Nós terminamos após quase 60 dias, entre março e junho de 2011, a Greve da Dignidade das Universidades Estaduais Baianas (UEBA)
Em primeiro lugar, eu insisto nesse título, porque nós fomos capazes de propor uma greve para dizer ao governo Wagner que os programas que ele nos oferece com remuneração extra não amenizam as nossas perdas salariais, nem substituem o nosso direito a uma carreira e salários dignos.
Os programas de formação continuada do governo (Parfor, Proesp e similares), por mais relevantes que sejam, tendo em vista a necessidade de ampliação dos indicadores de alfabetização e de qualificação docente(uma marca negativa do nosso estado) não devem nos silenciar em relação à clareza e à necessidade de programar questões contra o abandono e vencer demandas gritantes de qualidade no ensino superior na graduação e na pós-graduação em todas as universidades.
Nós paramos tudo e sabíamos desde então que os professores em formação através dos citados programas também são vitimas da falta de uma política para as Universidades, já que no final das contas, eles também precisam e são merecedores de laboratórios de línguas nos cursos de Licenciatura em letras, de laboratórios de artes visuais nos cursos de Licenciatura em Artes, de laboratórios de botânica nos cursos de licenciatura em Ciências Biológicas, etc. A falta de condições materiais de acesso ao conhecimento nos cursos regulares, inevitavelmente, tem impactos negativos nos cursos temporários ou especiais. Por isso, nós paramos tudo e paramos conscientes de que a dignidade pela qualidade e o respeito pelos professores, técnicos e alunos de qualquer tipo de curso é mais importante do que um ganho extra que, apesar de necessário em muito casos, às vezes custa caro à nossa dignidade e à sobrevivência acadêmica.
Em segundo lugar, eu insisto nesse titulo, porque fomos capazes de propor uma greve para dizer ao governo que nós merecemos mais respeito. Nós precisamos dizer a esse governo que não se pode tratar o ensino superior com respostas vazias, com mordaças, com decretos agressivos e, especialmente, negando e abandonando reuniões de negociação. Uma greve da dignidade é também a que não recua em função de uma estratégia mesquinha de corte de salários, posta em prática por pelo menos duas vezes nesse governo e, bravamente derrotada, de forma brilhante, pela categoria.
Em terceiro lugar, eu insisto nesse titulo, porque fomos capazes de nos indignar e romper com um projeto que aprendemos acreditar, que ajudamos a construir vencendo o medo, a perseguição, mas que, lamentavelmente, se voltou contra nós, contra o movimento sindical independente, sob a forma de “mordaças”, com a mesma ira que pertenceu aos governos de tradição não democrática. Nesse sentido, a greve da dignidade foi também uma greve política, porque aprendemos que fazer política não é apenas engessar sujeitos em cápsulas partidárias, mas fundamentalmente, ensiná-los a romper as cápsulas endurecidas dos partidos que tentam impor silêncios à juventude e às novas gerações. Foi também por isso que nós fizemos da dignidade a nossa bandeira mais importante. Sem dúvida, uma lição para que esse e os próximos governos nunca se esqueçam de que nós somos um coletivo de quase 4.000 docentes somados a um coletivo de quase 60.000 estudantes dignos e a um coletivo de milhares de pais e simpatizantes não menos dignos que, cada coletivo do seu modo, precisam e acreditam nas nossas universidades e que, por isso mesmo, todo governo que merece respeito e que se respeita precisa no mínimo conhecê-las, antes de projetar qualquer tipo de intervenção política, econômica ou administrativa em suas instâncias deliberativas.
Por fim, eu insisto nesse titulo, porque fomos capazes de entender que a bandeira da universidade pública de qualidade não pode ignorar como bandeira central uma permanência estudantil digna. A fixação do corpo docente é, nesse sentido, uma bandeira tão relevante quanto a fixação estudantil e, por isso, temos certeza de que a dignidade da luta que conquistamos nessa greve também levará essas bandeiras para toda a Bahia na certeza de que vamos conquistar uma educação superior em qualquer nível ou tipo com mais qualidade para os baianos, para o nordeste e para o país.
por Cosme Batista, professor de Lingüística Aplicada da UNEB e membro do Comando Unificado de Greve (2011) do Campus III-UNEB/Juazeiro-Ba.