fica difícil ter sucesso.

Multiciência: Atualmente, você está escrevendo alguma obra?
Cícero:
Estou escrevendo um livro sobre uma mulher a princípio se chama “A mulher fora de si”. Estou com outro plano de escrever um livro sobre “Lolita” que foi um travesti de Recife dos anos 50/60, ainda em pesquisa. Vou ver qual sai primeiro, porém o da “mulher” já tem um capítulo pronto.

Por: Karine Nascimento (texto) e Emerson Rocha (foto)