FAMESF: O sonho virou realidade e completa 50 anos

. 17 dezembro 2010

Tudo começou com um grupo de alunos que se reuniu com o propósito de mudar seus destinos a partir de uma ideia. Juntos, eles enfrentaram dificuldades, tiveram conquistas e com muito esforço acompanharam o desenrolar dessa longa história. Os caminhos não foram fáceis e revelaram, a cada dia, a importância de uma grande realização.

Na avenida Edgard Chastinet Guimarães, S/N, São Geraldo, está situada a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), seus dois departamentos e uma trajetória de conquistas ao longo do tempo .

A imagem do desenvolvimento do bairro é visível aos olhos dos que caminham sobre o asfalto, veem as casas e os pequenos prédios, que abrigam muitos dos estudantes da instituição e podem encontrar bem próximo o que necessitam para suprir suas necessidades básicas. Antes a paisagem era outra, poucas casas, muita areia e tudo estava distante. A chegada da faculdade foi responsável por muitas dessas transformações.

Voltando um pouco no tempo, chega-se ao de 1959. Foi nessa época, quando os jovens estudantes de Juazeiro, junto a autoridades, professores e a população conseguiram apoio para tentar concretizar o sonho de possuir uma faculdade na cidade. Bartolomeu Venâncio dos Santos, mais conhecido com seu Berto, 81 anos, foi um dos idealizadores do movimento pró-fundação da escola de agronomia do Vale do São Francisco. Ele conta que quando concluíram o curso, um equivalente hoje ao ensino médio, surgiu a ideia, “O que vamos fazer? Nada?! Não, vamos criar uma faculdade”, revela.

Assim, teve início o projeto da criação da Faculdade de Agronomia do Médio São Francisco (FAMESF). Em 12 de dezembro de 1960, no auditório do então Ginásio de Juazeiro (atual colégio Dr. Edson Ribeiro), foi fundada a faculdade que seria sediada no local até conseguir outro espaço. Falhas na negociação com o governo, fizeram que o ensino na instituição começasse com a contribuição financeira dos estudantes. Esse foi o primeiro passo de muitos que viriam. Nomes como Edson Ribeiro e o engenheiro agrônomo João Marcelino entraram no movimento e se juntaram nas muitas batalhas para manter a faculdade e torná-la o que é hoje. O início Quase um ano depois da fundação, foi lançado o primeiro edital para o vestibular. O interessante é que entre os pré-requisitos para a inscrição estavam atestado de vacinação anti-variólica, atestado médico e até mesmo prova de idoneidade moral. Os 34 aprovados iniciaram a aulas do curso em um dos salões da Sociedade Beneficente dos Artífices Juazeirenses e assim, com a ajuda da população e de todos que se identificavam com a proposta de uma faculdade na cidade, os estudantes formaram parcerias e enfrentaram dificuldades.

O professor Ruy de Carvalho, atual diretor do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais (DTCS), comenta que era grande o número de estudantes que vinham de outros locais, pela falta de unidades de ensino superior nas suas cidades de origem. Até hoje, muitos alunos de diferentes lugares frequentam as aulas no curso de Agronomia e nos outros cursos do Campus de Juazeiro (Direito, Comunicação Social/ Jornalismo e Pedagogia).

No ano de 1961 foi criada a Escola de Agronomia de Juazeiro, que no ano seguinte incorporou a Faculdade de Agronomia, através da Lei Estadual 1800, de 03/09/1962. Agora a FAMESF estava vinculada ao Estado da Bahia e, os alunos não precisariam mais contribuir financeiramente para o andamento das atividades. Seu Berto revela que era um valor simbólico, só para o essencial, mas que fazia diferença. Mesmo com o empenho dos alunos e da sociedade, várias vezes a instituição viveu momentos de crise e ameaçou fechar suas portas.

As lutas não foram em vão, a faculdade foi ganhando visibilidade e mais pessoas apareceram dispostas a ajudar na sua consolidação. O curso de Engenharia Agronômica, inicialmente, durava quatro anos, possuía 28 cadeiras, e uma única entrada por ano. Depois de tantos desafios, Seu Bartolomeu e mais 24 estudantes concluíram o curso no ano de 1965. Novos desafios No final da década de 60, a FAMESF passou a ser uma autarquia. Alguns relatos apontam que, na década de 70 ela começou a funcionar na antiga área do Horto Florestal, isso proporcionou mudanças e diversas melhorias para a instituição e ajudou na construção da atual paisagem do bairro São Geraldo. A casa onde funciona uma das residências da universidade dentro do campus é um exemplo disso. Segundo relato de moradores, foi a primeira construção de alvenaria do bairro.

“A história da FAMESF é muito bonita”, declara Josefa Rodrigues, funcionária desde 1976, quando entrou através de seleção. Ela se emociona ao falar da instituição e do início do seu trabalho. “A biblioteca começou onde hoje funciona o laboratório do DCH, era muito pequena”, lembra. Com seus 34 anos de serviços prestados a instituição, ela reconhece as dificuldades, mas com um sorriso no rosto se sente orgulhosa quando ajuda algum aluno. “Trabalhar no coração da faculdade é se sentir comprometida... contribuir pro desenvolvimento”.

Dona Josefa lembra das transformações ocorridas com o passar dos anos. Uma delas foi a incorporação da FAMESF a Superintendência do Ensino Superior do Estado da Bahia (SESEB), no ano de 1980. Três anos depois, daria origem A Universidade do Estado da Bahia (UNEB), estruturada em sistema multicampi e a FAMESF funcionaria como sede do campus III até a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Juazeiro – FFCLJ, em 1985.

No ano de 1997, a reforma das universidades estaduais provocou alterações tanto na estrutura administrativa quanto na nomenclatura das instituições que compunham a UNEB. A FAMESF seria agora DTCS e a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Juazeiro – FFCLJ seria DCH (Departamento de Ciências Humanas). Hoje o DTCS sedia os cursos de Engenharia Agronômica e Direito. O DCH, Comunicação Social / Jornalismo e Pedagogia, atraindo estudantes de diversas regiões para a cidade de Juazeiro.

A mudança de nomenclatura divide opiniões. Para seu Berto, não faz diferença, o que importa é ter a faculdade. Na opinião do professor José Humberto, ex-diretor do departamento, os estudantes graduados até a reforma se sentem incomodados com a falta da FAMESF. “Como conselheiro do CONSU sugerimos ao Reitor a apresentação de nossa proposta de incorporação oficial da sigla FAMESF, junto ao nome do Departamento de Tecnologia e Ciências Sociais – DTCS sem prejuízo nem confronto à legislação vigente. Esperamos que seja aprovada até o fim do ano, quando serão comemorados os 50 anos da FAMESF”, revela.

O atual diretor Ruy, conta que as pessoas comentam: “A FAMESF continua viva”. Sendo FAMESF ou DTCS, o fato é que os alunos gostam do curso e muita gente percebe o potencial da área na região. É o caso de Diego Albuquerque, 24 anos, que veio transferido para Juazeiro. “Aos 18 anos, decidi prestar vestibular para Agronomia por aptidão e pelo contato com a natureza, conta.

Assim, por diversos motivos sejam da cidade, da vizinhança ou de outros estados, homens e muitas mulheres – o que antes era presença rara nas cadeiras do curso, decidem enfrentar as aulas de cálculo, o trabalho de campo, uma rotina puxada de aulas, que envolve os dois turnos e seis dias da semana para ao final de cinco anos, conseguirem o diploma de Engenheiro(a) Agrônomo(a). A concretização Muitos daqueles sonhos idealizados no início da implantação da Famesf no Vale do São Francisco se concretizaram e outros surgem com o passar do tempo. Hoje, a faculdade de agronomia vem colhendo os frutos do trabalho e perserverança de jovens estudantes que mobilizaram pela vinda dessa faculdade, e de certo modo, pela sua permanência. O sonho com uma cidade mais desenvolvida, com mais investimentos, o futuro dos filhos, a vida com mais qualidade as possibilidades locais, as descobertas entre outros, continuam sendo objetivos a serem conquistados com a universidade na região.

A tradicional faculdade de agronomia de Juazeiro tem dado grandes passos para esse fim e tem se tornado excelência na área da engenharia agronômica, especialmente, no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável na região, o uso das tecnologias para melhor cultivo e relação do homem com o meio ambiente, além das possibilidades criadas para convivência com o semiárido.

Assim, a necessidade de se pensar nas futuras gerações, na preservação e valorização do homem e do meio são propostas também pensadas pelos estudantes do curso. Não se vislumbra apenas terminar o curso e ir trabalhar numa grande empresa, ser agronômo numa propriedade, mas querem fazer a diferença no mundo. “Observei uma carência de pessoas na região que queiram trabalhar com a proposta de convivência com semiárido, de agricultura familiar, de uma produção mais equilibrada... É essencial que as pessoas façam o curso e queiram realmente desenvolver a agricultura no país. Estamos há 500 anos utilizando nossos recursos naturais de maneira errada e hoje, nós vemos o reflexo desse uso indevido”, ressalta o estudante Diego.

Paralelo a essas mudanças de paradigmas, a instituição vem investindo na formação dos futuros engenheiros, priorizando a pesquisa entre as atividades acadêmicas que são bases para essa formação. Os investimentos em pesquisa buscam investigar e criar alternativas, soluções para problemas nas áreas agrárias. Além disso, o quadro de docentes do curso é formado por doutores e mestres que atuam como pesquisadores e contribuem para o crescimento da pesquisa no curso nos últimos anos.

O diretor do DTCS destaca a importância das parcerias que viabilizam a pesquisa, e a participação dos estudantes e professores nos programas isntitucionais que financiam os projetos por eles desenvolvidos, como o PIBIC/CNPq, PINCIN, FAPESB. São mais de 47 bolsas de pesquisas, sendo 30 de iniciação cientifica.

A valorização do profissional também é um ponto forte do curso, pois muitos egressos conquistam logo seu espaço. O êxito não é só no mercado de trabalho, mas também nas seleções de mestrado e doutorado, tanto aqui em Juazeiro, como também em Universidades de todo o Brasil. O professor José Humberto destaca que o melhor que o curso oferece é “a formação de um profissional com perfil adequado à nova realidade educacional”.

Diante de tantos avanços, a instituição foi mais uma vez pioneira e conseguiu implantar o primeiro curso de mestrado da região. O curso de Horticultura Irrigada que acontece desde de 2005, é um sinal que bons ventos virão e consigo novas possibilidades, novos olhares para o campo. Quatro turmas já ingressaram e a previsão é de que haja outros mestrados e também doutorado na área das ciencias agrárias.

Assim como em toda trajetória, impecilhos que desafiam a vontade de lutar e momentos dificéis acontecem. O principal deles neste casso, é a administração dos recursos. O atual diretor comenta que o curso necessita de uma estrutura complexa, máquinas, animais, campo e isso demanda orçamento. O professor José Humberto que também já foi gestor, aponta a incipiente dotação de recursos como principal dificuldade, mas reconhe a importância de ter exercido a função, “A gestão do DTCS me proporcionou um aprendizado imensurável da realidade da nossa Universidade, tanto em caráter administrativo como pessoal”, declara.

Prestes a completar 50 anos, o curso de Engenharia Agrônoma é uma realidade. Nas palavras de seu Berto “essa escola veio numa inspiração divina... nós viemos pra fazer alguma coisa pelos outros”, declara entusiasmado. São muitos os personagens envolvidos nesse enredo, que como um belo romance tem direito a lágrimas, paixão, obstáculos, alegrias e muitas conquistas.

Diversas comemorações estão previstas para comemorar o aniversário da instituição. Eventos, homenagens e o mais esperado I Encontro dos Ex-Alunos da FAMESF que deverá acontecer no dia 12 de dezembro deste ano. Momento para abraçar, aplaudir e perceber o quanto valeu a pena criar uma faculdade para aproveitar o potencial do rio São Francisco. O sonho de antes, transforma-se em realidade a cada dia, nas salas de aula, na pesquisa, na busca de melhorias, nos funcionários, em cada turma que se forma, no orgulho de cada um que construiu e constrói essa história. Por Lidmillie de Castro e Roviane Oliveira, estudantes do curso de Pós-Graduação em Ensino da Comunicação Social da UNEB, Campus III em Juazeiro. Fotografias: Livro Educação e Mémoria, organizado pelo prof. Josenilton Nunes Vieira.