Os vários eu’s de Pessoa

. 13 junho 2011
“Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento, assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade”. Era desta forma que Alberto Caeiro se referia a poesia “Assim como,” que opõe sensação e pensamento. O mundo de Caeiro é aquele que se percebe pelos sentidos, o mundo existe e, por isso, basta senti-lo, ver é compreender. “O resto é uma espécie de sono que temos, infância da doença”.

Tal como o poeta que afirmava que lhe "falham as palavras", também é difícil traduzir o autor Alberto Caeiro, ou o poeta do olhar como é conhecido, que procura ver as coisas como elas são, sem lhes atribuir significados ou sentimentos humanos. As coisas são assim como são vistas, não há nada que se acrescentar.
E o que dizer de Ricardo Reis, poeta das dores, da tristeza, da vida passageira, mas tem algo em comum a Caeiro. Ele gosta da natureza, da vida bucólica.
Para contrastar os dois, apresento-lhe Álvaro Campos, o poeta que melhor expressa as sensações dos movimentos, bem como o “sentir tudo de todas as maneiras”, admitindo o sentir e as sensações obtidas. Sensações são emoções que passamos em distintas ocasiões sejam boas ou ruins. Na literatura, o que lemos nos atinge, seja por ter vivido, seja por ter vontade de viver. A poesia não tem fim, não importa o dia em que ela foi escrita, não tem validade, a poesia nos emociona, nos faz viajar sem mesmo sair do lugar.
Você deve se perguntar a razão destes volteios e o nome desses autores que poucos conhecem. Sim, você pode não conhecê-los por um desses nomes. Mas todos eles nos servem para parabenizar o grande escritor Fernando Pessoa, que hoje completaria 123 anos. Todos eles remetem às “pessoas” que ele teve dentro de si: Alberto, Ricardo, Álvaro. Poetas que exprimiram a dor, a alegria, as emoções.
A poesia de Fernando Pessoa aborda temas como a descrença e o idealismo, a dor de pensar, a obsessão da clareza e a melancolia. O fingimento artístico não impede a sinceridade, apenas insinua o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou o que quer representar. Aplaudimos então esse escritor sem fingimento, nesta data querida e que com tantos “fingimentos” conseguiu nos cativar com sua arte de escrever. Como dizia Fernando Pessoa:


“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente”.





Por: Karine Nascimento


Foto divulgação