Da Revolta dos Alfaiates à força dos jornais impressos

. 25 novembro 2011

A trajetória dos impressos na Bahia começa bem antes da inauguração da tipografia, em 1811. Os impressos começam a circular por meio dos atos comunicativos, panfletos e bilhetes distribuídos pelos revolucionários da Revolta dos Alfaiates, em 1798.


Foi o que afirmou Florisvaldo Mattos, jornalista e ex editor-chefe do jornal “A Tarde”, na mesa redonda “200 anos de imprensa na Bahia”, durante a segunda edição do Encontro de Comunicação do Vale do São Francisco (Ecovale). O movimento de 1798, conhecido como Revolta dos Alfaiates ou Conjuração Baiana, antecede o surgimento da tipografia na Bahia e contou com a participação de um “grupo preponderante de classe minoritária”. O jornalista ressaltou a participação de escravos, artesãos e soldados no movimento popular. A consciência revolucionária da maioria formada por negros e mestiços se deu através dos discursos públicos e a circulação de bilhetes. Os panfletos distribuídos serviram como “instrumento de divulgação de ideias” e também para um “projeto de reforma social”. Essas ideias eram divulgadas por Luiz Gonzaga das Virgens e o jornalista Cipriano Barata, evidenciado pela apropriação do slogan utilizado na Revolução Francesa: igualdade, liberdade e fraternidade, descreveu Florisvaldo Matos, autor do livro “A Comunicação Social na Revolução dos Alfaiates”.

“Bicentenário de quê?”, questionou-se Luís Guilherme Tavares, jornalista, pesquisador da história da imprensa baiana e diretor de cultura da Associação Bahiana de imprensa (ABI). Foi a partir desse questionamento que o pesquisador abordou o início da tipografia e ressaltou a perspicácia de Manuel Antônio da Silva Serva, fundador do primeiro jornal na Bahia, em 1811, “Idade D’Ouro”, marco inicial do bicentenário. A tipografia da família Silva Serva exerceu ainda importante papel no cenário da imprensa, pois esteve ligada à grande maioria dos jornais publicados na Bahia.


Para falar da imprensa local, Marta Luz Sisson, jornalista, de ofício, fez questão de descrever situações presenciadas durante sua atuação na “Rádio Juazeiro”, que iniciou sua operação na década de 1950. A rádio Juazeiro utilizava o slogan “RJ Legal” até então por causa da sua ilegalidade jurídica, cujo registro legal foi conquistado na década de 1970. Marta Luz lembrou episódios “extraordinários”, como a morte de um amigo querido, e confessou que não soube dominar as emoções durante a transmissão radiofônica. “Eu errei”, diz, apontado para a questão técnica. Contudo, ela diz que o jornalista pode reinventar a vida e controlar a emoção faz parte disso. Ela lembrou ainda da programação da rádio e de programas como “Luz mulher”, para reivindicar direitos femininos, “E nós para onde vamos?”, programa de crônicas que valorizou a cultura local.



A mediadora da mesa-redonda, a professora Odomaria Bandeira menciona o fato de haver uma centralização do tema imprensa baiana sobre a cidade de Salvador e ressalta a importância em se pensar a trajetória da imprensa em Juazeiro no contexto de uma imprensa baiana e relaciona também a Petrolina-PE, devido a proximidade geográfica com a cidade pernambucana. Para mostrar a relevância da imprensa juazeirense, a professora coordena a “Exposição 200 anos de Imprensa na Bahia”, em que estão expostos os impressos que circularam em Juazeiro de 1985 a 2000, no Departamento de Ciências Humana (DCH), campus III da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e aberto à visitação.



A partir da exposição dos palestrantes, foi possível perceber a participação da imprensa nos movimentos sociais, nas lutas populares e em movimentos como independência do país e a implantação da República. Alguns desses comunicadores sociais tiveram participação e não podem ser apagados da memória do país, pois tipógrafos e jornalistas têm o desafio de “reinventar a vida”, como o jornalista Cipriano Barata que foi preso inúmeras vezes em diferentes ocasiões, participou da Conjuração Baiana, da Revolução Pernambucana de 1817, e fundou o seu próprio veículo de comunicação, o jornal “Sentinela da Liberdade na Guarita de Pernambuco”, em 1823.


Por: Luna Layse (texto)

Laércio Lima (foto)